domingo, janeiro 26, 2014

Largo do Seminário
HOJE É 
DOMINGO
 26/01/14

(Na minha cidade de Santarém)



A meio deste ano, a 28 de Julho, fazem 100 anos que teve início a 1º Grande Guerra Mundial. É uma efeméride que suscita comparações com os tempos que estamos vivendo e que, por isso, irá agora ser recordada.

Da II Grande Guerra, recordo as senhas de racionamento que pouco ou nada afectaram a minha família a não ser, talvez, o açúcar.

Quanto à I G.G. a reminiscência que tenho vai para o meu T’i Zé Menaia que participou nela como Cabo Maqueiro e que eu recordo da Concavada, aldeia dos meus avós, onde passava férias em rapaz.

Era um velho pachorrento, pró calado, um pouco “despercebido” das ideias ou porque já tivesse nascido assim ou em consequência da guerra, pelos gazes lançados pelos alemães, ou do impacto psicológico do espectáculo de mortos e feridos na sua qualidade de maqueiro.

Mas que era “despercebido” era. Notava-se mais quando jogava à sueca na taberna do Zé Palmeiro e para desespero do seu parceiro puxava da bisca para ir à procura do ás de trunfo.

Quando o adversário recolhia a jogada perante os protestos do parceiro, ele levava a mão ao boné, naquele gesto característico, levantava-o com o indicador e o polegar e coçava a cabeça com os restantes dedos como que perguntando-se:

 - Mas que raio é que eu fiz?...

O T’i  Zé Menaia… há quantos anos… é bom recordá-lo.

Espero que tenha morrido da mesma forma “despercebida” com que destrunfava com a bisca e o ás de trunfo ainda dentro… Tinha a minha simpatia… pouco falava, olhar perdido, reservado, tímido, de cabelos curtinhos mas brancos, baixote e gordinho, de quem a minha tia tomava conta.

Teria sido da guerra?... dos gazes?... Quem sabe?... Ele foi maqueiro… faço ideia o que ele não terá visto naquelas trincheiras!...

100 anos de uma guerra devastadora e é muito natural que os primeiros meses deste ano sejam comparados com os de um século atrás, não porque a Europa se esteja hoje a armar como então, mas porque há perigos visíveis pela maneira desastrosa com que está a ser tratada a crise do euro e das dívidas públicas.

As eleições europeias estão a fazer soar os alarmes. As sondagens estão a deixar indicações dramáticas.

Neste momento a Frente Nacional lidera as intenções de voto em França. O UKIP, partido da extrema-direita em Inglaterra, vai muito bem lançado. O Beppe Grillo, em Itália, continua acima dos 20% e os neo-nazis têm números aterradores na Grécia.

Por tudo isto, um novo Parlamento Europeu com um terço de deputados anti-europa é perfeitamente previsível.

Entretanto, a Escócia e a Catalunha vão avançar com referendos sobre a independência e Durão Barroso tem medo e razões para isso mas o seu discurso chega tarde.

Tem razão quando afirma que os egoísmos nacionais podem pôr em perigo o projecto europeu, não há dúvidas de que tem.


A indiferença pelo destino da Grécia, a fatalidade da austeridade extrema, os países do Sul entregues a si próprios perante a soberba dos do Norte… não é 1914 mas parece.

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