Almada Negreiros dizia que “um povo completo tem todas as qualidades e todos os defeitos.
- Coragem, portugueses, já só vos faltam as
qualidades!”
Esta imagem corresponde bastante ao que
pensamos de nós mesmos. Alimentamos, de resto, o gosto da auto-crítica, temos
prazer em dizer mal do nosso país e dos seus habitantes. Não há nada que mais
entusiasme um português que dizer mal do seu vizinho.
A auto-estima dos portugueses é baixa e
isso afecta-os na confiança, dificulta-lhes o futuro. Na verdade,
colectivamente, somos pró fracalhote por falta de uma tradição de bons exemplos
da parte das classes nobres, mandantes e poderosas deste país, desde sempre.
Educa-se pela palavra mas sem exemplo
adianta pouco… O trabalho como método de enriquecimento é fundamental em
substituição da “esperteza saloia” tão caracteristicamente nacional.
As energias e as vitalidades têm que ser
educadas ou, se qui serem,
encaminhadas por quem tem responsabilidades na condução do país aos mais variados
níveis, para servirem correctamente os interesses dos próprios e os da
comunidade em
reciprocidade. Casos isolados de coragem, confiança, espírito
vencedor são, isso mesmo, sucessos individuais que tanto jeito tem dado ao país
nestes últimos anos.
Mas senão cultivarmos valores de ética,
cidadania e de respeito pelo colectivo, a tendência irá noutro sentido e tornar-se-á
padrão na sociedade: o “chico espertismo”, a técnica do desenrascanço.
Não basta ficarmo-nos pelo que é legal.
Os maiores crimes contra os interesses do país cometeram-se em aparentes
legalidades e daí a dificuldade da justiça condenar os prevaricadores e, também
por isso, os processos se arrastam e raramente resultam em condenações em
conformidade com os delitos, muitas vezes multas ridículas.
A Justiça é a pedra basilar de uma
sociedade porque prevaricadores sempre os houve e há-de haver em todas as
sociedades e as pessoas sabem que é assim. A diferença de umas para outras está
na eficiência e celeridade com que a justiça actua.
Os cidadãos aguardam esses sinais e se
eles não aparecem sobra a descrença, o desalento e a sociedade, o colectivo,
começa a pensar mal de si próprio.
O Estado português conseguiu no ano
passado cobrar receitas mais de 35% superiores às do ano anterior, coisa nunca
atingida em nenhum outro país, autêntico recorde, sendo que, cobrança de impostos é,
efectivamente, uma das obrigações dos Estados, desde sempre.
Parece que pelo meio houve um perdão
fiscal… mas recordes são recordes.
Suponham agora que o mesmo Estado, que
foi 35% mais eficiente na cobrança de impostos, era também 35% mais eficiente
na aplicação da justiça?
Eu, como português, ter-me-ia sentido
muito orgulhoso por essa eficiência acrescida de 35%. Agora, na cobrança de
impostos, mesmo que em parte tenha a ver com aqueles que deviam pagar e não
pagavam, caloteiros que andavam fugidos, tresmalhados, mesmo assim só significa
que o Estado enlouqueceu em ir-nos aos bolsos.
Eu e os meus colegas reformados e
funcionário do Estado somos vítimas predilectas porque nem temos, sequer,
oportunidade de os pagar. É tudo descontado no recibo de pagamento, umas vezes
explicado, outras esquecido.
Mas não há surpresa. O ministro das
Finanças, o que se foi embora escrevendo uma carta em que reconhecia ter
falhado, ameaçou logo na entrada em funções, que íamos ser sujeitos a um enorme
aumento de impostos.
Vejamos um caso concreto, o meu. Em
2000, quando me reformei, foi-me atribuída uma pensão anual de 36.786.73. Reparem
que eu digo atribuída e não dada porque, se falamos em dar depois falamos em
tirar e daí a roubar é um pequeno passo como se demonstra nas manifestações.
Pois bem, fazendo fé na importância do
que me foi entregue neste 1ª mês de Janeiro e multiplicando por 12 meses, verifico que mais de 45% já lá vai… mas,
sabendo nós, que vamos descontar mais 1,5% para o sistema de Saúde começamos a
aproximarmo-nos da metade para eles, metade para mim..
Chegados aqui ,
uma pergunta se pode fazer:
-
O meu país alguma vez produziu riqueza que lhe permitisse pagar no futuro a
pensão que me foi atribuída no Ano 2000?
- Não terá sido tudo isto uma ficção, um
desejo de voar alto, o alimentar de um sonho bom com muita má gestão, demagogia
e alguma roubalheira à mistura?
Pessoalmente não me queixo. Seria
injusto para com tantos concidadãos meus, da minha geração, que também
trabalharam uma vida inteira para o Estado e sobrevivem com muito menos.
Para se queixar, de resto, temos o nosso
Presidente da República que trocou o seu ordenado pela reforma de 10.000 euros, que
lhe é superior, e em Janeiro de 2012 dizia no Porto numa entrevista:
-
“Tudo somado, quase de certeza que não vai chegar para
pagar as minhas despesas porque, como sabe, eu não recebo salário como PR.”
Com governos como estes, que
nos trouxeram aonde estamos e Presidentes “solidários” como Cavaco, os
portugueses, ordeiros, que não incendeiam carros nas ruas nem partem montras,
podem gabar-se de ser um povo maduro, uma verdadeira pátria a merecer o
respeito e a confiança dos credores.
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