(continuação)
O mesmo se aplica às proposições acerca do mundo, do cosmo, dos princípios morais e da natureza humana. E quando a criança crescer e tiver filhos seus, ele irá, muito provavelmente, transmitir-lhes tudo – quer o bom senso, quer o disparate – com toda a naturalidade, usando o mesmo ar grave e contagiante.
Os líderes religiosos estão conscientes da vulnerabilidade do cérebro da criança e da importância de esta ser doutrinada em tenra idade.
A expressão Jesuíta: “dai-me a criança nos seus primeiros sete anos e eu dar-vos-ei o homem” não é menos exacta, ou menos sinistra, por ser uma frase batida.
Já nos nossos dias, James Dobson, fundador do famigerado movimento «Focus on the Family» mostra que também conhece bem o princípio:
- “Aqueles que controlam o que é ensinado aos mais novos e aqui lo que eles experienciam – o que vêm, ouvem, pensam e crêem – irão determinar o rumo futuro da nação.”
Todas as crenças religiosas parecem esqui sitas aos olhos daqueles que não foram educados de acordo com os seus preceitos.
Nos Camarões, o cientista Boyer investigou o povo Fang que acredita…
… que as bruxas têm um órgão interno a mais, semelhante a um animal, que voa durante a noite e destrói as culturas das outras pessoas ou lhes envenena o sangue. Diz-se também, que por vezes estas bruxas se reúnem para grandes banquetes, nos quais devoram as vítimas e planeiam futuros ataques. Muitos nos dirão que um amigo de um amigo viu mesmo bruxas a sobrevoar a aldeia à noite, sentadas numa folha de bananeira e a atirar dardos mágicos, a várias vítimas inadvertidas.
Boyer acrescenta um episódio pessoal:
- Estava eu a falar desta e de outras ocorrências exóticas à mesa do jantar num colégio universitário em Cambridge, quando um dos nossos convidados, um proeminente teólogo de Cambridge, se virou para mim e disse: «É isso que torna a Antropologia tão fascinante e ao mesmo tempo tão difícil. É preciso explicar como as pessoas acreditam nesses disparates» … o que me deixou perplexo! … (Só vêm o agreiro no olho do vizinho).
Reparem bem:
a) Aquele teólogo acredita que o homem nasceu de uma virgem sem a intervenção de um pai biológico.
b) Esse mesmo homem sem pai voltou à vida depois de morto e enterrado há três dias.
c) Quarenta dias depois, o homem sem pai subiu ao cume de um monte e o seu corpo desapareceu no céu.
d) Esse mesmo homem, sem pai, bradou a um amigo, de seu nome Lázaro, que estava morto há tempo suficiente para cheirar mal, e Lázaro ressuscitou de imediato.
e) Se murmurarmos pensamentos na intimidade da nossa cabeça, o homem sem pai e o próprio «pai» (que é também ele próprio) ouvirá os nossos pensamentos e poderá agir em conformidade com eles. Ela consegue escutar os pensamentos de todas as outras pessoas no mundo ao mesmo tempo.
f) Se fizermos alguma coisa de mal ou de bem, esse homem sem pai vê tudo, ainda que mais ninguém o veja. Podemos ser recompensados ou castigados, conforme o caso, mesmo depois da nossa morte.
g) A mãe virgem do homem sem pai não chegou a morrer porque, por via da “assunção” acedeu directamente ao céu em corpo.
h) O pão e o vinho, quando consagrados por sacerdote (que tem de ter testículos) «transformam-se» no corpo e no sangue do homem sem pai.
O proeminente teólogo de Cambridge que de acordo com a sua fé, acredita em tudo isto confessava, no entanto, ao jantar, aos ouvidos do antropólogo Boyer, que era preciso explicar “como era possível as pessoas acreditarem em tais disparates”, a propósito das crenças nas bruxas do povo dos Camarões…
(continua)
Richard Dawkins
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