sexta-feira, janeiro 10, 2014

Panteão Nacional
Eusébio e o

Panteão Nacional



O Panteão Nacional é uma criação da República em 1910 com o objectivo de receber, como homenagem póstuma, os cidadãos que se tenham notabilizado de forma a contribuir para o engrandecimento da nação.

Quem está lá?

- Políticos, Ex-Presidentes da República, Escritores, Oficiais do Exército tais como: General Carmona, Manuel de Arriaga, Aquilino Ribeiro, João de Deus, Sidónio Pais, Humberto Delgado, etc… e muito recentemente Amália Rodrigues.

Agora que morreu Eusébio, logo alguém falou em levar o corpo também para o Panteão e de imediato também parece ter-se instalado a polémica…

Eu desconheço os critérios para seleccionar os portugueses que devem ser trasladados para o Panteão… Por exemplo, a nossa jovem Presidente da Assembleia da República, Assunção Esteves, reformada, que recebe 7.255 euros de pensão mensal por dez anos de trabalho como Juíza do Tribunal Constitucional, mais do que o seu ordenado de Presidente da Assembleia, apressou-se logo a dizer que isso era muito caro e o país estava em crise. Ora, temos logo aqui um critério… o do dinheiro que custa.

Deixemos pois os critérios que só baralham o assunto e vamos pela nossa sensibilidade, pela percepção de simples cidadãos, que vivemos neste país, que fazemos parte dele e que com ele sofremos e nos alegramos, infelizmente mais lágrimas que risos.

Vejamos a Amália, fadista, oriunda de um bairro de Lisboa que em menina vendia limões na rua, sem estudos, sem “família”, é um bom paralelo para o Eusébio, futebolista, também sem estudos, proveniente de um bairro dos subúrbios da então Lourenço Marques, em Moçambique, que chega a Lisboa aos 18 anos, ingénuo e puro e que é logo sequestrado para o Algarve, ao que parece, para não ser “roubado” pelo meu Sporting ficando a dúvida, que eu guardo para mim, de quem roubou quem, mas enfim, são “águas passadas”, dizem que o pai dele era do Benfica e ele também… mas eu sou do Sporting.

Os portugueses dispensam qualquer análise mais ou menos científica, profunda, isenta, imparcial, dos que gostam e não gostam de fado, dos que amam e dos que abominam o futebol, porque tanto a Amália como o Eusébio foram pessoas da nossa família, convivemos com elas e, acima de tudo, com quem nos emocionámos ao longo de quase uma vida.

Tenham pudor, não submetam nem um nem outro a análises ou apreciações feitas por especialistas, intelectuais, porque nenhum deles foi cientista ou escritor, doutor, arquitecto ou engenheiro, general ou político… Eles foram simples cidadãos, pessoas normais, uma que gostava muito de cantar e outra de jogar futebol mas com quem nos fomos identificando ao longo de anos.

Simplesmente, numa coisa e outra, elas foram geniais, mágicas. Para nós e para o mundo. Fizeram-nos chorar de alegria, de tristeza, de simples e sentida comoção, pasmar de admiração. Mexeram com os nossos sentimentos, os nossos afectos, como nenhuns outros e isto ao longo de uma vida.

Quando morreram foi aquele baque, aperto no coração, vazio na alma e lágrima no olho... e isto é que conta.

Estando fora das nossas vidas, no entanto, estavam dentro, entraram subrepticiamente ao longo do tempo, faziam parte de nós, passaram a ser nossos, e a sensação de perda comprova exactamente isso.

O mundo dos afectos foge ao racional, não é fácil explicá-lo e entender. Gostamos, porque sim... Na sua simplicidade e desprendimento, um e outro fizeram-se amar por um povo. É tão simples como isto. 

Por favor, ponham o Eusébio ao lado da Amália.

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