dos Sexos
Se existem conflitos entre pais e filhos quando ambos
dispõem de 50% dos genes, muito mais natural será que esses conflitos aconteçam
entre parceiros sexuais.
O que eles têm em comum é um investimento de 50% de
acções genéticas dos mesmos filhos e deste ponto de vista estão interessados no
bem-estar de metades diferentes dos mesmos filhos razão suficiente para
cooperarem na sua criação.
Mas supondo que a um dos pais é permitido investir
menos em cada filho do que o qui nhão
que lhe competia, isso representaria uma vantagem dado que ficaria com mais
recursos para investir em mais filhos de outros parceiros sexuais e, assim,
propagar mais os seus genes.
Teoricamente, aqui lo
que um “indivíduo” gostaria de fazer seria copular com o maior número de
membros do sexo oposto deixando o parceiro, em cada caso, criar os filhos
sozinho.
Em certas espécies há machos que o conseguem fazer mas
noutras são obrigados a partilhar o fardo de criar os filhos.
Mas, afinal, qual é a essência da masculinidade? O que
é que define uma fêmea?
Nos mamíferos vemos os sexos claramente definidos: a
existência de um pénis, a gestação dos filhos, a amamentação, certas
características cromossomáticas, etc., mas para muitos outros animais e plantas
estas diferenças valem tanto como o uso das calças para distinguir os homens
das mulheres.
Nas rãs, por exemplo, nenhum dos sexos tem um pénis.
Aqui lo que
em toda a natureza é comum na distinção entre o sexo masculino e feminino são
os “gâmetas” (células sexuais que na reprodução se fundem no momento da
fecundação) e que nos machos são muito mais pequenos e numerosos do que nas
fêmeas.
Mesmo nos seres humanos, em que o óvulo é microscópico,
ele é muito maior que o espermatozóide e como estes são muito pequenos um macho
pode permitir-se produzir muitos milhões deles por dia.
Isto significa, que o macho é capaz de produzir uma
grande quantidade de filhos num período muito curto de tempo utilizando fêmeas
diferentes.
Ela fica “envolvida” com cada embrião concedendo-lhe a
parte adequada de alimento e, portanto, a sua possibilidade de ter filhos fica
muito limitada enquanto que o macho, potencialmente, poderá ter um número de
filhos quase ilimitado e aqui começa
a “exploração” das fêmeas.
No princípio, a reprodução seria isogâmica, quando os
gâmetas eram morfologicamente iguais, mas a selecção natural foi,
progressivamente, favorecendo os indivíduos que produziam gâmetas mais pequenos
e rápidos capazes de procurarem activamente os maiores para se fundirem com
eles e terem, potencialmente, mais filhos.
E, desta forma, em termos de evolução, abriram-se duas
estratégias sexuais diferentes:
- A “estratégia honesta” que consistia num grande
investimento em gâmetas cada vez maiores para corresponderem ao interesse dos
mais pequenos e velozes, “a estratégia astuta”.
(continua)
Richard Dawkins
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