quinta-feira, fevereiro 06, 2014

A Guerra

dos Sexos


 Se existem conflitos entre pais e filhos quando ambos dispõem de 50% dos genes, muito mais natural será que esses conflitos aconteçam entre parceiros sexuais.

O que eles têm em comum é um investimento de 50% de acções genéticas dos mesmos filhos e deste ponto de vista estão interessados no bem-estar de metades diferentes dos mesmos filhos razão suficiente para cooperarem na sua criação.

Mas supondo que a um dos pais é permitido investir menos em cada filho do que o quinhão que lhe competia, isso representaria uma vantagem dado que ficaria com mais recursos para investir em mais filhos de outros parceiros sexuais e, assim, propagar mais os seus genes.

Teoricamente, aquilo que um “indivíduo” gostaria de fazer seria copular com o maior número de membros do sexo oposto deixando o parceiro, em cada caso, criar os filhos sozinho.

Em certas espécies há machos que o conseguem fazer mas noutras são obrigados a partilhar o fardo de criar os filhos.

Mas, afinal, qual é a essência da masculinidade? O que é que define uma fêmea?

Nos mamíferos vemos os sexos claramente definidos: a existência de um pénis, a gestação dos filhos, a amamentação, certas características cromossomáticas, etc., mas para muitos outros animais e plantas estas diferenças valem tanto como o uso das calças para distinguir os homens das mulheres.

Nas rãs, por exemplo, nenhum dos sexos tem um pénis.

Aquilo que em toda a natureza é comum na distinção entre o sexo masculino e feminino são os “gâmetas” (células sexuais que na reprodução se fundem no momento da fecundação) e que nos machos são muito mais pequenos e numerosos do que nas fêmeas.

Mesmo nos seres humanos, em que o óvulo é microscópico, ele é muito maior que o espermatozóide e como estes são muito pequenos um macho pode permitir-se produzir muitos milhões deles por dia.

Isto significa, que o macho é capaz de produzir uma grande quantidade de filhos num período muito curto de tempo utilizando fêmeas diferentes.

Ela fica “envolvida” com cada embrião concedendo-lhe a parte adequada de alimento e, portanto, a sua possibilidade de ter filhos fica muito limitada enquanto que o macho, potencialmente, poderá ter um número de filhos quase ilimitado e aqui começa a “exploração” das fêmeas.

No princípio, a reprodução seria isogâmica, quando os gâmetas eram morfologicamente iguais, mas a selecção natural foi, progressivamente, favorecendo os indivíduos que produziam gâmetas mais pequenos e rápidos capazes de procurarem activamente os maiores para se fundirem com eles e terem, potencialmente, mais filhos.

E, desta forma, em termos de evolução, abriram-se duas estratégias sexuais diferentes:

- A “estratégia honesta” que consistia num grande investimento em gâmetas cada vez maiores para corresponderem ao interesse dos mais pequenos e velozes, “a estratégia astuta”.

(continua)
Richard Dawkins


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