Divina
(continuação)
A concepção providencial apresenta
sempre a história como um processo linear governado por Deus: de uma fonte para
um destino pré-determinado de antemão pela Divina Providência, a partir de uma
situação negativa, causada pelo pecado original, para a salvação final que só
se alcança no “além”.
Para o providencialismo, nada do que
acontece é da exclusiva responsabilidade da vontade humana sobre a qual
prevalece a vontade de Deus, que desenha o destino dos homens, das nações e do
mundo inteiro.
A
doutrina da "predestinação", também desenvolvida por Agostinho e
séculos mais tarde defendida por Lutero e Calvino, é uma expressão radical do
providencialismo.
Naturalmente, estas ideias deitam por
terra o sentido da liberdade humana.
O Terreno Fértil da Renúncia
O cientista político nicaraguense Andrés
Pérez Baltodano, reflectiu ampla e criticamente sobre o Providencial, e suas
consequências políticas.
Atribui à concepção providencial religiosa a demissão
que caracteriza a cultura política na Nicarágua e em maior ou menor grau, na
maioria dos países latino-americanos Esta cultura ele a caracteriza como de
“pragmatismo resignado”. Algumas das suas ideias:
-
O "pragmatismo resignado" é um termo que eu uso para explicar a nossa
visão da história e do nosso papel na história. O "pragmatismo resignado"
é um pensamento, uma cultura que nos empurra para nos adaptarmos à realidade e
aceitá-la como ela é.
O
pensamento pragmático resignado não tem vontade de mudança. Com ele, não
podemos escandalizar-mo-nos com a realidade e partir para a sua transformação…Com
esse pensamento temo-nos habituados a níveis brutais de pobreza sofrida pelos
nossos concidadãos e à impunidade e corrupção de nossos governantes.
E de onde vem o pragmatismo resignado,
essa cultura, essa maneira de pensar sobre o poder e a história? Eu acho que o
pragmatismo resignado tem suas raízes principais na concepção providencial que
dominou a nossa cultura religiosa.
O Providencialismo é uma visão da história
que nos leva a acreditar que Deus é que dispõe sobre a vida de cada um de nós.
É uma maneira de ver a vida em
que Deus é o responsável pelo que acontece com meu tio,
comigo, com a sociedade da Nicarágua, do Iraque e do resto do mundo. Nesta
visão de história, marcada por um Deus providencial, é ele e não nós, que é o
regulador, administrador e auditor de tudo que acontece na história.
Alguns teólogos distinguem entre o que é
"providencial meticuloso" e " providencial em geral” e afirmam
que em algumas sociedades prevalece o meticuloso e em outras transformaram o
meticuloso em
geral.
Como é que sabe qual a vontade de Deus?
Providencialismo é hoje activamente divulgado pelo
catolicismo oficial, nos seus meios de comunicação nos sermões e na devoção à
“Divina Providência”. Um dos porta-vozes mais populares da igreja católica,
Madre Angélica, diz, por exemplo: Muitas pessoas fazem a pergunta:
- Como faço
para saber qual é a vontade de Deus para mim?
- A resposta é
simples: - Se isso acontecer, é a vontade de Deus.
Não é relevante
se Deus ordena ou se Deus o permite porque nada acontece connosco se Ele não o
tiver visto antes, tendo em conta o bem que nos virá a partir dele e esperando
a sua aprovação.
A submissão à vontade de Deus que vem de ideias como
estas também tem muito a ver com o poder institucional da Igreja. Muitos dos
"porta-vozes" das igrejas respondem que a vontade de Deus está
expressa nas palavras dos padres e pastores que interpretam a Bíblia e na
tradição...
Assim, obedecer à vontade de Deus não é mais que obedecer à vontade
do homem, e naturalmente das hierarqui as
que dizem representar.
Tudo é mais fácil mas não necessariamente mais fácil,
porque também é verdade “o medo da liberdade”. Superado esse medo, temos de
assumir a responsabilidade pelas nossas vidas e na história.
Crescemos e
amadurecemos como adultos.
Lembremos a oração do químico alemão Otto Hahn,
Nobel de Química em 1994, que dizia:
- Que Deus me dê força para não confiar
cegamente nem mesmo Nele.
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