É um dos nichos do poder mundial sem testes de legitimidade... |
Espiral de náusea
por VIRIATO SOROMENHO MARQUES
por VIRIATO SOROMENHO MARQUES
A Goldman Sachs aparenta ser um banco, mas o seu
currículo mais parece um cadastro, devido às suas ligações com
uma
interminável série de irregularidades, que vão das bolhas imobiliárias e
financeiras, à manipulação de mercados, à corrupção de governos, incluindo a
maquilhagem das contas públicas gregas, que inaugurou a actual crise europeia.
A
Goldman Sachs é um dos nichos de um poder mundial não eleito, não submetido a
constrangimentos constitucionais, não obrigado a testes de legitimidade.
Um poder fáctico, sem lealdade de pátria, religião ou
doutrina. Escassas centenas de homens que gerem em rede dinheiro e influência.
Um dos instrumentos da sua estratégia consiste em cativar pessoas brilhantes do
mundo académico, projectando-as depois em altos lugares políticos de países e/ou
organizações internacionais.
Paulson, Draghi, Monti, Issing, ou o falecido
António Borges estão nessa lista. José Luís Arnaut (JLA), figura influente do PSD, foi
nomeado para o Conselho Consultivo Internacional da Goldman
Sachs.
Ao contrário das figuras citadas, a JLA não se lhe
conhece uma única ideia própria, mas sabe-se que o seu escritório de advocacia
tem sido fundamental no "apoio" ao Governo em matéria de privatizações.
A
Goldman Sachs espreita, ávida, sempre que um país é obrigado a vender os seus
anéis. José Luís Arnaut é, portanto, um hábil perito em transformar propriedade
pública em salvados. Merecedor da gratidão pública da Goldman
Sachs.
Milhões de portugueses e europeus labutam,
preocupados com o (des)emprego e o desamparo da crise.
Lutam por uma democracia que não retire os seus
filhos do mapa do futuro. Mas há quem faça carreira e lucro à custa do
sofrimento geral. A espiral recessiva parece ter sido travada. Mas a espiral da
náusea moral, essa, está ainda muito longe de ter batido no
fundo.
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