(Escritora portuguesa)
Lídia Jorge, autora da Costa dos
Murmúrios, romance que retrata uma fase da vida de muitos portugueses que
estiveram em África e combateram na guerra colonial como oficiais do exército
acompanhados das esposas, jovens senhoras expostas a uma realidade distorcida
como era distorcido tudo o que então se passava nas colónias portuguesas.
A propósito do lançamento de um novo
livro, Os Memoráveis, em que ela procura recuperar o 25 de Abril, agora que
sobre ele vão passar 40 anos, afastados que estamos das suas esperanças e dos
seus ideais, Lídia Jorge deu uma entrevista à Revista Visão.
Nessa entrevista, ela recorda que no dia
25 de Abril de 1974 estava na cidade da Beira, em Moçambique, vivendo no meio
militar.
Alguns anos mais velho que ela, nessa
data, eu já trabalhava como funcionário público, também na cidade da Beira para
onde tinha ido a meu pedido, por motivos familiares.
Acredito que tenhamos sabido, nessa
manhã, da notícia do 25 de Abril com minutos de diferença e nada me diz que ela
não se tivesse deslocado à Praça do Município para comemorar com outros
democratas contrários à política do governo Salazar/Marcelo Caetano dando vivas
à liberdade e à revolução.
A minha alegria, nesse dia, nessa manhã,
era uma alegria interior que tinha a ver com anseios, com sentido de justiça,
com a liberdade e a dignidade a que todas as pessoas e todos os povos tinham
legítimo direito e que eu sempre senti dentro de mim.
Era uma alegria, estou certo, em tudo
igual àquela que sentia Lídia Jorge nesses momentos já velhos de tantos anos
mas eu estaria mais apreensivo, calculo.
Trabalhando directamente com a
comunidade portuguesa, alguma dela ali radicada há muito tempo, temi por ela e
mesmo sendo um homem de esperança, subestimei o risco porque iriam passar.
O 25 de Abril, em Moçambique, não
obstante a afirmada linha política da Frelimo distinguir entre portugueses e
colonialistas, na prática a confusão ia-se estabelecer.
No fundo, naquela manhã de 25 de Abril
do ano de 1974, Portugal e Moçambique preparavam-se, por força de um passado
criminoso que deixou os portugueses laborarem em erros terríveis como o de
pensarem que ali era a terra deles, uma Província de Portugal, seguir caminhos
diferentes, não de uma separação amigável mas de um divórcio litigioso em que
amigos meus pegaram em armas para combaterem o exército da Frelimo, já governo
de Moçambique, ao lado dos soldados da vizinha Rodésia do Norte.
Lídia Jorge pensava, com o seu sentido
de justiça, no desejo das populações moçambicanas serem autónomas mas, como ela
reconhece nessa entrevista, o futuro tinha sido morto por muitos anos porque o
futuro prepara-se e o regime de Salazar/Caetano, na tentativa de sobreviver,
matou o futuro das gerações que lhes seguiram aqui ,
em Moçambique e em Angola.
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