sábado, março 08, 2014

Lídia Jorge
(Escritora portuguesa)





Lídia Jorge, autora da Costa dos Murmúrios, romance que retrata uma fase da vida de muitos portugueses que estiveram em África e combateram na guerra colonial como oficiais do exército acompanhados das esposas, jovens senhoras expostas a uma realidade distorcida como era distorcido tudo o que então se passava nas colónias portuguesas.

A propósito do lançamento de um novo livro, Os Memoráveis, em que ela procura recuperar o 25 de Abril, agora que sobre ele vão passar 40 anos, afastados que estamos das suas esperanças e dos seus ideais, Lídia Jorge deu uma entrevista à Revista Visão.

Nessa entrevista, ela recorda que no dia 25 de Abril de 1974 estava na cidade da Beira, em Moçambique, vivendo no meio militar.

Alguns anos mais velho que ela, nessa data, eu já trabalhava como funcionário público, também na cidade da Beira para onde tinha ido a meu pedido, por motivos familiares.

Acredito que tenhamos sabido, nessa manhã, da notícia do 25 de Abril com minutos de diferença e nada me diz que ela não se tivesse deslocado à Praça do Município para comemorar com outros democratas contrários à política do governo Salazar/Marcelo Caetano dando vivas à liberdade e à revolução.

A minha alegria, nesse dia, nessa manhã, era uma alegria interior que tinha a ver com anseios, com sentido de justiça, com a liberdade e a dignidade a que todas as pessoas e todos os povos tinham legítimo direito e que eu sempre senti dentro de mim.

Era uma alegria, estou certo, em tudo igual àquela que sentia Lídia Jorge nesses momentos já velhos de tantos anos mas eu estaria mais apreensivo, calculo.

Trabalhando directamente com a comunidade portuguesa, alguma dela ali radicada há muito tempo, temi por ela e mesmo sendo um homem de esperança, subestimei o risco porque iriam passar.

O 25 de Abril, em Moçambique, não obstante a afirmada linha política da Frelimo distinguir entre portugueses e colonialistas, na prática a confusão ia-se estabelecer.

No fundo, naquela manhã de 25 de Abril do ano de 1974, Portugal e Moçambique preparavam-se, por força de um passado criminoso que deixou os portugueses laborarem em erros terríveis como o de pensarem que ali era a terra deles, uma Província de Portugal, seguir caminhos diferentes, não de uma separação amigável mas de um divórcio litigioso em que amigos meus pegaram em armas para combaterem o exército da Frelimo, já governo de Moçambique, ao lado dos soldados da vizinha Rodésia do Norte.

Lídia Jorge pensava, com o seu sentido de justiça, no desejo das populações moçambicanas serem autónomas mas, como ela reconhece nessa entrevista, o futuro tinha sido morto por muitos anos porque o futuro prepara-se e o regime de Salazar/Caetano, na tentativa de sobreviver, matou o futuro das gerações que lhes seguiram aqui, em Moçambique e em Angola.

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