Nu (A origem do mundo) de Gustav Courbet |
Mentes
Pornográficas
A fotografia que acompanha este texto, um nu feminino,
é a reprodução de um Quadro de Gustav Courbet que está exposto no Museu D’Orsay,
em Paris, com o título a “Origem do Mundo” e foi colocado como capa num livro
posto à venda na cidade de Braga.
Gustav Courbet (1819-1877) foi um pintor anarquista
francês pertencente à escola realista. Pintou principalmente paisagens
campestres e marítimas preocupando-se em colocar nas suas pinturas a realidade fruto
de uma observação directa.
Como resultado de “queixas de pornografia”
apresentadas por vários cidadãos, a PSP mandou apreender os livros e o que
apetece dizer é que estas “queixas de pornografia”, por uma razão destas só
pode ter origem em mentes, elas sim, pornográficas.
Mas é evidente, que a estranheza não tem a ver com
estas mentes, cada vez em menor número mas sempre existirão, o que admira,
espanta e quase não se acredita, é que a PSP tenha agido em função dessas
queixas.
Se o autor da ordem de apreensão dos livros tinha
alguma dúvida sobre o que é pornografia bastava consultar um dicionário de
português, que deveria existir em todas as Esquadras da Polícia, procurar a
palavra “pornografia” e ficaria a saber que esta é: “Arte ou literatura que tem
por assunto actos obscenos, devassidão”.
Obviamente, a fotografia da pintura de uma mulher nua,
não é, nem pode ser, um acto obsceno e não tem nada a ver com devassidão. Teria
sido, portanto, muito fácil à PSP não dar seguimento à queixa apresentada por
alguns cidadãos possuidores de mentes pornográficas, simplesmente com base no
Dicionário de Português da Porto Editora.
Mas é evidente que esta questão é muito mais profunda e no essencial está longe de ter alguma coisa a ver com o desconhecimento do significado da língua portuguesa.
O que dói nesta notícia é verificar que as Autoridades
neste país: PSP, Juízes, etc., continuam a reverenciar e a obedecer, sem
hesitações, à mentalidade beata de uma Igreja atrasada que dita as suas leis na
nossa herança cultural/religiosa.
Mas por quê este horror ao “nu”, ao “feminino” e ao
sexo, por parte da Igreja?
- Porque a
Igreja abomina o prazer, a felicidade natural transmitida pelo sexo, mesmo
sabendo que ela constitui um mecanismo da natureza para assegurar a propagação
da vida.
Prazer é pecado e o homem está condenado ao sofrimento
porque é muito menos que o seu Deus feito homem que morreu por nós sofrendo
numa cruz.
A Igreja precisa de homens que aprendam a ser felizes
mas no seu seio, em oração, na sua dependência, na disciplina da sua Hierarquia,
e não na liberdade do seu pensamento e de acordo com a sua natureza biológica.
Este é o âmago da questão: sem pecado, medo,
sofrimento, oração, arrependimento, penitência e recompensas ou castigos no
outro mundo…não há religiões e o que seria deste mundo sem “pastores” e
“rebanhos”?
Quem leu a história da Tieta, de Jorge Amado, não se
compadecerá do filho mais velho da irmã Perpétua, o Ricardo, que com 17 anos
anda no seminário a estudar para padre por vontade da mãe que já nasceu com
vocação para beata?
Um jovem, cheio de saúde, na força da idade que reza Padres-Nossos
enquanto espalha creme nas costas da tia como única forma de não pecar por maus
pensamentos!
Perdoem-me o aproveitamento, mas isto não tem algo de
“diabólico”?
Aquilo que a Igreja Católica faz aos jovens que entram
para os Seminários em tenras idades é castrá-los mentalmente o que é pior que a
castração física por não interromper os seus fluxos de hormonais.
Mulher nua na capa de um livro exposto na montra de
uma livraria na cidade dos Arcebispos não é um atentado ao pudor, à moral da
Igreja, é sim, um desafio ao seu poder
e por isso, o outro poder, aquele que lhe é servil, corre pressuroso a retirar
os livros das montras e a mandar cortar as imagens de mulheres nuas no
computador Magalhães pelas festas do Carnaval de Alcobaça, também a pedido de
“mentes pornográficas” daquela cidade e sempre em obediência ao poder da Igreja
mesmo que, aparentemente, ele pareça já não existir.
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