No ponte de comando, apoiado no seu canhão.... |
OS VELHOS
MARINHEIROS
Episódio Nº 45
Em seu cavalo pampa, a fulgente espada na mão, os olhos ferozes, o Major Vasco Moscoso de Aragão era a própria imagem da guerra e da vitória.
Rápida seria sua carreira nos campos de
batalha, de heroísmo a heroísmo, de promoção a promoção, chegando a general em
alguns meses e várias batalhas, morrendo glorioso no fim da guerra, ao entrar em Buenos Aires em meio
ao fogo e à metralha, a bala perdida atingindo-o no peito.
Nem assim caía do seu cavalo pampa,
debruçava-se na sela, o peito roto, mas a vontade inflexível levando-o até o
Palácio do Governo. Seu nome transformado em legenda, aprendido pelas crianças
nas escolas.
Mas, como aquela guerra travava-se nos
campos e nos mares, sobretudo nos mares, o navio sob o comando do Almirante
Vasco Moscoso de Aragão, o mais jovem da Marinha de Guerra (começara
capitão-de-corveta ao iniciar-se o conflito bélico), rompia a barreira da Frota
Argentina e sozinho bombardeava Buenos Aires, silenciava os fortes da cidade
inimiga, entrava no porto a bordo de seu cruzador com a bandeira da jovem
República Brasileira a tremular
Na ponte de comando, apoiado a um
canhão, o almirante dava ordens: “Cada um em seu posto para morrer pelo
Brasil!”
Frase um pouco pessimista. Era melhor
modificá-la: “Cada um em seu posto, pronto para dar a vida pela vitória do
Brasil!” Assim estava melhor, mais vibrante.
Tomava do binóculo, examinava as
posições argentinas. Sua voz firme ordenava: “Fogo!” e os canhões cuspiam a
morte na orgulhosa cidade.
Botava a pique, um a um, em manobras
rápidas e jamais vistas de tão intrépidas, os buquês portenhos. Destruía os
fortes, rasgava as defesas e, entre a fumaça e o clarão dos incêndios, na torre
do seu navio entrava no porto conqui stado,
pondo fim à guerra, o Comandante Vasco Moscoso de Aragão.
A mulher movimentava-se na cama, abria
os olhos sonolentos, reconhecia o quarto e o leito, tivera a sorte de ser
escolhida na noite anterior, precisava agradá-lo, talvez até ele se enrabichasse.
Estendia os braços, a voz mole de sono e de dengue:
- Seu Aragãozinho . ..
Rompia e despedaçava o sonho, que é a
liberdade do homem, a que jamais pode ser domada, oprimida ou roubada, aquela
que é seu último e definitivo bem. Arrancava o Comandante Vasco Moscoso de
Aragão da torre do seu navio.
Onde volta a aparecer a besta do
narrador tentando impingir-nos um livro
Permitam-me interromper a narrativa das
aventuras do comandante, na versão de Chico Pacheco, destinada a tão graves
consequências em Periperi, para afirmar solenemente, plantado na viva
experiência, não ser nenhuma brincadeira essa questão de títulos e patentes.
Ainda hoje, quando os tempos mudaram,
uma coisa é um doutor ou um oficial, outra, muito diferente, é um infeliz sem
diploma.
Para os primeiros, todos os privilégios e regalias, para os demais a
dura lei. Até direito a prisão especial possuem os diplomados, sem falar nos
oficiais, presos no cassino do quartel, mera formalidade.
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