Conseguiremos... Conseguiremos... Só que lhe vai custar uns cobres... |
OS VELHOS
MARINHEIROS
Episódio Nº 62
- Não sou militar nem político, onde vou
conseguir?
- Conseguiremos... Conseguiremos... Só
que vai lhe custar uns cobres... mas vale a pena.
Jerónimo encarregou-se das negociações
com o cônsul português, dono de uma pastelaria na Praça Municipal, para assim
fazer-lhe sentir o interesse do governo naquela honraria ao Comandante Vasco
Moscoso de Aragão.
- Mas não é o Aragaozinho, da firma
Moscoso & Cia., do velho José Moscoso, ao pé da Ladeira da Montanha?
- Pois é o mesmo, sim, senhor. Somente
agora ele é comandante da Marinha Mercante...
- Não sabia que houvesse embarcado...
- Não embarcou mas fez o concurso
exigido por lei.
- Pois conheci-lhe muito o avô, um
português às direitas, um homem de bem. E por que Sua Augusta Majestade lhe
condecorará o neto?,
Jerónimo bateu a cinza do charuto,
espichou o olho cínico:
- Pelos seus relevantes feitos
marítimos...
- Marítimos? Que eu saiba... Se nem embarcou...
- Ora, seu Fernandes, o homem paga, Sua
Augusta e Arruinada Majestade condecorará o nosso bom Aragãozinho por uns ricos
contos de réis...
E se outro pretexto não tivesse, lembre-se
que ele se chama Vasco, é comandante, neto de portugueses, quase parente do
Almirante Vasco da Gama...
Que diabo você ainda quer discutir?
Invente os motivos, arranje a comenda, e depressa...
Assim, selou-se definitivamente a glória
do Comandante Vasco Moscoso de Aragão quando, após alguns meses e cinco contos
pagos adiantados, Sua Majestade D. Carlos I, Rei de Portugal e Algarves,
outorgou-lhe o grau de Cavaleiro da Ordem de Cristo, antiga de 700 anos, vinda
da época das Cruzadas, por sua “notável contribuição à abertura de novas rotas
marítimas”.
Com medalha e colar, coisa de ver-se. A
cerimónia foi simples e íntima, porém noticiada nos jornais e regiamente
comemorada depois, com ginja e vinho português como mandava o protocolo.
Titulado, fardado, condecorado, não mais
apareceu Vasco Moscoso de Aragão de crista caída ante o capitão dos portos. Sua
alegria era total e esfuziante, jamais andara alguém tão feliz nas ruas da
velha cidade da Bahia.
Dedicava agora grande parte de seu tempo
a buscar nas casas de bricabraque (aliás existiam apenas duas em Salvador) objectos
“marítimos, instrumentos de bordo. Pagava-os a qualquer preço.
Foi assim iniciando sua colecção de
mapas, gravuras de barcos, sextantes, bússolas, relógios antigos. De uma viagem
ao Rio, o Comandante Georges trouxe-lhe alguns instrumentos, de presente.
Enriqueceu-se de muito seu museu
marítimo quando nas costas da Bahia, próximo à capital, naufragou um barco
inglês. Foram os objectos a leilão, em hasta pública, e o maior lançador foi o
Comandante Vasco Moscoso de Aragão.
Arrematou a roda do leme, uma preciosa
luneta, cronómetros, agulhas magnéticas, anemómetros, higrómetros, o cronógrafo
de bordo, uma escada de cordas, sem falar em duas caixas de uísque para
oferecer aos amigos.
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