segunda-feira, abril 28, 2014





   Jô Soares no Motel...






Quando me casei pela primeira vez, há uns bons 25 anos, minha primeira mulher me achava um “tesão”.

Descasei depois de 21 anos e me juntei com outra mulher e essa já me achava um “pesão”!

Daí estive reflectindo e há certas coisas que me incomodam...

Algumas ocasiões são realmente muito desagradáveis na vida de um gordo.

Ir a um motel, com toda certeza, é uma delas. Tudo em um motel parece que foi projectado minuciosamente para sacanear com a cara dos obesos.

Reparem só. Na grande maioria desses estabelecimentos é preciso subir uma escadaria para chegar ao quarto. Isso não se faz. Ou o gordo trepa ou sobe escada. As duas coisas no mesmo dia são impraticáveis. O gordo chega tão esgotado no quarto que parece até que já deu duas no caminho.

A parceira, então, propõe uma hidromassagem para relaxar. O que, na verdade, quer dizer:

- Por que você não vai tomar banho, seu gordo sebento?

Já na banheira, o gordo percebe que nem a água quer ficar com ele. Metade cai fora, preferindo manter uma relação mais íntima com o chão do banheiro. Dá um friozinho na barriga. Até porque parte da barriga, como um iceberg, fica pra fora da espuma.
Mas é na saída do banho que a situação fica ainda mais ridícula...

Chega o fatídico momento de colocar o roupão. É triste. Com algum esforço, o cinto até fecha, mas o roupão nunca. Fica aquele decote tipo Luma de Oliveira, que dá pra ver até o umbigo.

Só que no lugar da Luma está o Jô, saca?! É constrangedor.
Quando o gordo finalmente chega no quarto, a situação consegue ficar ainda pior.
Se um elefante incomoda muita gente, dez elefantes de roupão reflectidos nos espelhos incomodam muito mais.

- Para quê tanto espelho?

Se o próprio gordo já fica mal, imagina a parceira cercada pela manada?

Se eu fosse ela, não dava mais de comer aos animais.

Mas de todos os espelhos o mais cruel, sem dúvida, é o do teto. A vista é estarrecedora. Dá até para entender por que a maioria das mulheres transa com os olhos fechados.

Acho que a única utilidade de tantos espelhos é prá conseguir ver o pinto, que a barriga não deixa a gente ver há muitos anos. Já faço até xixi no piloto automático.

Eu, como sou um gordo experiente, uso uma táctica infalível - ligo o ar condicionado no máximo para forçar o uso do lençol.

Afinal, o que os olhos não vêm...

Jô Soares

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