Largo do Seminário |
HOJE É
DOMINGO
(Na minha cidade de Santarém em 6 de Abril de 2014)
“Nós, os latinos...” dizia o chuleco, morenaço,
com um sorriso matreiro, batendo no chão com a ponta do sapato naquela atitude de
gingão característica dos rufias engatatões...
E de que se gabava ele? – Do poder de
sedução e masculinidade do homem português sobre as loiras nórdicas que
procuravam em Portugal o calor do sol, as areias quentes das praias algarvias
e, claro, o conhecido e divulgado produto turístico do macho latino português.
Era assim nas décadas de setenta e
oitenta, agora, com a crise e os novos tempos até mesmo a volúpia desse
refinado produto se terá perdido.
Cada país vende o que tem, exporta o que
é apreciado e se os homens nórdicos não se interessavam pelas suas mulheres cá
estavam os nossos “machos latinos” cheios de testosterona prontos a vender os
seus atributos.
Enfim, cada um vendia o que tinha...
Entretanto, os nórdicos, constituíam-se
em exemplos de bem viver que cobria quase tudo, da felicidade, à igualdade
entre os sexos, dos gigantes do sector da distribuição da Suécia, das riquezas
petrolíferas da Noruega, das escolas na Finlândia etc...
Enfim, falar elogiosamente das
maravilhas dos povos escandinavos era o que estava na moda.
Agora, cansados de tanto elogio sobre o
milagre escandinavo, começa a surgir outra verdade que tem a ver com o
desemprego juvenil, pobreza crescente, alcoolismo e xenofobia e pergunta-se se
serão as sociedades nórdicas exemplos a seguir.
Quem questiona estes mitos é o jornal
The Guardian pela escrita do seu articulista Michael Booth, casado com uma
dinamarquesa e vivendo intermitentemente na Dinamarca.
Os dinamarqueses são os reis da dívida
privada, recorde mundial, quatro vezes mais que os italianos, alicerçados em
níveis elevados de confiança e de coesão social e nas consideráveis receitas da
sua indústria suinícola, à volta de 22 milhões de porcos em criação intensiva
de que resulta a maior pegada ecológica já denunciada pelo Fundo Mundial para a
Natureza, a quarta maior por habitante a nível mundial ou seja, polui mais que
os EUA.
Os dinamarqueses pagam os impostos mais
elevados do mundo mas os seus rendimentos estão em sexto lugar o que explica o
endividamento das famílias.
Mas há mais: o Estado policial não está
muito longe quando se sabe que os polícias dinamarqueses se recusam a mostrar a
sua identificação e a dizerem o seu nome.
Por outro lado, dão mostras de um
nacionalismo exacerbado e à menor provocação agitam a sua bandeira vermelha e
branca.
Na Noruega, todos apreciaram a reacção
digna e determinada após o atentado cometido em 2011 mas, em Setembro, o
Partido do Progresso da direita, hostil ao Irão, de que Breivik foi membro
activo durante muitos anos, obteve 16,3% de votos, o suficiente para fazer
parte, pela primeira vez na sua história do governo da coligação.
A verdade, é que desde os anos setenta,
com a chegada do dinheiro do petróleo, os noruegueses tornaram-se cada vez mais
avarentos, amigos de empilhar o seu ouro e temerosos dos estrangeiros.
No seu livro Petromania, o jornalista
norueguês Simon Saetre, adverte para o facto do poderoso lóbi do petróleo
“estar a isolar-nos e a tornar-nos um país associal”.
Diz ele que os seus compatriotas foram
corrompidos pelo dinheiro do petróleo, passaram a trabalhar menos e a alegar
doenças com mais frequência e, tal como os traficantes de droga que não tocam
no produto, os noruegueses vangloriam-se de utilizar apenas energias renováveis
mas, acumulando o maior fundo soberano do mundo vendem combustíveis fósseis a
todos nós. Por outras palavras, em vez de estarem
do lado da Solução passaram para o lado do Problema.
Na Islândia são apenas 320.000
indivíduos, ao que tudo indica gananciosos e irresponsáveis e não merecem
grande atenção lá no rochedo onde estão, de uma beleza espantosa mas de clima inóspito.
Dos Finlandeses, diz o jornalista
Michael Booth que gosta muito deles porque são pessoas pragmáticas e terríveis
com um sentido de humor tão seco como o deserto do Saara.
Não é agradável viver na Finlândia: no
Verão é-se devorado pelos mosqui tos
e no Inverno fica-se congelado pelo frio.
A seguir aos E.U.A. e ao Iémen, a
Finlândia é o país com a maior quantidade de armas nas mãos das pessoas pelo
que se ninguém disparar contra nós somos nós próprios que damos um tiro na
cabeça.
Adeptos de grandes bebedeiras que
começam na 6ª feira à noite, o álcool é a principal causa de morte entre os
homens.
Dos suecos tudo o que se pode dizer
deles é pouco em comparação com a imagem fortemente crítica que têm de si próprios
em resultado de uma consulta feita aos seus jovens.
Se por um lado se consideram
trabalhadores, amigos da natureza, calmos e honestos, por outro consideram-se
invejosos, rígidos desonestos e xenófobos.
Ake Daun, o etnólogo mais conhecido do
país diz que os suecos “sentem menos intensamente que os outros a pontos de
chorar nos funerais não ser bem visto”.
Enfim, começo a sentir-me melhor como
português e se como diz o povo: “tempos vão... tempos vêm...” quem sabe se os portugueses, tradicionalmente pouco rigorosos mas hospitaleiros, construtivos, sentimentais, amigos de ajudar, muito mais trabalhadores do
que se fez constar, (conheço-os bem porque andei com eles na guerra), num país de sol e areias quentes, com os seus “Zés Camarinhas”..., não
virão a mostrar-se mais amigos da humanidade e dos seus colegas europeus
acolhendo-os na velhice, na doença e no lazer na benignidade do seu clima e da sua
hospitalidade do que os elogiados nórdicos nos estão a tratar nesta disputa
norte/sul.
E já agora, e ainda sobre os múltiplos
sucessos dos países nórdicos, dizer que eles não resultaram de nenhum milagre e a receita nada teve de complicada: uma mistura de humildade, ainda
dos tempos de Lutero, mais a frugalidade característica das pessoas do campo, determinismo
geográfico e puro pragmatismo que é como quem diz oportunismo.
- Ah os russos atacam?... juntamo-nos aos
nazis! Os nazis perdem?... juntamo-nos aos Aliados!
Sendo capazes de se adaptarem a tudo
desde o frio - das temperaturas e das relações sociais - ao custo de vida, são
realmente algo diferentes de nós, latinos, que preferimos o vinho à cerveja
leve e muito cara armazenada no frigorífico.
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