Que lhe parece: Comandante Vasco Moscoso de Aragão... |
OS VELHOS
MARINHEIROS
Episódio Nº 57
- Pois eu lhe arranjo o título -
reafirmou Georges. - Que lhe parece, seu Vasco, o título de capitão-de-longo-curso?
Sabe o que é um capitão de longo curso?
Vasco ouvia desconfiado:
Comandante de navio mercante, não é?
- Isso mesmo... Que lhe parece:
Comandante Vasco Moscoso de Aragão, capitão-de-longo-curso?
- Mas, como? - voltava-se para o coronel:
- Como?
- É simples. Georges vai lhe dizer...
O capitão dos portos cerrou os olhos,
recostou-se na cadeira giratória, seu rosto cobriu-se de beatitude, começou a
explicar. Naquele tempo o título de capitão de longo curso, o posto de
comandante da Marinha Mercante, não era obtido numa escola após frequência
regular aos estudos e exames anuais.
Conqui stavam-no
os imediatos e pilotos de larga experiência, os práticos e oficiais de bordo,
através de um concurso, requerido e prestado na Capitania dos Portos, ante uma
banca examinadora constituída por oficiais da Marinha.
Constava o concurso, bastante puxado e
difícil por sinal, da apresentação de um trabalho, uma espécie de tese de
doutorado, na qual o candidato demonstrava sua competência descrevendo uma viagem
marítima, num trecho da costa com todas as minúcias geográficas e técnicas,
desde a saída de um determinado porto até a chegada a um outro.
Nesse trabalho devia o candidato resolver
diversos problemas de navegação, em mar calmo, em meio a tempestades, defeitos
no barco, ameaça de naufrágio.
Aprovada a tese, sujeitava-se então a
exames em diversas matérias, provas orais somente: Navegação Astronomia,
Meteorologia, Polícia de Navegação Marítima e Fluvial, Direito Comercial
Marítimo, Direito Internacional Marítimo, Máqui nas
e Caldeiras de Bordo.
Tendo passado nos exames, entregavam-lhe
o título, podia sair mar afora no comando de seu navio.
- Simples, não é? - perguntava-lhe
Georges, estendendo-lhe uma folha de papel na qual pousaram os assombrados
olhos de Vasco.
Passou a vista pela folha cheia de uma
escrita miúda porém nítida.
Ficou sabendo que o exame de Navegação
Astronómica compreendia o uso e a rectificação do sextante, o uso e o traçado
das cartas, a navegação ortodrómica (sobre o círculo máximo), o uso e o estudo
completo do cronómetro, o uso, a teoria e a rectificação das agulhas
magnéticas.
Nem qui s
informar-se das outras matérias. Pousou o papel sobre a mesa, não havia mais
dúvidas, Georges estava a divertir-se à sua custa, mais uma vez.
- Você tinha me prometido... - ... um título
e estou cumprindo ... ,
- ... que não ia fazer pilhéria ... ,
- E que porra de pilhéria eu estou
fazendo? - ficava brabo.
- Ora, não está... Um exame desses...
Sem falar que eu não sou nem piloto, nem imediato, nem prático, nem coisa
nenhuma. Até hoje só entrei em navio desses aí do rio Paraguaçu, para ir até
Cachoeira.
Uma vez fui a Ilhéus, no Marahu, um da
Companhia Baiana, atrás de uma u'a zinha. Vomitei a alma, nunca vi jogar tanto nem
tamanha fedentina.
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