quinta-feira, abril 17, 2014

Que lhe parece: Comandante Vasco Moscoso de Aragão...
OS VELHOS

MARINHEIROS

Episódio Nº 57











- Pois eu lhe arranjo o título - reafirmou Georges. - Que lhe parece, seu Vasco, o título de capitão-de-longo-curso? Sabe o que é um capitão de longo curso?

Vasco ouvia desconfiado:

Comandante de navio mercante, não é?

- Isso mesmo... Que lhe parece: Comandante Vasco Moscoso de Aragão, capitão-de-longo-curso?

- Mas, como? - voltava-se para o coronel: - Como?

- É simples. Georges vai lhe dizer...

O capitão dos portos cerrou os olhos, recostou-se na cadeira giratória, seu rosto cobriu-se de beatitude, começou a explicar. Naquele tempo o título de capitão de longo curso, o posto de comandante da Marinha Mercante, não era obtido numa escola após frequência regular aos estudos e exames anuais.

Conquistavam-no os imediatos e pilotos de larga experiência, os práticos e oficiais de bordo, através de um concurso, requerido e prestado na Capitania dos Portos, ante uma banca examinadora constituída por oficiais da Marinha.

Constava o concurso, bastante puxado e difícil por sinal, da apresentação de um trabalho, uma espécie de tese de doutorado, na qual o candidato demonstrava sua competência descrevendo uma viagem marítima, num trecho da costa com todas as minúcias geográficas e técnicas, desde a saída de um determinado porto até a chegada a um outro.

 Nesse trabalho devia o candidato resolver diversos problemas de navegação, em mar calmo, em meio a tempestades, defeitos no barco, ameaça de naufrágio.

Aprovada a tese, sujeitava-se então a exames em diversas matérias, provas orais somente: Navegação Astronomia, Meteorologia, Polícia de Navegação Marítima e Fluvial, Direito Comercial Marítimo, Direito Internacional Marítimo, Máquinas e Caldeiras de Bordo.

Tendo passado nos exames, entregavam-lhe o título, podia sair mar afora no comando de seu navio.

- Simples, não é? - perguntava-lhe Georges, estendendo-lhe uma folha de papel na qual pousaram os assombrados olhos de Vasco.

Passou a vista pela folha cheia de uma escrita miúda porém nítida.

Ficou sabendo que o exame de Navegação Astronómica compreendia o uso e a rectificação do sextante, o uso e o traçado das cartas, a navegação ortodrómica (sobre o círculo máximo), o uso e o estudo completo do cronómetro, o uso, a teoria e a rectificação das agulhas magnéticas.

Nem quis informar-se das outras matérias. Pousou o papel sobre a mesa, não havia mais dúvidas, Georges estava a divertir-se à sua custa, mais uma vez.

- Você tinha me prometido... -  ...  um título e estou cumprindo ... ,

- ... que não ia fazer pilhéria ... ,

- E que porra de pilhéria eu estou fazendo? - ficava brabo.

- Ora, não está... Um exame desses... Sem falar que eu não sou nem piloto, nem imediato, nem prático, nem coisa nenhuma. Até hoje só entrei em navio desses aí do rio Paraguaçu, para ir até Cachoeira.

 Uma vez fui a Ilhéus, no Marahu, um da Companhia Baiana, atrás de uma  u'a zinha. Vomitei a alma, nunca vi jogar tanto nem tamanha fedentina.
                                                                                                                                          

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