sexta-feira, maio 23, 2014

Carlos Esperança
Uma Entrevista

a Carlos Esperança

(Presidente da Associação Ateísta Portuguesa)







“As Religiões São Nocivas”

(continuação)


 - Seria um adversário de um Estado ateu.


Antecedentes como anticlericalismos da I República não são o caminho a seguir?

 - Se ler os nossos comunicados, não há nenhum que revele anticlericalismo, embora ninguém seja bom juiz em causa própria.

Mas quem chamar anticlericalismo à luta e pedagogia contra o obscurantismo e a superstição, encontrará toneladas dele.


O Estado deve cortar completamente os laços com as Igrejas?

 - Do nosso ponto de vista, a Concordata não devia existir, e a Igreja Católica seria respeitada como qualquer outra.


A questão dos feriados religiosos é um dos principais sinais da influência da Igreja Católica no Estado?

 - Não sei hierarquizar, mas houve da parte do governo uma cedência extraordinária à igreja Católica, tanto mais lamentável quanto antes da Igreja definir os feriados de que abdicava, prescindiu do 1º de Dezembro e do 5 de Outubro, que são dois feriados identitários.

Numa altura em que se perdeu o serviço militar obrigatório e o próprio hino e bandeira perdem valor simbólico, resta-nos a língua, muitas vezes mal falada e mal escrita, como identidade do país.

Admitindo que era preciso cortar feriados, havia outros sem a carga simbólica da Restauração da Independência e da Implantação da República.

Alguns feriados religiosos nem os próprios crentes sabem o que significam.

Outra vossa luta é a anulação dos baptismos, o que também se aplica no seu caso.

O que nos choca não é o baptismo, que é irrelevante para quem não se revê na Igreja. Era uma obrigação do anterior regime fascista mas hoje representa menos do que o sarampo.

O que incomoda a Associação Ateísta Portuguesa é a chantagem que a Igreja Católica faz com a percentagem que se atribui de católicos para obter benefícios indevidos.

Podendo pedir-se a apostasia (anulação do baptismo), deveriam ser riscados do número que a Igreja usa para assumir uma importância que já não tem.

O Estado deveria impedir o baptismo de menores?

Tenho algumas dúvidas. Se entrarmos por aí, temos de proibir que os pais inscrevam crianças num clube de futebol ou noutra organização qualquer. Não me parece que a liberdade dos pais possa ser cerceada. Mas na Associação Ateísta não aceitamos menores de idade.

Já pensaram seguir o exemplo das testemunhas de Jeová e andar pelas ruas a falar sobre as vantagens do ateísmo?

Não pensámos e garantidamente nunca bateremos à porta de ninguém para anunciar a boa – nova de que Deus não existe. Se alguém me diz que passou a ser ateu, é como se me estivesse a dizer que aderiu a uma corrente filosófica ou estética qualquer.

Sendo um homem cheio de dúvidas, põe a hipótese de um dia vir a encontrar Deus?

Nunca o encontrarei, com certeza, pois Deus é uma criação humana.


NOTA - É uma boa entrevista, plena de tolerância, inteligência, bom senso, realismo. sem transigir para com os privilégios da Igreja.

O Ateísmo não é nenhuma nova religião como por vezes os crentes religiosos a pretendem acusar para espalhar a confusão nos espíritos mas nesta entrevista não ressalta nenhum tique religioso.

Carlos Esperança define o Ateísmo como uma corrente estética ou filosófica. Por outras palavras, eu diria apenas que é uma maneira de estar na vida, sem subtilezas, subterfúgios ou medos, de uma forma "natural"...  

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