Entre eles. passava , com a sua impecável farda branca... |
OS VELHOS
MARINHEIROS
Episódio Nº 81
Convalescentes de operações e tratamentos
difíceis, tendo ido buscar na metrópole as condições hospitalares inexistentes em seus Estados , a
ciência e os cuidados dos médicos de fama nacional e preço alto.
Solteironas na esperança de um noivo
surgido das ondas; padres em férias; frades destinados à catequese nas selvas;
literatos federais no rumo das praças do Norte, sonetos e conferências nas
malas; funcionários do Banco do Brasil transferidos, curiosos sobre as cidades,
onde irão servir.
Jogadores profissionais de poker, a
mudar de navio a cada viagem, de um Ita para um Ara, de um Ara para um Lloyd
Brasileiro, a arrancar o dinheiro dos fazendeiros de cacau, de algodão, de
babaçu, de criadores de gado e de usineiros, de regresso da primeira e
inesquecível visita ao Pão-de-Açúcar, ao Corcovado, a Copacabana e Botafogo, ao
Assírio, cabaré no subsolo do Teatro Municipal, ao Mangue.
Caixeiros-viajantes das grandes firmas
com o seu repertório de anedotas. E a inspiradora presença das prostitutas,
relegadas em geral à 2ª classe, os olhos voltados também para os fazendeiros e
comerciantes, aparecendo pela madrugada nos tombadilhos e cobertas de 1ª-
Era um desses Itas nos quais desceram do
Norte e do Nordeste os políticos e administradores, os poetas e os romancistas,
os “cabeças-chatas” impávidos e pobres, de peito aberto e indómita resistência
às cruezas da vida, feitos de vivacidade, de imaginação e força de vontade,
dotados do dom da improvisação e do poder de criação, nascidos nas terras
áridas, batidas pela seca, ou nas barrancas dos rios gigantescos de cheias
colossais, os paraenses e baianos, os pernambucanos e cearenses, alagoanos,
maranhenses, sergipanos, piauienses, os papa-jerimuns do Rio Grande do Norte.
Aqueles que viraram música popular na voz do poeta e cantor das graças da
Bahia, junto com todos os Itas:
“Peguei um Ita no Norte,
Prá vim pró Rio “morá”
Adeus meu pai, minha mãe,
Adeus Belém do Pará”.
Os que regressavam agora, sob o comando
e aos cuidados de Vasco, eram os mesmos embarcados há muitos anos, noutro Ita
qualquer, em demanda do Sul, da fortuna, do sucesso, do poder ou apenas da
possibilidade de ganhar a vida.
Entre eles passava, com sua impecável
farda branca, o Comandante Vasco Moscoso de Aragão.
Estivera antes na ponte de comando, onde
o primeiro-piloto lhe informara encontrar-se tudo em ordem, sem novidades,
transcorria a viagem normalmente, chegariam a Recife na manhã seguinte e partiriam,
se ele estivesse de acordo, às 17 horas.
- Já disse não desejar fazer nenhuma
alteração nem meter-me a dar ordens onde tudo está em boas mãos. Vou dar uma
volta por aí.
- Muito bem, Comandante. Sua presença
vai alegrar os passageiros, eles adoram conversar com o Comandante, fazer
perguntas sobre a viagem.
Ia distribuindo amáveis “bons dias” e
sorrisos. Acariciou a cabeça de uma criança a correr no convés. Acendera o
cachimbo: se o mar se conservasse assim, seria essa viagem o prémio de sua
vida.
Em
espreguiçadeiras descansavam várias pessoas. Rapazes e moças, em ruidosa
animação, disputavam partidas de malha, pingue-pongue e golfe de convés
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