domingo, maio 25, 2014

LARGO DO SEMINÁRIO
Hoje é 

Domingo


( Na minha cidade de Santarém, 25 de Maio de 2014)


Dia de Eleições






No Hoje é Domingo, e depois de ter ido votar para o Parlamento Europeu, é difícil não falar de política para dizer que o desnorte é tão grande que há pessoas com notoriedade, como o Dr. Pacheco Pereira, que afirma que melhor do que votar neste ou naquele partido, seria mesmo não votar, uma espécie de vingança: se a Europa nos trata mal ignoremo-la já que não podemos retribuir-lhe o mal que ela nos faz.

Compreendo os comportamentos emotivos mas eu fui votar porque ainda não estou psicologicamente preparado para outra solução que não seja no quadro Europeu.

Quantos mais cidadãos europeus se abstiverem de votar mais os políticos oportunistas se arrogarão do direito de governarem em nome do povo sem que este lhes tenha dado qualquer aval e mais os nacionalistas farão o seu caminho de destruição de um projecto que lhes assegurava a paz e a cooperação.

A Europa com o melhor de cada um: a indústria alemã, a agricultura francesa, a criatividade italiana, o Estado social dos nórdicos, a arte de viver dos espanhóis, a originalidade e teimosia dos ingleses, a facilidade dos portugueses na convivência com estranhos...

Provavelmente é um projecto demasiado sonhador para um mundo minado de interesses rasteiros, um projecto político demasiado fascinante como o mundo nunca conheceu.

Não sabemos se num qualquer dia destes não acabaremos num voltar ao “cada um por si” mas, neste momento, julgo que ainda não chegou a altura dessa decisão, temos de continuar a tentar.

A intuição da generalidade das pessoas diz-lhes que o futuro ainda passa pela Europa, talvez não bem esta, é verdade, mas modificá-la por dentro no sentido de combater este liberalismo interesseiro fazendo ressaltar os valores humanistas da solidariedade é o único caminho.

Há dias expressava as dúvidas que me assaltam sobre a incerteza do futuro do país à minha neta Filipa, de 8 anos, quando vinha de a trazer da escola para o almoço, e ela respondeu-me: - “mas não temos guerras nas ruas nem racismo”.

Sensata, de uma forma sábia, refugiou-se no que existe de bom: a paz e a convivência harmoniosa entre todas as pessoas, valores humanistas, os mais importantes do projecto político europeu.

Mas voltando à Europa e às eleições que estão hoje a decorrer no nosso país, a noção que temos é que os deputados que viermos a eleger irão debater-se em correntes de forças políticas que lhes vão exigir muita capacidade de entendimento, de negociação, de compromisso mas também muita persistência... não há outra forma.

A hegemonia da Alemanha nesta Europa que mais parece uma União Política de Estados Alemães, é muito difícil de contrariar dada a sua força e poderio económico e financeiro.

Ainda há dias a Srª Merkel afirmava: - “A União Europeia não é uma União Social”. Por outras palavras: não contem com uma política solidária... “os imigrantes no desemprego não podem contar com ajudas do governo e terão que sair do país.”

Há um momento, quando a Europa explode de 12 para 28 países no seu alargamento a Leste e se torna mais ou menos ingovernável, que parece ter sido o resultado de um plano estratégico alemão para tomar conta da Europa, exactamente por ela ser ingovernável... Se a 28 não nos conseguimos governar então, manda a Alemanha que é a mais forte, a que produz mais riqueza a que continua a ter a sua moeda, o marco, a que agora chamamos euro...

Mas o que se poderia esperar de políticos da craveira de um Berlusconi, Rajoy, Sarkozy, o patético Hollande e o nosso Durão Barroso, todos eles marionetas nas mãos Ângela Merkel?

Todos feitos, como diz Miguel Sousa Tavares de “uma massa viscosa de discursos de circunstância, de princípios anunciados ontem e desmentidos amanhã, de palmadinhas nas costas uns dos outros, de nenhum risco, nenhum rasgo, nenhuma palavra que nos diga porque haveremos ainda de acreditar nesta União de tratantes e farsantes e ir votar neste Domingo, como se o voto fizesse alguma diferença.”

E, no entanto, ainda faz sentido ir votar para não dar de mão beijada a Europa aos seus inimigos...

É consensual a necessidade de mais crescimento económico para evitar a espiral recessiva com a dependência cada vez maior dos mercados financeiros especulativos que geram e agravam tensões sociais e políticas, mas como se consegue esse crescimento, quem o consegue e por que é que não se consegue?

Era mais simples de perceber o problema dos ratos quanto à necessidade de colocar o guizo no pescoço do gato... todos tinham medo e agora, quem tem medo da Europa?

Iremos poder avaliar, em função do resultado destas eleições, o que pensam e sentem sobre a actual situação de crise os cidadãos europeus.

A dimensão do número dos que não votarem e o destino dos votos dos que se dignaram ir às urnas, dir-nos-á alguma coisa sobre as tensões sociais decorrentes da actual situação.

O Dr. Paulo Portas e o Governo festejaram a saída da Troyka findos os três anos e as onze avaliações, algumas delas “dolorosas” e por obra e graça da Srª de Fátima, na perspectiva do Presidente da República ou da sua esposa, não me lembro bem.

Cá entre nós, no fundo, pouco ou nada vai poder mudar. O peso da dívida cada vez maior com os juros que temos de pagar, e ao mesmo tempo satisfazer as metas impostas para a diminuição dos Deficits Orçamentais nos prazos que nos deram, tornam a gestão deste país tão difícil quanto a Quadratura do Círculo... mas hoje é Domingo, dia de eleições, dia de democracia, dia de esperança.

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