Carlos Esperança |
Uma Entrevista
a Carlos
Esperança
(Presidente da Associação Ateísta Portuguesa)
“As Religiões São Nocivas”
(continuação)
- Seria um adversário de um
Estado ateu.
Antecedentes como
anticlericalismos da I República não são o caminho a seguir?
- Se ler os nossos comunicados, não há nenhum
que revele anticlericalismo, embora ninguém seja bom juiz em causa própria.
Mas quem chamar
anticlericalismo à luta e pedagogia contra o obscurantismo e a superstição,
encontrará toneladas dele.
O Estado deve cortar
completamente os laços com as Igrejas?
- Do nosso ponto de vista, a Concordata não
devia existir, e a Igreja Católica seria respeitada como qualquer outra.
A questão dos feriados
religiosos é um dos principais sinais da influência da Igreja Católica no
Estado?
- Não sei hierarqui zar,
mas houve da parte do governo uma cedência extraordinária à igreja Católica,
tanto mais lamentável quanto antes da Igreja definir os feriados de que
abdicava, prescindiu do 1º de Dezembro e do 5 de Outubro, que são dois feriados
identitários.
Numa altura em que se perdeu
o serviço militar obrigatório e o próprio hino e bandeira perdem valor
simbólico, resta-nos a língua, muitas vezes mal falada e mal escrita, como
identidade do país.
Admitindo que era preciso
cortar feriados, havia outros sem a carga simbólica da Restauração da
Independência e da Implantação da República.
Alguns feriados religiosos
nem os próprios crentes sabem o que significam.
Outra vossa luta é a anulação
dos baptismos, o que também se aplica no seu caso.
O que nos choca não é o
baptismo, que é irrelevante para quem não se revê na Igreja. Era uma obrigação
do anterior regime fascista mas hoje representa menos do que o sarampo.
O que incomoda a Associação
Ateísta Portuguesa é a chantagem que a Igreja Católica faz com a percentagem
que se atribui de católicos para obter benefícios indevidos.
Podendo pedir-se a apostasia
(anulação do baptismo), deveriam ser riscados do número que a Igreja usa para
assumir uma importância que já não tem.
O Estado deveria impedir o
baptismo de menores?
Tenho algumas dúvidas. Se
entrarmos por aí, temos de proibir que os pais inscrevam crianças num clube de
futebol ou noutra organização qualquer. Não me parece que a liberdade dos pais
possa ser cerceada. Mas na Associação Ateísta não aceitamos menores de idade.
Já pensaram seguir o exemplo
das testemunhas de Jeová e andar pelas ruas a falar sobre as vantagens do
ateísmo?
Não pensámos e garantidamente
nunca bateremos à porta de ninguém para anunciar a boa – nova de que Deus não
existe. Se alguém me diz que passou a ser ateu, é como se me estivesse a dizer
que aderiu a uma corrente filosófica ou estética qualquer.
Sendo um homem cheio de dúvidas,
põe a hipótese de um dia vir a encontrar Deus?
Nunca o encontrarei, com
certeza, pois Deus é uma criação humana.
NOTA - É uma boa entrevista, plena de tolerância, inteligência, bom senso, realismo. sem transigir para com os privilégios da Igreja.
O Ateísmo não é nenhuma nova religião como por vezes os crentes religiosos a pretendem acusar para espalhar a confusão nos espíritos mas nesta entrevista não ressalta nenhum tique religioso.
Carlos Esperança define o Ateísmo como uma corrente estética ou filosófica. Por outras palavras, eu diria apenas que é uma maneira de estar na vida, sem subtilezas, subterfúgios ou medos, de uma forma "natural"...
NOTA - É uma boa entrevista, plena de tolerância, inteligência, bom senso, realismo. sem transigir para com os privilégios da Igreja.
O Ateísmo não é nenhuma nova religião como por vezes os crentes religiosos a pretendem acusar para espalhar a confusão nos espíritos mas nesta entrevista não ressalta nenhum tique religioso.
Carlos Esperança define o Ateísmo como uma corrente estética ou filosófica. Por outras palavras, eu diria apenas que é uma maneira de estar na vida, sem subtilezas, subterfúgios ou medos, de uma forma "natural"...
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