terça-feira, maio 20, 2014

Purgatório
A mentalidade teológica


... e a Invenção do Purgatório














A Invenção do Purgatório - A palavra “purgatório” significa lugar de limpeza e foi proclamado no Concílio de Lyon em 1272:

 - “Aqueles que morrem na caridade de Deus com verdadeiro arrependimento dos seus pecados, antes de cumprirem os frutos da penitência, são purificados depois da morte com penas purgatórias”.

Esta doutrina do “purgatório” revela bem como funciona a mente teológica. O “purgatório” era uma espécie de ilha de Nova York para os milhares e milhares de emigrantes que afluíam aos EUA, no século XIX e meados do XX, mas de natureza divina.

Uma ante-câmara para aquelas almas cujos pecados não são suficientemente maus para merecerem logo o inferno precisando ainda de uma reciclagem, uma purificação, antes de poderem entrar na zona livre de pecados que é o céu.

A Venda das Indulgências  Se há alguma instituição à qual se pode atribuir, com propriedade, a expressão de “dinheiro mal ganho” foi a Igreja católica com o dinheiro das indulgências. Elas terão mesmo constituído um dos maiores contos-do-vigário de toda a história que deixará a roer de inveja os trapaceiros da Iurd.

Em 1903 o Papa Pio X, ainda tinha uma tabela para calcular o número de dias de remissão do purgatório que cada membro da hierarquia tinha competência para conceder: 200 dias para os Cardeais; 100 dias para os arcebispos e 50 dias para os Bispos.

Mas as indulgências também podiam ser pagas com orações rezadas por outras pessoas, após a morte, em intenção ao defunto. Claro que essas orações eram pagas em dinheiro e quem fosse muito rico podia garantir o futuro da sua alma por todo o sempre.

A Luta com Lutero  Em 1517, o frade dominicano alemão, Johann Tetzel , percorre a Alemanha a promover a venda das indulgências que eram documentos selados pelo Papa para, com esse dinheiro financiar a construção da Basílica de São Pedro, à data, um templo como muitos outros.

Quando Tetzel chegou a Wittenberg, cidade de Lutero, este cravou na porta da Igreja um documento com 95 razões a provar a falsidade da doutrina do purgatório e, naturalmente, recusando o poder das indulgências. A partir desse momento de justa revolta estava iniciada na Alemanha a Reforma Protestante.

Uma dessas 95 razões dizia o seguinte:

- “Por que é que o Papa, cuja fortuna é superior a qualquer outra das maiores fortunas, não constrói uma Basílica de São Pedro com o seu próprio dinheiro em vez de o fazer com o dinheiro dos próprios crentes?”

O Papa emitiu uma bula condenando Lutero por “cometer erros heréticos, escandalosos e ofensivos aos ouvidos piedosos…” e que aquilo “era obra de um bêbado alemão que quando estivesse sóbrio mudaria de opinião”.

Lutero queimou em Wittenberg a bula Papal e, de seguida, o Papa excomungou-o.

As Provas da Existência do Purgatório O que verdadeiramente fascina na doutrina do purgatório são as “provas” com que os teólogos as fundamentam: provas tão espectacularmente débeis que tornam ainda mais cómico o arrojo ligeiro com que são afirmadas.

Na Enciclopédia Católica, a entrada referente ao purgatório tem uma secção chamada “provas”.

A evidência principal para a existência do purgatório é a seguinte:

- Se os mortos fossem directamente para o céu ou para o inferno com base nos pecados que cometeram na Terra, não fazia sentido rezar por eles… por que rezar pelos mortos senão houver uma crença no poder da oração para proporcionar refrigério àqueles que estavam excluídos dos olhos de Deus… e nós rezamos pelos mortos, não é? Portanto o purgatório deve existir, caso contrário as nossas orações não fariam sentido”.

Isto é um bom exemplo daquilo que, na mente dos teólogos, passa por ser um raciocínio lógico.

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