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TEORIA
DOS MEMES
Para melhor compreender a vida e a evolução.
( Richard Dawkins)
Richard Dawkins, defende que para compreender a
evolução do homem moderno, devemos abandonar a ideia do gene como sendo a única
das nossas fases de evolução e pergunta: afinal, o que são os genes?
A resposta é que eles são replicadores.
As leis da Física são, supostamente, válidas em todo o
Universo acessível, mas existirão princípios biológicos susceptíveis de terem,
igualmente, validade universal?
O autor não sabe, mas se tivesse que arriscar diria
que, a existir, seria uma lei em que toda a vida evolui pela sobrevivência
diferencial das entidades replicadoras.
O gene, molécula do ADN, é a entidade replicadora mais
comum no nosso planeta mas pode haver outras e se as houver, quase inevitavelmente,
tenderão a tornar-se a base do processo evolutivo.
E será preciso ir a outros mundos para encontrar
outros tipos de evolução?
Recentemente, outro tipo de replicador surgiu entre
nós, ainda está na infância, ainda vagueia desajeitadamente no seu caldo
primitivo mas a uma velocidade que deixa muito para trás o velho gene ofegante.
O novo caldo é o caldo da cultura humana e a esse novo
replicador vamos chamar “MEME” que será uma unidade de transmissão cultural ou,
de uma maneira mais simples, unidade de imitação.
Deve pronunciar-se de forma a rimar com “creme” e está
relacionada com “memória”.
Exemplos de “Memes” são: melodias, ideias, lemas,
modas de vestuário, maneiras de fazer potes ou de construir arcos, etc.
Tal como os genes que se propagam no pool genético saltando
de corpo para corpo através de espermatozóides ou de óvulos, também os memes se
propagam no pool memético, saltando de cérebro para cérebro através de um
processo que, em sentido lato, se pode chamar de imitação.
Alguns “memes”, tal como alguns genes, atingem um
sucesso brilhante espalhando-se rapidamente mas não duram muito tempo.
Todas as pessoas do meu tempo, e mesmo mais novas,
lembram-se das calças à boca-de-sino, dos sapatos com tacões altos ou de certas
canções populares que depressa passaram de moda.
Em contrapartida, outros, tais como as leis religiosas
judaicas, poderão continuar a propagar-se durante milhares de anos devido à
grande duração potencial dos registos escritos, e isto conduz-nos a uma das
qualidades dos replicadores bem sucedidos: a fidelidade de cópia e, quanto a
esta qualidade, os “memes” não são replicadores de grande fidelidade.
O gene foi definido como uma extensão de um cromossoma
com uma fidelidade de cópia suficiente para servir como uma unidade viável de
selecção natural.
Se uma única frase da Nona Sinfonia de Beethoven for
suficientemente distinta e memorável para ser abstraída do contexto de toda a
Sinfonia e usada como tema de abertura de uma estação radiofónica então, ela
merece ser considerada um “meme”.
Pensemos na Teoria de Darwin. A circunstância dos
biólogos acreditarem nesta teoria não significa que cada um deles tenha gravado
na sua memória as palavras exactas do próprio Charles Darwin.
Cada um deles tem a sua própria maneira de interpretar
as ideias de Darwin porque as aprenderam, não a partir dos trabalhos do próprio
Darwin, mas de autores mais recentes.
Mais, muito daquilo que Darwin disse, em detalhe, está
errado e se ele lesse o livro do Gene Egoísta de Richard Dawkins não
reconheceria nele a sua própria teoria original, mas há qualquer coisa, uma
qualquer essência de Darwinismo, que está presente na cabeça de cada indivíduo
que compreende a sua teoria e só assim se entende que duas pessoas concordem
entre si sobre um qualquer assunto.
Há, portanto, um “meme ideia” que pode ser definido
como uma entidade capaz de ser transmitida de um cérebro para outro e o que se
pode perguntar é, se à semelhança dos genes que têm de competir com os seus
alelos rivais para a mesma fenda cromossómica, também os “memes” têm os seus
rivais e se deles se pode esperar que sejam egoístas.
A resposta é sim, porque há um sentido em que eles têm
de se entregar a uma forma de competição entre si.
Na verdade, se um “meme” dominar a atenção de um
cérebro tem de o fazer à custa de outros “memes” rivais pois ele, o cérebro, está
limitado na sua capacidade e não pode fazer mais que uma ou duas coisas ao
mesmo tempo.
Outras coisas pelas quais os “memes” competem são o
tempo de antena na rádio, na televisão, espaços publicitários, colunas de
jornais e espaço nas estantes das bibliotecas.
Dentro do paralelismo que estabelecemos entre os novos
“memes”e os velhos genes, recordemos que genes associados podem unir-se no
mesmo cromossoma de uma forma tão forte que pode ser considerado um gene.
Acontece isto com o mimetismo das borboletas ou ainda,
de uma forma mais sofisticada, com dentes, órgãos dos sentidos, todos eles
mutuamente adaptados e que evoluíram nas “pools” de genes dos herbívoros.
Acontecerá algo de análogo nos “pools” de “memes”?
Por exemplo, o “meme” para Deus estará associado a
outros “memes” particulares e será essa associação promotora da sobrevivência
de cada um desses “memes” participantes?
Talvez possamos considerar que uma igreja organizada,
com a sua arquitectura, rituais, leis, música, arte e tradição escrita se
constituam como um conjunto estável, co-adaptado, de “memes” que se promoveriam
mutuamente.
Dando um exemplo particular, um aspecto da doutrina
que tem sido muito eficiente em compelir à observância religiosa é a ameaça do
fogo do inferno.
Muitas crianças, e mesmo adultos, acreditam que
sofrerão tormentos horríveis depois de morrer senão obedecerem às recomendações
dos sacerdotes. É uma técnica de persuasão particularmente sórdida, causadora
de angústia psicológica e que vem dos tempos da Idade Média mas que ainda hoje
se mantém.
Quanto à responsabilidade desta técnica condenável,
Richard Dawkins concede aos sacerdotes o benefício da dúvida por não lhes
reconhecer inteligência suficiente e admite, em alternativa, que possam ser
“memes” inconscientes que asseguraram a sua própria sobrevivência graças às
mesmas qualidades de pseudo-implacabilidade que os genes bem sucedidos exibem.
A ideia do fogo infernal é, muito simplesmente,
autoperpectuadora devido ao seu enorme impacto psicológico profundo. Ligou-se
ao “meme” para Deus porque as duas se reforçam mutuamente e favorecem a
sobrevivência uma da outra no “pool” de “memes”.
Outro membro do complexo de “memes” religioso é a fé
que significa uma confiança cega na ausência de evidência, ou mesmo apesar
dela.
A história de S. Tomé, “do ver para crer”é contada,
não para que o admiremos a ele mas, por comparação, possamos admirar os outros
apóstolos que não precisavam de provas e são estes que nos são apresentados
como exemplo.
Nada pode ser mais letal para certos tipos de “memes”
do que a tendência para procurar evidências.
O “meme” para a fé cega assegura a sua própria
perpetuação pelo simples recurso inconsciente ao desencorajamento da investigação
racional.
A fé cega pode justificar tudo. Se um homem acredita
num deus diferente, ou mesmo se usa um ritual diferente para adorar o mesmo
deus, a fé cega pode decretar que ele morra: na cruz, na fogueira, trespassado
pela espada de um cruzado, atingido por uma bala numa rua de Beirute ou por uma
explosão num Bar de Belfast.
Os “memes” para a fé cega têm as suas próprias
maneiras implacáveis de se propagar e isto é tão verdade para a fé religiosa
como para a patriótica ou política.
Os “memes” e os genes, podem, muitas vezes,
reforçarem-se mutuamente, mas em certas ocasiões opõem-se.
Por exemplo, o hábito do celibato supõe-se que não
seja herdado geneticamente porque o seu gene estaria condenado a malograr-se no
“pool” de genes, exceptuando circunstâncias muito especiais com aquelas que
encontramos nos insectos sociais, mas, ao contrário, pode ser bem sucedido no
“pool” de “memes”.
Suponhamos, por exemplo, que o sucesso de um “meme”
depende, de forma crucial, da quantidade de tempo que as pessoas gastam a
transmiti-lo activamente a outras pessoas pelo que, o tempo gasto a fazer
outras coisas que não seja transmitir o “meme” poderá ser considerado
desperdício de tempo do ponto de vista do “meme”.
O “meme” para o celibato é transmitido por sacerdotes a
rapazes jovens que ainda não decidiram o que fazer com as suas vidas e o meio
utilizado para o fazer é a palavra escrita, falada, o exemplo pessoal e por aí
adiante.
Suponhamos, agora, que o casamento enfraquecia o poder
de um padre para influenciar o seu rebanho, e esta tem sido a razão oficial
apresentada para obrigar ao celibato dos padres, então, o celibato é apenas um
componente secundário do grande complexo de “memes” religiosos que se promovem
mutuamente.
Pode parecer que tudo é negativo em relação aos
“memes” mas eles também têm o seu lado positivo:
- Quando morrermos há duas cosias que deixamos atrás
de nós: genes e memes. Fomos construídos como máquinas genéticas criadas para
transmitir os nossos genes mas esta finalidade será esquecida ao fim de poucas
gerações.
Os meus filhos e os meus netos poderão ter alguma
parecença comigo, na cor dos olhos ou do cabelo, nos traços faciais, no talento
musical, ou na habilidade para jogar futebol, mas essa herança, a cada geração,
vai reduzindo-se até proporções desprezíveis porque, embora os genes possam ser
imortais, a colecção de genes que constitui cada um de nós está condenada a
dissipar-se.
A Rainha de Inglaterra II descende directamente de
Guilherme O Conquistador mas, muito provavelmente, já não possuirá nem um dos
genes do velho rei, logo, não é através da reprodução que se alcança a
eternidade.
Mas, se algum de nós tiver um contributo válido para o
património cultural, seja uma ideia, uma melodia, um poema, poderá sobreviver intacto
muito para além dos seus genes se terem dissolvido na “pool” comum de genes.
É possível que Sócrates ainda tenha para aí, no mundo
de hoje, um gene ou dois mas, como diz George Cristopher Williams, emérito
Professor de Biologia da Universidade de Nova York, que interesse tem isso?
Em contrapartida, os complexos de “memes” de Sócrates,
Leonardo, Copérnico, Marconi, e tantos outros ainda vigoram com sucesso.
Por mais especulativo que possa ser considerado o
desenvolvimento da teoria dos Memes de Richard Dawkins há um ponto sério que
deve ser realçado:
- Quando se observa a evolução dos traços culturais e
a sua capacidade de sobrevivência, há que saber, com precisão, de “quem” é a
“sobrevivência” de que estamos a falar.
Os biólogos têm o hábito de procurar vantagens ao
nível do gene (ou ao nível do indivíduo, do grupo, ou da espécie, conforme o
gosto), mas o que ainda não tinha sido considerado antes é que um traço
cultural possa ter evoluído simplesmente porque é “vantajoso para si próprio”.
Não é preciso procurar capacidades convencionais de
sobrevivência biológica em aspectos como a religião, a música ou as danças
rituais, embora tal se possa verificar logo que os genes dotem as suas máquinas
de sobrevivência para a imitação rápida.
Basta que o cérebro seja “capaz” de imitação, logo
evoluirão “memes” que irão explorar plenamente essa capacidade.
Uma característica do homem que poderá ter evoluído ou
não “meméticamente” é a sua capacidade de previsão consciente e esta capacidade
está vedada aos genes egoístas e aos memes (se for permitida esta especulação)
porque eles são replicadores inconscientes e cegos.
Outra qualidade, também exclusiva do homem é a sua
capacidade para o altruísmo verdadeiro, genuíno e desinteressado e, portanto,
mesmo que olhemos para o seu lado sombrio e assumamos o pressuposto de que o
homem é, basicamente egoísta, a nossa capacidade de antecipação consciente e para
simular o futuro usando a imaginação, poderá salvar-nos dos piores excessos
egoístas dos replicadores cegos.
Temos o poder de desafiar os genes egoístas que
herdamos e, se necessário, os “memes” que nos foram transmitidos.
Podemos até discutir maneiras de estimular e ensinar
deliberadamente o altruísmo puro e desinteressado que é algo que nunca existiu
na natureza nem na história do mundo.
Somos construídos como máquinas de genes e educados
como máquinas de “memes”, mas temos o poder de nos rebelar contra os nossos
criadores.
Só nós, na Terra, temos esse poder.
Se leu este resumo sobre a Teoria dos Memes de Richar
Dawkins ouça, agora, sobre esta mesma Teoria, a Dr.ª Susan Blackmore, autora da
obra The Evolution of Meme Machines e que, como pode certificar-se, é uma
adepta entusiasta desta Teoria.
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