Que prazer, comandante... |
OS VELHOS
MARINHEIROS
Episódio Nº 82
Na sala de estar começavam a
organizar-se mesas de póker. O comandante passeou o olhar pelas cadeiras, mas
só viu, de conhecido, o senador. Foi andando para onde ele estava.
- Oh! Bom dia, Comandante. Então como
vamos de viagem? Já tem o horário de chegada em Recife?
- Amanheceremos no porto, se Deus qui ser. E sairemos às cinco da tarde.
- Tempo bastante para almoçar com o
Governador, discutir com ele uns problemas políticos. Ele me ouve muito, aliás
todos os governadores do Nordeste acatam minha opinião e pedem-me conselhos. É
que sabem da consideração que me tem Dr. Washington.
- É uma honra para mim, tê-lo a bordo,
senador - sentava-se o comandante na cadeira vazia ao lado do parlamentar. -
Uma honra e um prazer.
- Obrigado. Quem fica em Recife é o
Othon ...
- Quem?
- O deputado que estava à sua esquerda. Rapaz de talento
mas completamente avoado. Metido nesse desatino da Aliança Liberal. Ele e
outros arrastaram a Paraíba para essa loucura, um Estado pequeno, que depende
da Presidência da República para tudo, imagine.
E, como sabe
que a eleição está perdida, fica a inventar golpes e revoluções.
- Confesso ter ficado um pouco assustado ontem com
aquela ideia de conspiradores a bordo...
- Um rapaz de futuro que está se estragando. Também
bebe muito e não pode ver rabo-de-saia. Já de manhãzinha estava às voltas com
as artistas por aí...
- Que artistas?
- Embarcaram no Rio. Uma companhia mambembe que vai
dar espetáculos no Recife. Conjunto pequeno, quatro mulheres e quatro homens.
As mulheres não estavam ontem na sala de jantar. Por isso o senhor não notou -
apontava com o lábio: - Lá estão elas com Othon.
Veja se aqui lo
é maneira de um deputado federal se comportar... No deboche com mulheres de
teatro... Na vista de todo mundo.
O comandante olhou: três moças, duas delas vestidas
com calças compridas, numa ousadia quase escandalosa para o tempo, a terceira,
num vestido leve e vaporoso, riam em torno ao deputado.
- E a quarta?
- É uma velha, faz papéis de criada... Deve estar por
aí fazendo crochet... Passa o dia de agulha na mão.
Tinham sido vistos por Othon. O deputado acenava-lhes
com a mão, aproximava-se acompanhado das artistas.
- Venham conhecer o nosso novo Comandante.
O senador cumprimentava com a cabeça, sem levantar-se
da cadeira. Não gostava de ser visto em público em gracejos com gente de
teatro. Vasco pôs-se de pé, curvou-se para apertar as mãos das moças.
- Que prazer, Comandante... - sorria a morena de seios
fartos, ao lado de Othon.
- Me diga uma coisa, seu Comandante: esse bicho ainda
vai jogar como ontem? Nunca passei tão mal em minha vida. Essa é minha primeira
viagem por mar... - falava uma franzina e loira, de olhos grandes.
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