terça-feira, maio 13, 2014

Será que ele espera por mim?
Os Bancos

do Jardim












Hoje, sentado à mesa da esplanada, não sei o que mais devia agradecer: se a tranquilidade da manhã ou o calor dos raios do sol que atravessavam o meu corpo e aqueciam suavemente os meus ossos.

Começo a compreender melhor o comportamento dos velhos na sua procura pelos bancos dos jardins como o local mágico onde a vida se prolonga. O culto do sol não é uma mania de velho mas antes uma necessidade, um reencontro com a fonte da vida que se vai esgotando, uma espécie de despedida, um agradecimento final.

O calor dos raios de sol que aqueciam hoje de manhã os meus ossos bem podia ser o do colo da minha mãe num afago carinhoso.

Sinto-me bem, mas não posso esquecer os 75 anos que já dobrei, melhor nunca os tivesse contado... talvez pensasse que estava agora na meia idade... a gente gosta de se enganar a nosso favor não é?... mas assim, nada feito.

Vivemos a contra-relógio, a olhar para ele, a contar minutos, horas, dias, anos e ainda por cima os celebramos com todos à nossa volta, como testemunhas, numa festa para jamais nos esquecermos. Durante grande parte da vida não nos fez diferença...

Dizíamos: fiz ontem 37 anos, com o mesmo à vontade com que poderíamos ter dito: ontem fui ao cinema...

Éramos escravos do tempo sem termos consciência de que ele nos estava a levar ao banco do jardim que nos aquece os ossos numa despedida programada.

Ao longo de toda a minha vida apenas me esqueci de uns anos, já lá vão 50 desde esse lapso e, por essa razão, sempre os recordei mais tarde como os anos que não fiz... infelizmente contaram na mesma.

Estava em Angola, 1964, no meio de uma viagem desde “as terras do fim do mundo” até Luanda, tão longe e cansativo que se perde a contagem do tempo. No 8 de Abril desse ano eu estava em trânsito, algures, de um tempo qualquer que se confundia com o ontem e o amanhã.

Mas eu juro que nunca irei para os bancos do jardim... Nem todos os velhos são iguais.

Tenho um compromisso com a vida que ainda não me permite voltar-lhe as costas sentado no banco do jardim a receber o sol que aquece os ossos...

Eu sei que é uma tentação recostar, abandonar o corpo, fixar o olhar em coisa alguma num estado de espírito de missão cumprida, mas o meu pensamento recusa-se à contemplação que não à imaginação.

Todos os dias tenho este encontro convosco, aqui, no Memórias Futuras, obrigação assumida do “faço porque quero”...

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