Será que ele espera por mim? |
Os Bancos
do Jardim
Hoje, sentado à mesa da esplanada, não sei o que mais devia agradecer: se a tran
Começo a compreender melhor o
comportamento dos velhos na sua procura pelos bancos dos jardins como o local
mágico onde a vida se prolonga. O culto do sol não é uma mania de velho mas
antes uma necessidade, um reencontro com a fonte da vida que se vai esgotando,
uma espécie de despedida, um agradecimento final.
O calor dos raios de sol que
aqueciam hoje de manhã os meus ossos bem podia ser o do colo da minha mãe num afago carinhoso.
Sinto-me bem, mas não posso esquecer os 75 anos que já dobrei,
melhor nunca os tivesse contado... talvez pensasse que estava agora na meia
idade... a gente gosta de se enganar a nosso favor não é?... mas assim, nada
feito.
Vivemos a contra-relógio, a olhar
para ele, a contar minutos, horas, dias, anos e ainda por cima os celebramos
com todos à nossa volta, como testemunhas, numa festa para jamais nos
esquecermos. Durante grande parte da vida não nos fez diferença...
Dizíamos: fiz ontem 37 anos, com o mesmo à
vontade com que poderíamos ter dito: ontem fui ao cinema...
Éramos escravos do tempo sem termos consciência de que ele nos estava a levar ao banco do jardim que nos aquece os ossos numa despedida programada.
Éramos escravos do tempo sem termos consciência de que ele nos estava a levar ao banco do jardim que nos aquece os ossos numa despedida programada.
Ao longo de toda a minha vida
apenas me esqueci de uns anos, já lá vão 50 desde esse lapso e, por essa razão,
sempre os recordei mais tarde como os anos que não fiz... infelizmente contaram
na mesma.
Estava em Angola, 1964, no meio
de uma viagem desde “as terras do fim do mundo” até Luanda, tão longe e
cansativo que se perde a contagem do tempo. No 8 de Abril desse ano eu estava
em trânsito, algures, de um tempo qualquer que se confundia com o ontem e o
amanhã.
Mas eu juro que nunca irei para
os bancos do jardim... Nem todos os velhos são iguais.
Tenho um compromisso com a vida que
ainda não me permite voltar-lhe as costas sentado no banco do jardim a receber o sol que aquece os
ossos...
Eu sei que é uma tentação recostar, abandonar o corpo, fixar o olhar em coisa alguma num estado de espírito de missão cumprida, mas o meu pensamento recusa-se à contemplação que não à imaginação.
Eu sei que é uma tentação recostar, abandonar o corpo, fixar o olhar em coisa alguma num estado de espírito de missão cumprida, mas o meu pensamento recusa-se à contemplação que não à imaginação.
Todos os dias tenho este encontro
convosco, aqui , no Memórias Futuras,
obrigação assumida do “faço porque quero”...
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