Um dia me farão justiça, sentirão a minha falta... |
OS VELHOS
MARINHEIROS
Episódio nº 70
Zequi nha
Curvelo pronunciou apenas uma palavra:
- Covarde!
O desafio dera-se na praça, onde se
reuniam os inimigos do comandante, Chico Pacheco perdeu certo terreno junto aos
seus admiradores. A perspectiva de um duelo agradava aos dois grupos
igualmente, excitava-os.
Foi, no entanto, passageira essa vantagem do
comandante. No fundo, persistia a dúvida, suas histórias já não encontravam
aquele eco antigo, já não despertavam o entusiasmo anterior.
O próprio Zequi nha
Curvelo um dia observou-lhe:
- A verdade é que a invenção desse pulha
nunca foi desmentida.
O comandante fitou-o com seus olhos puros:
- Se eu tiver de buscar provas para
defender-me de um covarde que fugiu do campo de honra, se entre a minha palavra
e a dele há quem vacile, então prefiro ir-me embora.
Vi, num jornal, o anúncio de uma casa à
venda na ilha de Itaparica. Lá, pelo menos, estarei no meio do mar, como se
estivesse num navio, longe da infâmia e da inveja.
Levantava a crista caída:
- Um dia me farão justiça, sentirão
minha falta. Mas não me rebaixarei a desmentir um pusilânime, um cagão.
Estavam assim as coisas, nesse impasse,
quando um fato novo aconteceu e a verdade se impôs. Não dependeu nem do
comandante nem de Chico Pacheco, nem de Zequi nha
Curvelo, de Adriano Meira ou do velho José Paulo, o Marreco, o único a não se
exaltar, a conservar seu equi líbrio
em meio à tempestade.
Foi o destino, o azar, o acaso, dêem-lhe
o nome que melhor lhes pareça.
Quisera eu também a intervenção do
destino para afastar as suspeitas crescentes do Meritíssimo Juiz Dr. Alberto
Siqueira, algo a provar-lhe a pureza de minhas relações com Dondoca, reflexo
apenas da amizade por mim dedicada ao ínclito e desconfiado luminar. Impossível?
Porque de fato ando ornamentando a testa do
Meritíssimo, comendo-lhe os chocolates e a rapariga? Só por isso? Então não
sabem ser o destino caprichoso?
Quando intervém para restabelecer a
verdade, ele o faz ao sabor de suas simpatias, e não à vista de provas e
documentos. Por que não poderia, então, demonstrar ao juiz minha inocência,
levando inclusive em conta o serviço por mim prestado ao Meritíssimo, ao
substituí-lo no leito de Dondoca?
Deixo-a pela manhã satisfeita e alegre,
disposta assim a aturar, com paciência e sorrisos, a chatice infinita do
emérito luminar.
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