terça-feira, junho 24, 2014

Este aqui é o Comandante Vasco Moscoso de Aragão
OS VELHOS
MARINHEIROS

(Jorge Amado)


Episódio Nº 114








Navegou de Portugal para as índias, onde os marujos o haviam apelidado de Mão de Ferro e Coração de Ouro, pois, brando como a brisa, amigo de seus tripulantes, podia ser, se desobedecido, violento como o furacão, implacável mão de ferro.

De noivado e juras de amor eterno ou de como o comandante lançou âncora, ao luar, no coração da grande baqueana.

A primeira palavra sobre noivado e casamento foi pronunciada em Natal, a medo, pelo comandante. Iam os dois, ele e Clotilde, pela Praia de Areia Preta, e era tanta a beleza do cenário e a graça da cidade, que não podiam deixar de senti-las e comentá-las, com adjectivos e exclamações.

 Demorava-se o Ita pouco tempo no porto, rumaria cedo para Fortaleza. Desejavam tudo ver numa pressa juvenil, a grande baqueana a soltar gritinhos ante as curvas da praia, o casario branco, a Fortaleza dos 3 Reis Magos, o rio de prata sob o sol.

O senhor viu tanta coisa, tanto lugar bonito no mundo que
já deve estar até cansado, nem liga mais, não é? - falou Clotilde quando pararam a admirar a paisagem de coqueiros e areia.

- Vi muita coisa, sim, o mundo todo. Mas pouco se enxerga quando estamos sozinhos. Nem dá gosto ver...

- Ah! - suspirou a grande baqueana. - É verdade... Nem dá gosto.

- Pobre de quem é sozinho.

- Ah!

- Me diga uma coisa: não pensa, se um dia...

- O quê?

Se encontrasse um homem experiente da vida e sozinho...

Um coração amante... Não aceitaria ligar sua vida à dele, ter uma casa sua, ser feliz?

- Tenho medo. Penso que nunca serei feliz...

Baixava a cabeça, perdia-se em suas recordações. O comandante buscava as palavras, era difícil. Nunca propusera casamento a mulher nenhuma, sua única experiência no assunto fora a valsa dançada com Madalena Pontes Mendes, nem chegara a falar. Como fazê-lo agora?

- Eu, se encontrasse moça a meu gosto, capaz de entender um velho...

- O senhor, um velho? Não diga isso...

- Pois era capaz de...

- Comandante! Comandante!

Vinha o senador, com dois outros, em direcção a eles.

- Antipático! - comentou Clotilde.

- Hein?

- Esse senador... Não já desembarcou, o que é que ainda quer?

O senador desejava apenas ser amável com o comandante, cuja autoridade e conhecimentos náuticos o haviam impressionado.

Apresentou os amigos, um deputado estadual e um coronel do interior, dois prestigiosos chefes políticos da terra, seus correligionários.

- Este aqui é o Comandante Vasco Moscoso de Aragão, homem de muitas viagens e aventuras. Andou por esse mundo afora... Um herói. 

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