sábado, junho 14, 2014

Preocupê-mo-nos com a vida.
PORQUÊ 

O DRAMA

DA MORTE










Era inevitável que sendo o homem um ser intelectualmente tão evoluído e sensível no mínimo não fizesse da morte um drama, compreende-se…

Conciliar o pensamento e a reflexão sobre a vida com um simples ponto final ao qual nada mais se segue parece-nos algo tão brutal e falho de lógica que a reacção, em termos de desespero, é sempre a mesma:

-“Tem de haver mais qualquer coisa”…

Alguns vivem fascinados e frustrados perante a morte porque não conseguem vislumbrar o que está para além dela e esta é a diferença entre os homens bem pensantes que ainda cogitam sobre a morte e aqueles que, hoje em dia, se limitam a viver preocupados em resolver os problemas do dia a dia continuando a pensar sobre a morte aquilo que os seus pais e avós sempre pensaram, “soprado” pelas religiões que também herdaram e que é uma forma de não pensarem.

A morte não é um desafio fácil de aceitar e abordá-lo é sempre um acto de coragem porque, diga-se sobre ela o que dissermos, a sensação que no fundo, lá bem no fundo nos fica, é que tudo quanto sobre ela se diga é pura especulação tendo mais a ver com a vida do que com a morte, a vida que desejaríamos nunca acabasse mesmo que, para isso, tenhamos que “criar” outros mundos e outras formas de vida.

Como se todos os seres vivos fossem dignos de morrer excepto o homem por não fazer sentido que a natureza o tenha feito evoluir para uma forma qualitativamente tão diferente e perfeita e reservar-lhe, no fim, exactamente o mesmo destino!

Esta necessidade de prolongarmos a vida para além da morte, porque é desta necessidade que se trata, foi ao longo da história da humanidade o factor mais determinante e influente da própria vida.

Vivemos sempre condicionados por aquilo que esperávamos que nos acontecesse após a morte e as religiões, lembre-mo-nos dos egípcios, mas também as monoteístas, mais organizadas e influentes, todas elas, souberam muito bem tirar partido desses condicionalismos.

Quando deixarmos de amar a Deus e em vez dele amarmos, no sentido de respeitar, a natureza, os outros homens e os restantes seres vivos que connosco partilham a vida na Terra, talvez então aceitemos melhor o nosso fim em pé de igualdade com as restantes formas de vida.

Somos, de facto, especiais, tivemos que o ser para sobreviver na luta que travámos para termos direito a um lugar ao sol mas continuamos sujeitos às leis fundamentais do Universo e desaparecer para sempre sem outras consequências que não sejam as transformações químicas que se operam a partir do momento da última batida do coração, é uma dessas leis.

Outra atitude que não seja esta, para além de representar uma veleidade que não nos fica bem, constitui, igualmente, uma enorme contradição para a nossa mente dada a dificuldade em conciliar o racional com as expectativas da fé.

Por isso, a Filosofia que alguns afirmam, entre outras coisas, ser um curso geral para a morte, talvez pudesse com mais vantagem, constituir um curso geral para a vida que nos ensinasse que todas as nossas energias devem ser canalizadas para a satisfação da responsabilidade do que significa estar vivo.

Responsabilidade connosco próprios, com o nosso semelhante e para com o planeta que é a casa onde vivemos, não em nome de, ou para agradar ou recear a um deus qualquer que nos espera após a morte para nos castigar ou premiar mas porque, neste momento, está já suficientemente instalada uma espécie de moral universal que aponta no sentido de que a nossa própria sobrevivência como espécie não é possível salvaguardar se não olharmos a vida como a nossa oportunidade de manter os equilíbrios entre nós, homens, e a natureza que nos suporta.

E para isso não é a nossa morte que nos deve preocupar mas antes as gerações vindouras que reivindicam, também elas, o direito à vida para poderem morrer como nós.

Sinceramente, julgo que estamos, neste aspecto, numa encruzilhada terrível porque temos a consciência de que a estamos a viver mas não temos a certeza de qual o caminho que vai ser percorrido.

O planeta como que estremece e agita, também ele parece inquieto quando o forçam a uma evolução mais rápida do que aquela que, naturalmente, se processaria.

Para ele, planeta, é indiferente mas para as formas de vida que suporta pode ser um abreviar das suas existências e por isso ele manda os seus avisos, alerta os homens, os únicos que os sabem interpretar e… aguarda.

Os fenómenos da natureza são o resultado de múltiplos equilíbrios que se estabelecem e restabelecem continua, lenta mas inexoravelmente.

A velocidade a que esses equilíbrios e reequilíbrios acontecem é a chave que facilita, dificulta ou impossibilita mesmo a sobrevivência das espécies através dos fenómenos de adaptação já explicados por Charles Darwin na sua Teoria da Evolução.

E é aqui que há verdadeiras razões para falar da morte que dizima e pode levar ao desaparecimento das espécies e não a morte natural dos indivíduos dentro de cada espécie indispensável, de resto, para a própria sobrevivência da espécie.

Será que a velocidade a que desaparece a massa de gelo do pólo Norte vai dar alguma hipótese de sobrevivência ao urso polar?

E o que irá acontecer aos milhões e milhões de pessoas que vivem à beira mar se a água dos Oceanos começar a subir a um ritmo que não permita a sua reinstalação noutras áreas com tempo para se adaptarem e aprenderem a fazer outras coisas?

E se alterações do clima, de repente, puserem em causa a produção de arroz no continente asiático como vão sobreviver os biliões de pessoas que dependem dele para se alimentarem?

E agora, sim, uma palavra para a fé, não em Deus ou em deuses mas a fé nos homens, de preferência em todos os homens, esclarecidos, responsáveis, capazes de pensar e decidir para o futuro, exactamente aquele futuro que neste momento parece tão ameaçado pelo egoísmo das actuais gerações.

Mais uma vez, como sempre, é nos homens que está, ou não, o futuro da humanidade.

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