Preocupê-mo-nos com a vida. |
PORQUÊ
O DRAMA
DA MORTE
Era inevitável que sendo o
homem um ser intelectualmente tão evoluído e sensível no mínimo não fizesse da
morte um drama, compreende-se…
Conciliar o pensamento e a
reflexão sobre a vida com um simples ponto final ao qual nada mais se segue
parece-nos algo tão brutal e falho de lógica que a reacção, em termos de
desespero, é sempre a mesma:
-“Tem de haver mais qualquer
coisa”…
Alguns vivem fascinados e frustrados perante a morte porque não conseguem vislumbrar o que está para além dela e esta é a diferença entre os homens bem
pensantes que ainda cogitam sobre a morte e aqueles que, hoje em dia, se limitam
a viver preocupados em resolver os problemas do dia a dia continuando a pensar
sobre a morte aquilo que os seus pais e avós sempre pensaram, “soprado” pelas
religiões que também herdaram e que é uma forma de não pensarem.
A morte não é um desafio
fácil de aceitar e abordá-lo é sempre um acto de coragem porque, diga-se sobre
ela o que dissermos, a sensação que no fundo, lá bem no fundo nos fica, é que
tudo quanto sobre ela se diga é pura especulação tendo mais a ver com a vida do
que com a morte, a vida que desejaríamos nunca acabasse mesmo que, para isso,
tenhamos que “criar” outros mundos e outras formas de vida.
Como se todos os seres vivos
fossem dignos de morrer excepto o homem por não fazer sentido que a natureza o
tenha feito evoluir para uma forma qualitativamente tão diferente e perfeita e reservar-lhe,
no fim, exactamente o mesmo destino!
Esta necessidade de
prolongarmos a vida para além da morte, porque é desta necessidade que se
trata, foi ao longo da história da humanidade o factor mais determinante e
influente da própria vida.
Vivemos sempre condicionados por
aquilo que esperávamos que nos acontecesse após a morte e as religiões, lembre-mo-nos dos egípcios, mas também as monoteístas, mais organizadas e influentes, todas elas, souberam muito bem
tirar partido desses condicionalismos.
Quando deixarmos de amar a
Deus e em vez dele amarmos, no sentido de respeitar, a natureza, os outros
homens e os restantes seres vivos que connosco partilham a vida na Terra,
talvez então aceitemos melhor o nosso fim em pé de igualdade com as restantes
formas de vida.
Somos, de facto, especiais,
tivemos que o ser para sobreviver na luta que travámos para termos direito a um
lugar ao sol mas continuamos sujeitos às leis fundamentais do Universo e
desaparecer para sempre sem outras consequências que não sejam as transformações
químicas que se operam a partir do momento da última batida do coração, é uma
dessas leis.
Outra atitude que não seja
esta, para além de representar uma veleidade que não nos fica bem, constitui,
igualmente, uma enorme contradição para a nossa mente dada a dificuldade em
conciliar o racional com as expectativas da fé.
Por isso, a Filosofia que alguns afirmam, entre outras coisas, ser um curso geral para a morte,
talvez pudesse com mais vantagem, constituir um curso geral para a vida que
nos ensinasse que todas as nossas energias devem ser canalizadas para a
satisfação da responsabilidade do que significa estar vivo.
Responsabilidade connosco
próprios, com o nosso semelhante e para com o planeta que é a casa onde
vivemos, não em nome de, ou para agradar ou recear a um deus qualquer que
nos espera após a morte para nos castigar ou premiar mas porque, neste momento,
está já suficientemente instalada uma espécie de moral universal que aponta no
sentido de que a nossa própria sobrevivência como espécie não é possível
salvaguardar se não olharmos a vida como a nossa oportunidade de manter os
equilíbrios entre nós, homens, e a natureza que nos suporta.
E para isso não é a nossa
morte que nos deve preocupar mas antes as gerações vindouras que reivindicam,
também elas, o direito à vida para poderem morrer como nós.
Sinceramente, julgo que
estamos, neste aspecto, numa encruzilhada terrível porque temos a consciência
de que a estamos a viver mas não temos a certeza de qual o caminho que vai ser
percorrido.
O planeta como que estremece
e agita, também ele parece inquieto quando o forçam a uma evolução mais rápida
do que aquela que, naturalmente, se processaria.
Para ele, planeta, é
indiferente mas para as formas de vida que suporta pode ser um abreviar das
suas existências e por isso ele manda os seus avisos, alerta os homens, os
únicos que os sabem interpretar e… aguarda.
Os fenómenos da natureza são
o resultado de múltiplos equilíbrios que se estabelecem e restabelecem continua,
lenta mas inexoravelmente.
A velocidade a que esses
equilíbrios e reequilíbrios acontecem é a chave que facilita, dificulta ou
impossibilita mesmo a sobrevivência das espécies através dos fenómenos de
adaptação já explicados por Charles Darwin na sua Teoria da Evolução.
E é aqui que há verdadeiras
razões para falar da morte que dizima e pode levar ao desaparecimento das
espécies e não a morte natural dos indivíduos dentro de cada espécie
indispensável, de resto, para a própria sobrevivência da espécie.
Será que a velocidade a que
desaparece a massa de gelo do pólo Norte vai dar alguma hipótese de sobrevivência
ao urso polar?
E o que irá acontecer aos
milhões e milhões de pessoas que vivem à beira mar se a água dos Oceanos
começar a subir a um ritmo que não permita a sua reinstalação noutras áreas com
tempo para se adaptarem e aprenderem a fazer outras coisas?
E se alterações do clima, de
repente, puserem em causa a produção de arroz no continente asiático como vão
sobreviver os biliões de pessoas que dependem dele para se alimentarem?
E agora, sim, uma palavra
para a fé, não em Deus ou em deuses mas a fé nos homens, de preferência em
todos os homens, esclarecidos, responsáveis, capazes de pensar e decidir para o
futuro, exactamente aquele futuro que neste momento parece tão ameaçado pelo
egoísmo das actuais gerações.
Mais uma vez, como sempre, é
nos homens que está, ou não, o futuro da humanidade.
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