quarta-feira, julho 30, 2014

Construtores do Caos
Construtores do Caos















O Prof. Viriato Soromenho Marque, a propósito do que está a acontecer no GES – BES, formula, também ele, aquela pergunta simples:

 - Como foi possível que aquelas gravíssimas práticas fraudulentas tenham escapado durante anos à vigilância das autoridades de regulação, incluindo a vigilância da troyka sobre o sector bancário?

A resposta parece ser dura e mesmo acusatória mas é, no fundo, muito simples:

 - Porque os governos dos últimos 30 anos, independentemente de serem da esquerda ou da direita, foram responsáveis pela criação de alçapões e de opacidades que transformaram o sistema bancário europeu e mundial num campo minado onde aventureiros põem em perigo a segurança de milhões de pessoas.

Como não acredito que as pessoas da política, aquelas que deviam defender os cidadãos, sejam menos inteligentes que os banqueiros, a única conclusão é que o poder está do lado destes. Têm mais força e acabam por impor as decisões que lhes são favoráveis até ao dia em que uma revolução social reponha o poder nas mãos dos políticos.

Em 1933, em plena Grande Depressão, o Congresso do E.U.A. o Congresso produziu uma lei que restaurou a confiança no sistema financeiro separando os bancos Comerciais dos bancos de Investimento.

Por outras palavras, os bancos que recebiam as poupanças das pessoas, os depositantes, e que emprestavam às empresas na economia não podiam fazer operações especulativas com produtos financeiros.

Durante décadas prevaleceu esta prática saudável que permitiu prosperidade económica, a par da visibilidade e eficácia no trabalho dos reguladores económicos.

O lóbi financeiro, contudo, a par dos neoliberalismos, não descansou enquanto não meteu no bolso os governos e os parlamentos necessários para misturar tudo de novo.

Em 1999 o Congresso americano revogou a lei de 1933, regressando-se à promiscuidade especulativa, incluindo a EU onde as leis se liberalizaram no sentido de criar obscuridade onde havia transparência.

Dessa forma, as famílias e as suas pequenas poupanças ficaram expostas ao labirinto arriscado das acções, das obrigações e de quanto a imaginação fraudulenta pudesse imaginar.

Recordo-me dos depositantes a prazo do BPP que ficaram sem o seu dinheiro porque assinaram papéis que transformaram esses depósitos em outra coisa que já não o eram embora os funcionários, aos balcões, garantissem aos depositantes o contrário.

Os políticos que se queixam dos banqueiros deveriam ter vergonha. Forja-se uma legalidade que permite as fraudes e a impunidade de quem as pratica.

As famílias não deveriam poder controlar bancos através de participações em cascata de holdings não cotadas nem sujeitas a supervisão.

Foi assim que Champalimaud reconstruiu o seu Grupo, o mesmo acontecendo agora com a família Espírito Santo.


Os problemas que estão a contaminar o BES vêm precisamente da área não financeira, onde a gestão da família punha e dispunha sem controle nem avaliação do risco... e depois o banco financiava. O resultado está à vista. 

Site Meter