terça-feira, julho 15, 2014

Elevou a voz de comando, ditou ordens.
TOCAIA GRANDE
(Jorge Amado)

Episódio Nº 1












Tocaia Grande é a história da fundação de uma cidade no sul da Bahia numa época em que as plantações de cacau eram adubadas com sangue.

A história conta a disputa pela terra e pelo domínio político entre os coronéis Boaventura Amaral e Elias Daltro.

Tudo começa quando Natário da Fonseca quer deixar de ser um simples jagunço para virar coronel. Natário se destaca... não, não digo mais, vamos contar a história em episódios diários com descanso aos Domingos como temos feito em romances anteriores de Jorge Amado.

Eu não conheço a história e vou lê-la, como os meus amigos, episódio após episódio, saboreando...


JORGE AMADO
 ROMANCE



TOCAIA GRANDE

A Face Obscura



O LUGAR


Natário da Fonseca, homem de confiança, arma tocaia em lugar bonito.


1

 Antes de existir qualquer casa, cavou-se o cemitério ao sopé da colina, na margem esquerda do rio. As primeiras pedras serviram para marcar as covas rasas nas quais foram enterrados os cadáveres no fim da manhã, hora do meio-dia, quando finalmente o coronel Elias Daltro apareceu cavalgando à frente de alguns poucos capangas – quatro gatos pingados, os que haviam permanecido na fazenda – e se deu conta da extensão do desastre.

Não ficara sequer um cabra para contar a história.

O coronel contemplou os corpos ensanguentados. Benito morrera com o revólver na mão, não tivera ensejo de atirar: a bala arrancara-lhe o tampo da cabeça, o coronel desviou a vista. Compreendeu que aquela carnificina significava o fim, já não tinha meios para prosseguir.

Trancou a aflição dentro do peito, não deu mostras, não deixou que os outros percebessem. Elevou a voz de comando, ditou ordens.

Apesar do temporal – chuva de açoite, nuvens negras, trovões espoucando na mata – alguns urubus atraídos pelo sangue e pelas vísceras expostas, sobrevoaram os homens ocupados no transporte dos corpos e na abertura das covas.

- Depressa antes que o fedor aumente.

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