O impensável aconteceu e eu tive dificuldade em conciliar o sono. Fechava os olhos e via rostos de crianças e mulheres, pintadas de amarelo e verde, por onde desciam lágrimas tumultuosas em algumas, noutras, num sereno deslizar. E via também bocas abertas de espanto e mãos segurando as cabeças.
O futebol tinha adqui rido
outra dimensão, deixou de ser um jogo e passou a tragédia, drama
Shakespeariano, um Romeu e Julieta.
Vencidos e vencedores saíram do campo
esmagados pelo resultado sem lugar a festejos porque era mais importante
abraçar os vencidos do que desatar a correr campo fora, braços no ar, gritando
vitória.
Os alemães estavam acabrunhados,
comprometidos pelo que tinha acontecido. Eles apenas desejavam ganhar o jogo e
passar às finais e não esmagar o adversário, profissionais como eles, em alguns
casos mesmo colegas de equi pa nos
Clubes onde jogam.
Não, aqui lo
não foi querido nem desejado, apenas uma ocorrência estranha, rara, como um
Óvni que tivesse feito a sua aparição. Os jogadores entreolham-se e
perguntam-se o que aconteceu realmente porque coisa natural não foi.
O Brasil perdeu por 7 a 1 a semi-final do Campeonato do
Mundo, disputado no seu próprio país, junto da sua gente e isto é um fenómeno.
Um jogador do Brasil, vi eu, após o
apito final, ajoelhar-se e dirigir-se fervorosamente a Deus, não sei se
agradecendo-lhe por não ter perdido por 10 a 0 ou recriminando-o por tê-lo abandonado
quando tanto precisava dele.
Nunca o futebol esteve tão impregnado de
crenças e fé. Entram em campo, rezam, benzem-se, apontam os dedos para o céu,
viram as mãos abertas uma para a outra como que segurando o livro sagrado, de
tal forma que eu fico em dúvida se vamos assistir a um espectáculo desportivo
ou a uma cerimónia religiosa.
A televisão que devia ter o bom senso de
nos poupar a estas cenas, como faz como com os espontâneos, em vez disso foca-os
como se fosse algum comportamento que devesse ser mostrado, ou exemplo a
seguir.
Se é verdade o que nos diz o grande
escritor da Baía, Jorge Amado, de que os brasileiros são muito crentes e dados
a macumbas e feitiços, então aqui lo
foi feitiço e dos grandes que era para ser para os alemães mas que à última da hora se virou contra o próprio
feiticeiro.
Alguém tem dúvidas de que, dez jogadores
do Brasil acantonados dentro da sua grande área enquanto os jogadores alemães
trocam a bola entre si, calmamente, só pode acontecer porque eles estavam
enfeitiçados?
Ouvi também um outro jogador brasileiro
com aquele desabafo da treta de que agora era levantar a cabeça. Não, meu caro,
essa de levantar cabeça é só para quando se perde, não para quando se é
esmagado.
O Brasil deve pedir dispensa do próximo
jogo e entrar para um retiro, junto da natureza, do ar puro, dos passarinhos,
mantendo-se o mais possível em silêncio com uma alimentação de fruta e vegetais
e só água para beber, numa espécie de purificação espiritual.
Para companhia devem levar um pequeno
livro, de Antoine de Saint-Exupery, "O Pequeno Príncipe", que talvez conheçam. É o livro francês mais
vendido no mundo, 143 milhões de exemplares. É uma obra para crianças mas que
possui um grande teor poético e filosófico. É um livro de grande ternura
daqueles que nos lava a alma.
O Filipão reagiu como é hábito nos
crentes católicos. Assumiu toda a responsabilidade e pediu desculpas. Não sei
se rezará alguma penitência mas não passa daqui... ficará tudo na mesma.
Nós em Portugal já o conhecemos. Ficou célebre
a sua frase quando depois de sacar uns milhões ao Chelsea perguntava:
- E o burro sou eu?
É, sem dúvida, um grande promotor e
dinamizador de eventos socais e desportivos mas não o metam a seleccionador e
muito menos a treinador.
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