quinta-feira, julho 17, 2014

Eles vão ser os autores e personagens de uma história de amor.
Por Que Nos

Apaixonamos?













Continuemos com o tema anterior sobre o por quê do amor romântico fazendo perguntas que foram já respondidas por Helen Fisher mas numa abordagem, digamos, mais romântica, menos científica.

 - Por que nos apaixonamos?

- Por que concentramos numa pessoa toda a nossa atenção como se ela fosse a única no mundo?

 - Por que suspiramos longa e repetidamente quando estamos apaixonados?

 - Por que ficamos possuídos de uma enorme energia que nos permite andar a noite toda e conversar até ao amanhecer?

 - Por que bate o nosso coração mais depressa e nos suam as mãos quando estamos juntos da pessoa amada?

 - Por que chegamos ao ponto de pôr termo à vida por não sermos capazes de a enfrentar sem essa pessoa?

A primeira reposta para todas estas perguntas que são apenas uma síntese de muitas outras que se poderiam colocar é muito simples:

- Porque o amor faz parte da nossa própria natureza, tanto quanto o medo ou a fome, e terá começado nos primórdios da humanidade tendo evoluído da simples atracção sexual até ao amor romântico que cativa e nos prende ao nosso parceiro sexual.

Se hoje é mais difícil criar um filho sem a intervenção, a presença ou o apoio de um pai, como não teria sido no princípio desta longa caminhada que a humanidade já trás percorrida, quando as mulheres transportavam, em regiões perigosas, um filho nos braços e não nas costas como os restantes primatas, com um corpo despido de cabelos onde ele não se podia agarrar, e que tinha ainda, entre outras coisas, que procurar comida?

O amor romântico constituiu um factor decisivo no triunfo da nossa espécie porque assegurou e deu consistência à relação entre o pai e a mãe sem a qual os filhos dificilmente sobreviveriam e explica porque o amor não dura para sempre… porque deixa de ser indispensável.

Nós gostaríamos de pensar que nos apaixonámos para nosso deleite, que tudo teve a ver apenas com uns olhos negros ou o requebre daquele corpo com o qual, um dia, nos cruzámos, que foi tudo apenas uma experiência feliz da nossa vida... obra do acaso. 


Afinal, tudo se inscreveu em teorias científicas que quebram o encantamento da relação e da história do nosso amor.

Gostaríamos muito mais que o mistério prevalecesse, que fôssemos não só os únicos como igualmente a razão de ser de tão linda história de sentimentos que nada teve a ver com mais ninguém ou com o que quer que fosse.

E, no entanto, tudo foi uma questão de altos níveis de dopamina que são neurotransmissores que estimulam a actividade do sistema nervoso central e à qual se juntou a feniletilamina e a ocitocina, químicos que são normais no nosso corpo mas que se juntam num determinado momento, para desencadearem a paixão.


Com o tempo, o organismo torna-se resistente aos seus efeitos e a “loucura” passa... sem que nunca tivéssemos chegado a saber os nomes dos verdadeiros responsáveis, de resto, feios e difíceis de dizer.

Mas, sejam quais forem os processos químicos, a relação amorosa continua a ter qualquer coisa de sublime, de poético, que não se presta a comparações com uma simples atracção sexual porque ninguém pensa obsessivamente numa mulher apenas por um desejo sexual momentâneo que, satisfeito, rapidamente leva ao esquecimento da relação, nem se circunscreve às inexoráveis explicações do ponto de vista científico por mais correctas e exactas que elas sejam.

No primeiro momento, mágico, a excitação é tão grande que o desejo da posse cede lugar ao da contemplação e do enlevo... morrêssemos nós nesses instantes e iríamos felizes para o outro mundo.

Amanhã mesmo, mais homens e mulheres vão iniciar o deslumbrante e arriscado processo de amor e ao fazê-lo vão ter a mais importante experiência das suas vidas.

É certo que essas experiências se inscrevem numa longa lista de experiências, de tal forma longa que o cérebro as interiorizou e tornaram-se, por essa razão, imperativas, mas eles não sabem isso, tão pouco lhes interessa.

Eles vão ser autores e personagens de uma história de amor que poderá muito bem ser a história da vida deles, aquela que valerá a pena recordar quando a vida se for esfumando por entre o emaranhado dos anos.

Talvez algum deles seja escritor e não lhe baste apenas a sua história de amor… ou prefira criá-la na sua imaginação em vez de a viver…ou a recrie para esquecer uma má história de amor.

Com o amor romântico, como lhe chamam os estudiosos, tudo é possível de acontecer.

É verdade que a fé religiosa tem aspectos em comum com o enamoramento e ambos têm muitas das características da euforia induzida por uma droga viciante.

Uma faceta, das muitas faces da religião, é o amor intenso centrado numa pessoa sobrenatural, isto é, em Deus, acompanhado da veneração de ícones dessa pessoa e é grande o reforço positivo que a religião presta através de sentimentos reconfortantes e calorosos por sermos amados e protegidos num mundo perigoso, pela perda do medo da morte, do auxílio vindo não se sabe de onde em resposta a preces em tempos difíceis, etc.

De igual modo, o amor romântico por uma pessoa real apresenta a mesma concentração intensa no outro e também reforços positivos pelos sentimentos que desencadeia com a ajuda igualmente de ícones que, neste caso, poderão ser cartas, fotografias e até mesmo madeixas de cabelo como era hábito no século XIX.

Podemos controlar o nosso comportamento, não podemos controlar o sentimento do amor da mesma forma que também não se consegue controlar a fome, a sede, ou o instinto maternal.

Se o meu amor me deixar eu posso controlar o meu comportamento e não ir atrás dele, mas é impossível controlar os meus sentimentos pela simples razão que sobre eles não tenho controle, só o tempo poderá ajudar ou então, como diz o povo, sábio, procurando novo amor porque, por vezes, “o mal do cão cura-se com o pelo do mesmo cão”.

Mas, vivendo muitos de nós rodeados por tantas pessoas por que nos apaixonamos por uma e não por qualquer outra?

Mais uma vez a química parece ser a chave das atracções entre as pessoas que, em princípio, se sentirão atraídas para aquelas que têm um perfil químico complementar do seu de forma a equilibrarem-se.

Por exemplo, pessoas com altos níveis de serotonia tendem a ser mais calmas enquanto as de altos níveis de dopamina são mais agitadas e esta circunstância poderá constituir um factor de atracção entre ambas para, de certa forma, se equilibrarem ou complementarem.

Certo, certo, é que os homens se apaixonam mais fácil e rapidamente que as mulheres e de 4 pessoas que se matam por não suportarem o fim da relação, 3 são homens.

Julga-se que as mulheres são mais apaixonadas mas os estudos revelam que os mecanismos são muito parecidos, embora o estímulo visual seja mais activo no homem do que nas mulheres talvez porque, nas eras do antigamente, os homens tinham que olhar para as mulheres para tentarem perceber as que tinham condições de lhes dar filhos saudáveis.

Em contrapartida, as mulheres, vá lá saber-se porquê, revelam uma melhor memória recordando mais facilmente um relacionamento.

De qualquer maneira, o amor é imparável e se lhe é colocado qualquer tipo de barreira o resultado será intensificá-lo ainda mais.

Num estudo efectuado com 32 pessoas loucamente apaixonadas o que os cientistas observaram é que quando uma delas olha a fotografia da pessoa amada a parte do cérebro que se torna activa fica bem no interior do órgão pelo que se pode concluir que se trata de um sistema antigo e primitivo.

Os cientistas envolvidos neste estudo acreditam que, ligados ao tema do amor, temos três sistemas cerebrais diferentes:

- O primeiro trata do impulso sexual;

- O segundo do amor romântico, um estágio intenso de sentimentos obsessivos associados ao parceiro;

- Um terceiro que tem a ver com a sensação de segurança que se sente quando vivemos com alguém por muito tempo.

Posto isto, parece que o amor romântico não é uma emoção mas várias emoções e acontece para que a pessoa apaixonada concentre a sua energia numa única para um compromisso que dure, pelo menos, o tempo suficiente para criar um filho.

Pesquisas efectuadas junto de 5000 pessoas de 37 culturas diferentes permitiram concluir que o amor tem um «tempo de vida» entre 18 a 30 meses, o suficiente para que o casal se conheça, copule e produza uma criança.

Apesar de todas as pesquisas e descobertas, anda no ar uma sensação de que a evolução, há cerca de 10.000 anos a esta parte, por algum motivo, modificou nossos genes permitindo que surgisse o amor não ligado à procriação.

Finalmente, de então para cá, o amor entre homens e mulheres pôde acontecer e algumas delas puderam passar a olhar os homens como algo mais do que máquinas de protecção o que é notório nestes últimos tempos, entre nós. 

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