(Na minha cidade de Santarém em 3/8/14)
Lembro que ao nascimento chegamos todos nus sem nada que nos distinga uns dos outros mas isso é obra de poucos minutos. Passados esses momentos temos em cima de nós roupas que começam a separar-nos e a tal igualdade ao nascer foi...
Mesmo assim, insistem que perante a lei
somos todos iguais em direitos e obrigações pelo que podemos esperar vir a ser
tratados pela vida fora de maneira idêntica por polícias e juízes... se vier a
ser caso disso.
Isto no que respeita aos cidadãos comuns
mas depois temos as “famílias” cujos filhos, que também nascem nuzinhos como os
outros, por breves instantes, nunca mais serão iguais aos restantes.
Alguns deles, filhos de progenitores
inteligentes, instruídos e educados – na vida não há vencedores burros – trazem
logo genes de qualidade, marcas importantes que irão ser trabalhadas na
“família” que se encarregará de lhes transmitir os tiques que serão a imagem de
marca de quem é importante, rico e poderoso.
O que as “famílias” ensinam a estes meninos
é que eles estão destinados a mandar nos outros meninos e para isso têm de
desenvolver ambição e aprender técnicas que a “família” bem conhece, fazem
parte do seu património.
Esta é uma característica da sociedade
portuguesa comprovada pelo facto de mais de metade das empresas do PSI 20 da
Bolsa de Lisboa serem de origem familiar num país onde 80% do tecido
empresarial é dominado por laços de parentesco: continua a ser o Portugal do
antigamente...
O menino Ricardo foi educado como o mais
promissor da família dos Salgados, o líder e por isso lhe deram um Banco que
teria até o seu nome: Espírito Santo, abençoado por Deus...
Espoliados pelos revolucionários do 25
de Abril, as “famílias” fugiram, a maior parte para o Brasil de onde prepararam
os seu regresso em fins de 1975 para recuperarem o que era delas e como não
tinham dinheiro recomeçaram as suas vidas e as suas fortunas acumulando dívidas
numa nova ciência chamada de engenharia financeira.
Uns tiveram mais sorte, como o
Champalimaud, que morreu em glória e deixou uma grande parte da sua fortuna a
uma instituição prestigiada ligada á Saúde e à Ciência.
Outros, como a família Espírito Santo, que
compreendia cinco ramos, foram cavando entre si ódios, rupturas até que a crise
que se abateu sobre o país acabou por lhes ser fatal.
O Banco deixou de dar dividendos entre
os accionistas e os membros da família deixaram de obter os rendimentos a que
se tinham habituado anos a fio e tudo ainda piorou quando o próprio Ricardo
começa a pedir dinheiro à família para aumentos de capital... é a história de
uma teia complexa e intrincada que acabou agora, mal como se sabe, com o
afastamento de Ricardo, a queda da família e prejuízos recordes, só no Banco,
fora as empresas do Grupo Espírito Santo, e no 1º Semestre do ano, da ordem dos 3.600
milhões de euros, 1.500 descobertos nos últimos dias.
Tanto dinheiro e descoberto tão à última
hora que há até quem pense, Miguel Sousa Tavares, que estão empolados...
Na selva da vida o menino Ricardo
cresceu e engordou para ser um enorme elefante que de tão grande a que chegou
deixou de ter comida que lhe chegasse.
Foi em frente, cego de ambição, de fome
por dinheiro, atropelou com o seu enorme corpanzil tudo e todos até se
estatelar, caindo redondo.
Pergunta-se agora, se a lei da selva, a
mesma que lhe permitiu crescer e engordar sem respeitar os direitos dos outros,
enganando-os, esmagando-os, irá abater-se sobre ele ou, em vez disso,
continuará a protegê-lo na "morte" como o protegeu na "vida".
O menino Ricardo, de um dos cinco ramos da "família" dos E.S., já não existe como banqueiro mas o seu poder como homem de memória é enorme.
Ele possui a capacidade de "destruição criativa", como lhe chamou Paulo Baldaia do DN, e não fosse o seu enorme orgulho, perante ódios da família e a fuga dos "amigos", poderia ser levado a abrir o saco e contar, "pondo o nome nos bois", como diz o povo, muito do que foi a sua experiência de vida como a pessoa mais poderosa deste país nos últimos 15 ou 20 anos, o tal a quem chamavam o "dono disto tudo".
A solução para o BES já aí está e, desta vez, são os donos, accionistas e obrigacionistas, que vão suportar as consequências o que não quer dizer que todos nós não pagaremos também.
Resta saber, a história ainda não está toda contada, o que do ponto de vista criminal, irá sobrar para Ricardo E.S. e seus cúmplices.
Será o teste final à lei da selva em que tudo isto se desenrolou.
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