quinta-feira, agosto 21, 2014

Só com papel à frente...
O CONTEXTO















Alguns dos nossos políticos menos vocacionados para o exercício da função, têm dificuldade em controlar as palavras quando falam para os meios de comunicação social produzindo afirmações “politicamente incorrectas” e como as palavras são como as pedras, que quando saem da mão já não voltam,  recorrem por sistema ao "contexto" como náufragos aflitos em busca de salvação quando dizem o que não devem mas o que pensam ou lhes apetece dizer.

Convencionaram, então, que as palavras só têm o significado que têm se não houver um problema de contexto que à posteriori, numa de emendarem a mão, esclarecem qual é.

Do género:

-  Mas, VªEx.ª afirmou que se ia demitir por cansaço…

- Não, não. O senhor não pode retirar as minhas palavras do contexto em que elas foram proferidas: ora eu tinha acabado de subir as escadarias do Ministério e estava, de facto, muito cansado e daí a minha afirmação perfeitamente compreensível e justificada.

E aqui temos, como fora do contexto, o que se disse não vale ou vale uma coisa diferente. É preciso interpretar e nem sempre os destinatários das palavras têm essa capacidade por não estarem à altura do entrevistado ou porque, simplesmente, são mauzinhos…


Mais três exemplos que ficaram na memória:

1º- Do Presidente da Associação de Municípios, Fernando Ruas, hoje no Parlamento Europeu.

- Mas o Sr. Presidente disse textualmente: “Corram com eles à pedrada”.

 -
"Não, não. Não vá por aí, não retire essa afirmação do contexto. Eu estava a presidir a uma Assembleia das Juntas de Freguesia…”

Ficamos, neste caso, a saber que numa reunião da Assembleia de Juntas de Freguesia a expressão: “Corram-nos à Pedrada” significa: “Convidem-nos delicadamente a irem-se embora.”

2º - Do Chefe do Governo, deste ou do outro:

 - Mas VªExª afirmou que a Crise Acabou.

 - Não, não. O senhor está a retirar as palavras do contexto em que foram ditas e esse contexto é de esperança e de optimismo para o futuro no qual a crise irá acabar e esta é que é a interpretação correcta das minhas palavras, foi o que, rigorosamente, eu disse.

3º -  Do Ministro da Economia:

 - Mas VªExª afirmou que a energia eléctrica iria sofrer no próximo ano um agravamento de 17,8%...

 - Não, não. O senhor está a citar as minhas palavras fora do contexto de anos e anos em que os consumidores andaram a pagar a electricidade abaixo do seu custo real e por isso a minha vontade era que no próximo ano sofressem esse aumento de 17,8% mas, atendendo a que se trata de um bem de primeira necessidade ao qual as camadas mais débeis da população não se podem furtar, o Governo, sensível que é ás questões de natureza social, irá ponderar essa situação e decidir um aumento que se ficará apenas pelos 6%.

Sinceramente, não há pachorra... ou será alguma nova forma de dislexia em que as dificuldades de ler e escrever são substituídas por problemas de expressar oralmente o nosso, deles, pensamento?

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