domingo, setembro 14, 2014

Largo do Seminário em Santarém
HOJE É DOMINGO
(Na minha cidade de Santarém em 14/9/14)














Quando um jovem, não interessa que seja português, recentemente integrado num grupo de jihadistas que opera algures no Médio Oriente, declara numa entrevista de que aquilo de que gosta é disparar e matar, do que estamos a falar é da própria natureza humana, mais do que de ressentimentos, ódios ou vingança contra a sociedade, muito menos de religião, ainda para mais sendo um jovem.

Lembrei-me imediatamente do Prémio Nobel Richard Dawkins de quem me tenho socorrido tanto neste blog quando, no seu livro “O Gene Egoísta”, afirma que, se estamos à espera que a nossa natureza nos ajude a ser “bonzinhos”, podemos tirar o “cavalinho da chuva”.

Os nossos genes estão determinados em competir uns com os outros à procura da melhor solução para sobrevivência. Não é a entreajuda e a cooperação que neles está inscrita, o que os move é a competição pela sobrevivência. Essa é a “ordem” da vida.

Os nossos genes não são “bonzinhos”, são competitivos. Desde o princípio da vida, há centenas de milhões de anos, que eles competem entre si num processo evolutivo em que a regra é de que só os mais aptos e com mais sorte sobrevivem e apenas por um maior ou menor período de tempo. Em animais superiores um dos recordistas será o crocodilo.

Mas o que é que isto tem a ver com as declarações do nosso jovem jihadista português de que aquilo que ele gosta é mesmo de disparar e matar? – Nada ou talvez tudo.

Eu tenho alguma dificuldade em compreender o que move este jovem, qual o seu objectivo de vida, o que é que ele pretende para além de disparar e matar.

Parece que na fase da vida em que se encontra a única coisa que o faz feliz é disparar e matar e afirma-o com a sinceridade e espontaneidade de quem sabe que essa é a palavra de “ordem” do grupo a que pertence.

Ao fazê-lo, satisfaz um desejo seu e, muito importante, cumpre o objectivo do grupo que passou a ser a sua tribo. É como se juntássemos na vida o útil e o agradável.

Ele não tem que temer as autoridades por infringir a lei ao disparar e matar, não, ali é a própria “lei” que o manda proceder desse modo.

Se ele disparar e matar, muito e bem, vai destacar-se, tornar-se mais respeitável, possivelmente subir na hierarquia do grupo, quem sabe, um dia, ser chefe ou sub-chefe, um exemplo a seguir.

A humanidade não construiu ao cimo da Terra um “Império do Bem”, apenas um “Império do Compromisso” no qual, com muitos tropeções tem sido possível viver.

Estes jovens estão determinados a construir um “Império do Mal” onde só eles cabem e no qual a religião é o pretexto, da mesma forma que já o tinha sido no passado quando o Imperador Constantino declarou o cristianismo como a religião oficial do Império Romano.

A religião tem esta capacidade de funcionar como cimento agregador, de unidade, de coesão, de justificação para os nossos actos por pior que eles sejam, e os cabecilhas têm a esperteza de perceberem isto em todas as suas consequências.

Os líderes políticos do mundo, com Obama à cabeça, entenderam o perigo e perceberam que o adversário só pode ser eliminado por uma coligação de forças e de países.

Ou eles ou nós, com a diferença de que o nosso desejo e felicidade não é disparar e matar, é tão somente defendermos o nosso direito à vida, à nossa maneira de viver que é tão importante como a própria vida.

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