(Na minha cidade de Santarém em 21 de Setembro de
2014)
Depois de um ligeiro assomo do SIM, que em determinado momento pareceu fazer frente a um previsível NÃO, o discurso de Gordon Brown, escocês, 1º Ministro do Reino Unido anterior a Tony Blair, mal sucedido enquanto tal mas de inteligência e sensibilidade superiores, entrou em cena, fez um discurso e ajudou a resolver a questão ajudando os indecisos que votaram a favor do Não dando-lhe uma vantagem de 5% correspondente a 400.000 votos e passou ele a ser o herói.
E o que disse ele? – Falou de afectos,
de um património em comum vivido durante 300 anos, das conqui stas sociais obtidas, e afirmou que tudo isso não
podia ser deitado fora de um momento para o outro.
Eu compreendo os escoceses do SIM porque
há sentimentos de orgulho que permanecem por gerações.
Lembremo-nos da batalha de Aljubarrota e
o que ela desperta em nós:
- De um lado, os espanhóis, para quem
nós éramos os rebeldes, em número de 30.000, do lado português, pouco mais que
7.000, muito mais de 4 para 1.
- Desfecho final? - uma vitória
estrondosa dos portugueses.
Há quantos anos isto se passou? - Há
mais de 600 anos e, no entanto, ainda nos faz vibrar.
Os povos daquela região têm uma história
recheada de desentendimentos e disputas entre si mas, para se poderem
defenderem dos vikings, tiveram que se unir e formaram o Reino da Escócia no Século IX.
Mais recentemente, no princípio do Sec.XVIII o desenvolvimento económico passava pelo comércio com o novo mundo e os escoceses tinham falhado na tentativa de concorrerem com os ingleses nesse capítulo.
Os ingleses viram aqui
uma oportunidade de propor a união política da Escócia e da Inglaterra, uma
medida impopular na Escócia mas com vantagens para os dois lados.
Por um lado, os ingleses asseguravam o controlo político
da Escócia. Em contrapartida ofereciam aos escoceses o direito ao comércio nas
zonas da sua influência.
Em 1707 foi ratificado pelo parlamento escocês o tratado
que fundia politicamente a Escócia e a Inglaterra no Reino Unido. Foram
concedidos 45 lugares no parlamento inglês (Westminster) a deputados escoceses.
A Escócia manteve a sua religião presbiteriana e o seu sistema legal
independente da Inglaterra.
Ao abrigo desta União os escoceses prosperaram numa situação
que dura há três séculos e que não resultou do domínio imposto por derrota em
uma qualquer batalha mas antes de um acordo assumido livremente e com vantagens
para ambas as partes. Inglaterra e Escócia.
Repito que compreendo os escoceses na
sua idéia de independência que se liga à da liberdade mas já não concordo com
uma decisão oportunista, calculista tomada à pressa, de contas feitas em cima
dos joelhos em que: petróleo + salmão + wisky = a independência.
E quanto ao resto? –
-
Ao que é importante. A língua, a cultura, que não se resume a saias e a gaitas
de foles, os mortos nos campos da batalha que envergavam as mesmas fardas e
comiam pelas mesmas marmitas e os amores feitos e desfeitos, os casamentos, os
filhos em comum...tudo isto ao longo de 3 séculos, não conta?
Os afectos e desafectos ao longo de
todos esses 300 anos foram a água do banho em que ingleses e escoceses
mergulharam as suas vidas.
Não, ao contrário do que se possa
pensar, os que não aceitaram a separação, os que votaram Não foram os
verdadeiros sentimentais, apenas saudosistas e calculistas os que votaram no
Sim mas foi importante que o tivessem feito num exercício democrático de
consulta popular.
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