Os
mitos e as religiões permitiram durante muito tempo respostas à questão
angustiante sobre as origens do homem e o sentido da sua existência mas, em
contrapartida, pela sua própria natureza, elas fecharam-se a qualquer tentativa
de questionar essas mesmas respostas.
Foi preciso passar muito tempo, até
ao séc. VII A.C., na Grécia, para que fosse possível explorar mais uma via de
conhecimento, a via da ciência, que propõe uma verdade que, pela 1ª vez, se
deve demonstrar e pode ser sempre objecto de discussões.
Antes disso, primeiro na Mesopotâmia
e no Egipto e de seguida no Ocidente, os homens convencidos da realidade de um
Criador supremo sentiram necessidade de encontrar uma imagem correspondente nas
leis do universo.
Voltaram-se, então, para a observação
dos astros e não obstante o peso terrível dos mitos transformados em dogmas das
religiões na liberdade de pensamento, mesmo assim, foram possíveis descobertas
notáveis em astronomia e por vezes a intuições fulgurantes da natureza da vida
mas, no essencial, os resultados dessas observações foram desviados em proveito
da astrologia, da adivinhação e da magia.
No Oriente, onde a noção da criação é
muito difusa e a gestão do mundo não depende de uma entidade divina não se
sentiu logo a necessidade de procurar racionalmente uma causa exacta para as
leis que regem o universo e é então, na Grécia, que se desenvolverá pela
primeira vez um verdadeiro pensamento científico e aparecem as primeiras
propostas racionais sobre a origem do Universo, da Terra, da Vida e do próprio
Homem, e é interessante verificar que isto acontece num contexto geográfico e
histórico privilegiado: na encruzilhada das civilizações da Ásia e do Médio
Oriente.
Pouco se sabe das populações que
viveram na Grécia 2.000 anos A.C. já que a civilização helénica começa com os
povos denominados Acádios, de origem indo-europeia que, por aquela data,
penetram na Grécia e ali se instalam desenvolvendo uma civilização homogénea
que se distingue pelas suas tradições próprias, em si muito antigas, mas que
levam em consideração as crenças dos habitantes autóctones e que posteriormente
se enriquecem com as influencias de Creta, que lhe está muito próxima, da Ásia
e mesmo do Egipto.
Esta civilização, denominada Micénica,
estabelecida pelos Acádios, sofre grandes perturbações pelos consideráveis
movimentos de populações e estas circunstâncias dão lugar a que a Grécia, no
Séc.XII A.C., invente um novo tipo de sociedade baseado na síntese das
tradições da Ásia e do Médio Oriente.
Em comunhão constante com a natureza,
os gregos desenvolvem uma religião alegremente politeísta que lhes deixa uma
liberdade de espírito total e por isso, num contexto religioso pouco
constrangedor, foi junto dos poetas e dos filósofos que os Gregos da idade de
ouro do helenismo clássico, procuraram modelos de sabedoria e de virtude que
lhes permitiu desenvolver um pensamento realmente moderno e inovador baseado na
observação e na experimentação.
Será um princípio de ciência
sobrecarregada de erros enormes mas não deixa de ser, pela primeira vez, «a
Ciência».
Tales de Mileto, por exemplo, já não
aceita que a origem do mundo esteja nos deuses: ele imagina que uma substância
primordial, a água, se encontra na origem da infinita diversidade das coisas da
natureza, a qual deve também servir para as regenerar.
Anaximandro de Mileto é o primeiro a
imaginar a existência de uma espécie de hierarqui a
dos seres vivos que conduziria ao Homem.
Hipócrates sugere que as mudanças do
meio natural são, na origem, transformações do mundo dos seres vivos, conceito
este que não é muito diferente do “transformismo” que será desenvolvido por
Lamarck dois mil anos mais tarde.
Anaxágoras de Clazomenea tem a
intuição de que a matéria é constituída por partículas infinitamente pequenas
capazes de se agruparem em categorias semelhantes a fim de produzirem a ordem
da natureza.
Demócrito, considera que o mundo é
formado por partículas extremamente pequenas, duras e numerosas a que ele chama
átomos, isto é, indivisíveis e que se movimentam incessantemente no vazio
absoluto que os rodeia o que os leva a encontrarem-se e a agregarem-se uns aos
outros produzindo novas formas.
Epicuro desenvolverá este conceito
numa visão que faz do universo uma reunião de átomos descontínuos, inalteráveis
e eternos.
Não vale a pena continuar com a
descrição exaustiva do que foram os contributos dos sábios da antiga Grécia
porque o meu objectivo, em termos de conclusão, é de que a inteligência do
homem manifesta-se em todo o seu esplendor quando beneficia do contributo de
influencias de várias culturas e se desenvolve num quadro religioso que não
seja castrador da liberdade de pensamento.
Por estas razões, o período
compreendido entre os séculos VI e II A.C. pode considerar-se «chave» na
história da humanidade, marcado por uma autêntica explosão do pensamento.
A partir do século II A.C.com a
progressão espectacular da «ordem romana» baseada essencialmente em valores
militares e mercantis, o mundo ocidental inicia um longo período de estagnação
científica.
No século VII, a conqui sta árabe coloca o essencial da tradição
científica do Médio Oriente nas mãos de um povo que até então ignorava a
ciência mas os sábios do Islão saberão conservar e desenvolver essa herança.
A partir do século XIII os eruditos
árabes da África do Norte, da Sicília e da Espanha transmitirão essa herança ao
Ocidente com a qual será iniciado o Renascimento científico.
Durante a primeira parte da Idade
Média os verdadeiros sábios, capazes de observar e experimentar são poucos, mal
vistos, têm falta de meios e na maior parte das vezes são considerados
heréticos e feiticeiros.
O conjunto dos teólogos cristãos
dessa época têm como referência as ideias de Platão e Aristóteles que lhes
chegam mal traduzidas e das quais só conservam aqui lo
que é susceptível de apoiar o dogma da criação divina.
As obras de Aristóteles, revistas
pelos teólogos cristãos, são a base do ensino escolástico em que só os mestres
têm acesso aos textos comentados por eles e para os seus alunos e que culmina
com Tomás de Aqui no.
Mas homens como Roger Bacon e
Guilherme de Ockham, o primeiro ainda contemporâneo de Aqui no,
mostram-se rebeldes contra o argumento da autoridade que consiste em pretender
que uma coisa é necessariamente verdadeira porque Aristóteles o afirma!
Apoiando-se em observações cada vez
mais numerosas e experimentações mais exactas, aperfeiçoando os métodos e os
instrumentos de pesqui sa e pondo,
sobretudo, continuamente em causa os resultados obtidos, a Ciência, entre os
Séculos XIV e XVIII, teimosamente, irá minar a estrutura autoritária do
pensamento escolástico guiado e comandado pela Igreja Católica.
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