Vai ser preciso

 acreditar

Depois daqueles dias de felicidade colectiva que eu senti, com a Expo 98 e o Prémio Nobel da Literatura a José Saramago, este governo trouxe-me momentos de grande depressão.

A venda de quase todas as nossas grandes empresas, as “jóias da coroa” e as “jóias da república” que já foram quase todas, a TAP está na calha, a Banca para angolanos e espanhóis, a energia, seguradoras e hospitais para os chineses, a Cimpor e a PT delapidadas pelos brasileiros, os Vistos Golden, a partida para o estrangeiro dos nossos jovens mais aptos (200.000 em 3 anos), muitos deles para sempre.

Esta incompetência gritante de governantes, uns que já se foram embora, o Relvas, (que foi humilhação nacional), e o Álvaro que não era de cá mas do Canadá, agora o Crato e a Paula T. da Cruz, mais o BES e o GES, ontem o BPN... tudo isto confrange-me e deprime-me, põe-me a alma de luto.

Não sei se não estaremos a perder a nossa portugalidade e a dissolvermo-nos na europa e no mundo deixando de ser um país para passar a ser um lugar, como disse Manuel Gonçalves Mendes, autor do filme José e Pilar.

A forma como Passos Coelho nos tem vindo a tratar, com uma sobranceria e um estilo de agente liquidatário, mais que os sacrifícios, desmoraliza-me. Esta estranha sensação de que quando acabar fecha a porta, vai-se embora e o país deixa de existir...

Por favor, antecipem as eleições e tirem-me este fulano da frente com o seu convencimento, sobranceria e sorriso linear que me indispõe.

António Costa constitui a minha esperança, não para fazer impossíveis ou milagres mas para suscitar junto dos portugueses um estado de espírito favorável para um esforço e trabalho colectivos numa perspectiva diferente daquela que foi a de Passos Coelho.

Claro que não vai ser fácil, os constrangimentos financeiros impõem soluções imaginativas, umas, de elementar bom senso e competência, outras.

Depois da experiência destes últimos três anos continuamos a saber que ainda não conseguimos gerar receitas suficientes para pagar a totalidade dos nossos gastos, incluindo os juros anuais da dívida do Estado e essa diferença tem que ser financiada.

Quando chamámos a troyka em nosso socorro, aqueles que estavam dispostos a emprestar-nos dinheiro pediam-nos juros já tão altos que foram considerados incomportáveis pelo então ministro das Finanças que, recordo ainda, estabeleceu essa meta em 7% como limite máximo.

Por isso, o empréstimo da troyka a troco de um Acordo de sacrifícios para os portugueses que parece ter sido assumido com alegria pelos actuais governantes e alguns economistas que não viam qualquer outra solução que não fosse essa austeridade, achando até alguns que se devia ter ido muito mais longe nos cortes.

A grande diferença para agora é a existência de credores que voltaram a ter confiança em nós e se dispõem a emprestar-nos dinheiro a juros muito mais baixos e uma almofada financeira de quase dez mil milhõs o que torna o panorama das finanças públicas mais desafogado. Não sei bem como nem porquê. Somo tão pequeninos que mesmo nas decisões que nos dizem respeito contamos pouco para elas... 

Terá sido este o preço dos nossos sacrifícios?

Quanto ao resto, baixou o desemprego, talvez de forma ilusória, e continuou a aumentar a dívida do Estado que nunca parou de subir.

É este o quadro principal que António Costa irá encontrar se vier a ser o próximo 1º Ministro como eu acredito que seja, embora sem maioria absoluta.

Estou perfeitamente consciente das dificuldades que ele vai encontrar especialmente se determinados pressupostos não vierem a alterar - se, como os limites dos deficits orçamentais que já este ano não irão ser cumpridos pela França e pela Itália.

Mas continua a haver margens muito apertadas de natureza financeira e daqui a minha grande curiosidade para ver as decisões que virão a ser tomadas por Costa e a sua equipa, que espero seja o mais alargada possível e constituída por pessoas competentes e de valor, que as temos.

Fundamentalmente, vejo em Costa o político em melhores condições para ser o factor de aglutinação na sociedade portuguesa.

Sabemos, não todos por experiência própria, o que são sacrifícios, especialmente os desempregados já sem direito a subsídios e os mais velhos sem esperança de voltarem a ter um trabalho e os outros, aqueles que emigraram e que por isso fizeram baixar a taxa de desemprego deixando-nos mais pobres porque faziam parte da riqueza da nação.

Costa tem que restaurar a confiança no futuro, fazer regressar a esperança de que os sacrifícios não serão em vão e não repetir erros que nos deixam a todos descorçoados como aqueles que se passam agora na Educação e na Justiça, uns e outros inadmissíveis e que nada têm a ver a conjunturas desfavoráveis que costumam ser desculpa para tudo. Neste caso, apenas com a incompetência das pessoas que governam.