A cena da separação das águas que permitiu a fuga dos judeus.... |
MOISÉS
(Richard Dawkins)
(Richard Dawkins)
Falar
do antigo Testamento sem uma palavra para Moisés não faria sentido e Richard
Dawkins atribui-lhe a importância que ele realmente tem considerando-o um
modelo com mais probabilidades do que Abraão para atrair seguidores entre as
três religiões monoteístas.
Abraão pode até ser considerado o
Patriarca primacial, mas, se alguém merece a designação de fundador doutrinal
do Judaísmo e das religiões dele derivadas, esse alguém é Moisés.
O Deus de Abraão e de Moisés era
terrivelmente ciumento relativamente a outros deuses e isso é recorrente ao
longo de todo o Antigo Testamento e quando o seu povo se desviava do seu culto
a vingança era sempre terrível.
O episódio do bezerro de ouro e Baal,
o deus seu eterno rival, sedutor dos adoradores volúveis, são reveladores desse
ciúme que teria estado, de resto, na origem do 1ºe dos 3 seguintes dos 10
Mandamentos:
1º-Eu sou o Senhor teu Deus, não
terás outros deuses além de Mim;
2º- Não farás para ti esculturas nem
figura alguma do que está em cima nos céus, ou em baixo sobre a terra, ou nas
águas debaixo da terra: não te prostrarás diante delas e não lhes prestarás
cultos.
3º- Não pronunciarás em vão o nome do
Senhor teu Deus.
4º- Lembra-te de santificar o dia de
descanso; trabalharás durante 6 dias e farás toda a tua obra. Mas no 7º dia –
Que é um repouso em honra do Senhor teu Deus, não farás trabalho algum.
Parece, realmente, que Deus só estava
verdadeiramente preocupado consigo, com o seu poder único e indiscutível, muito
mais importante do que qualquer outra coisa que aos homens dissesse respeito…
No episódio do bezerro de ouro…Moisés
estava longe, em segurança, no monte Sinai conversando com Deus e recebendo
dele as Tábuas de pedra gravadas mas o povo, lá em baixo, vendo que Moisés
demorava a descer o monte não perdeu tempo, reuniu-se à volta de Aarão e
disse-lhe:
“ Vamos! Façamos para nós um deus que
caminhe à nossa frente pois a Moisés, esse homem que nos persuadiu a sair do
Egipto, não sabemos o que lhe terá acontecido” (Êxodo 32:1)
Então, Aarão, pôs toda a gente a
reunir o ouro que tinham e fundindo-o fez um bezerro de ouro e para esta nova
divindade construiu um altar para que todos pudessem começar a oferecer
sacrifícios.
A verdade é que deviam ter pensado
duas vezes antes de se porem com folestrias nas costas de Deus pois, mesmo
estando no cimo da montanha apercebeu-se de tudo, não esqueçamos que ele era
omnisciente, e despachou Moisés monte abaixo, à pressa, transportando as Tábuas
de pedra em que gravara os 10 Mandamentos.
Quando chegou e viu o bezerro de ouro
ficou tão furibundo que deixou cair as Tábuas que se partiram tendo Deus
substituindo-as por outras.
Moisés agarrou no bezerro de ouro,
queimou-o, reduziu-o a pó, misturou-o com água e obrigou o povo a engoli-lo.
Depois mandou a tribo sacerdotal
passar a fio de espada tantos quantos pudessem e isso resultou em 3000 mortos
que se julgaria suficiente para acalmar os ciúmes de Deus. Mas não, Deus ainda
não estava satisfeito.
No último versículo deste terrível
capítulo, o seu gesto de despedida foi lançar uma praga sobre o que restava do
povo “por ter instigado Aarão a fazer o bezerro”.
No capítulo 25 do Livro de Números
muitos judeus foram seduzidos pelas mulheres moabitas a oferecerem sacrifícios
ao deus Baal.
Mais uma vez Deus reagiu com a fúria
característica, ordenando a Moisés:
“Reúne todos os chefes do povo e
manda-os enforcar diante do Senhor, em pleno dia; depois a ira do Senhor se
afastará de Israel”.
Tendo prometido expulsar das suas
terras os infelizes dos Amorreus, Cananeus, Heteus, Ferezeus, Heveus e
Jebuseus, Deus passa, por fim, ao que realmente lhe interessa: a rivalidade com
deuses!
“…derrubareis os seus altares,
quebrareis os seus monumentos e cortareis as suas árvores sagradas. Não
adorareis nenhum outro deus, pois o Senhor chama-se zeloso; é um Deus Zeloso.
Não façais aliança
alguma com os habitantes desta terra porque, quando se prostituem aos seus
deuses e lhes oferecem sacrifícios, poderiam aliciar-te e comerias as vítimas
dos seus sacrifícios; poderias também escolher, entre as suas filhas, mulheres
para os teus filhos e essas mulheres, prostituindo-se aos seus deuses,
arrastariam os teus filhos que também se prostituiriam a esses deuses. Não
farás para ti deuses de metal fundido”. (Êxodo 34: 13-17).
A limpeza étnica iniciada nos tempos
de Moisés é levada a um extremo sanguinolento no Livro de Josué, um texto
marcante pelos massacres sanguinários que relata e pelo prazer xenófobo com que
o faz. Como reza o velho e encantador cântico, «Josué lutou na batalha de
Jericó e as muralhas desabaram…Não há ninguém como o bom velho Josué – é da
batalha de Jericó».
O bom velho Josué não descansou
enquanto não «passaram ao fio da espada quando nela encontraram, homens,
mulheres, crianças, velhos e os bois, as ovelhas e os jumentos» (Josué 6:21).
E não se pense, já agora, que a
personagem de Deus, presente em toda esta história alberga quaisquer dúvidas ou
escrúpulos acerca dos massacres e genocídios de que a ocupação da Terra Prometida
se fez acompanhar.
Pelo contrário, as suas ordens, por
exemplo, em Deuterenómio 20, são implacavelmente explícitas relativamente
aquelas tribos que tinham o infeliz azar de já habitarem o «lebensraum», uma
espécie de espaço vital da terra prometida: «quanto às cidades daqueles povos
que o Senhor, teu Deus, te há-de dar por herança, não deixarás subsistir nelas
nem uma só alma. Votarás à destruição, o heteu, o amorreu, o cananeu, o
farezeu, o heveu e o jebuseu como te ordenou o Senhor, teu Deus.»
Será que as pessoas que apontam a
Bíblia como inspiração para a rectidão moral têm a mais pequena noção no que,
na realidade lá está escrito?
Exemplo:
No Livro de Números 15, os filhos de
Israel encontram um homem no deserto a apanhar lenha num sábado, dia proibido.
Levam-no e perguntam a Deus o que
fazer com ele.
Acontece que nesse dia Deus não está
para meias medidas.
“Então o Senhor disse a Moisés: “Esse
homem será morto, toda a assembleia o apedrejará, fora do acampamento”. De
facto, toda a assembleia o fez sair do acampamento, apedrejando-o e foi morto”.
Teria este inofensivo homem que
apanhava lenha, uma mulher e filhos para lhe chorarem a morte? Teria gritado de
dor enquanto a fuzilaria lhe esmagava a cabeça?
O que choca nesta história não é o facto
de ter acontecido, até porque, provavelmente, não aconteceu.
O que surpreende é as pessoas hoje
basearem as suas vidas num modelo de comportamento medonho como é o de Jeová e,
pior ainda, que tentem mandar em nós impingindo-nos o mesmo monstro maligno.
Claro que os tempos mudaram e nenhum
líder religioso da actualidade (tirando os talibãs ou os seus equi valentes entre os cristãos norte americanos)
pensa como Moisés mas um Bispo da actualidade sobre os 10 Mandamentos do Antigo
Testamento diz «que eles contêm a maior base da moralidade, retêm princípios
fundamentais sem os quais seria impossível a existência de qualquer sociedade
humana, sendo uma espécie de Carta Magna da humanidade».
Já agora, para que não fiquem
incompletos os 10 Mandamentos das tábuas que Deus deu a Moisés, para além dos 4
primeiros já transcritos e que apenas se preocupam com a blindagem total do seu
próprio poder, eles completam-se com:
5º - Honra o teu pai e a tua mãe para
que os teus dias se prolonguem sobre a terra;
6º - Não matarás;
7º - Não cometerás adultério;
8º- Não furtarás;
9º- Não levantarás falsos testemunhos
contra o teu próximo;
10º - Não cobiçarás a mulher do teu
próximo e não cobiçarás a casa do teu próximo, nem o seu escravo, nem a sua
escrava, nem o seu boi, nem nada que lhe pertença.
Não sei se há 3.500 anos este
conjunto de regras representavam algum avanço em termos de justiça social ou se
já nesse tempo eram uma “espécie de chover no molhado”.
Serem consideradas, hoje, a Magna
Carta da humanidade diz muito sobre a actualidade do pensamento de alguns
Bispos da Igreja.
Mais, se levássemos a sério os 10
Mandamentos, classificaríamos a adoração de falsos deuses e a construção de
ídolos em primeiro e segundo lugares na lista de pecados.
Em vez de condenarmos o
inqualificável vandalismo dos talibãs, que fizeram explodir os Budas de Bamyan,
estátuas de 45 metros
de altura localizadas nas montanhas do Afeganistão, louvá-los-íamos pela sua
justa devoção porque aqui lo que
tomamos por vandalismo seria, sem dúvida, motivado por sincero zelo religioso.
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