sábado, novembro 15, 2014

Jussaca apreciava o sexo masculino em geral...
TOCAIOA GRANDE
(Jorge Amado)

Episódio Nº 99


















Escapara a tempo graças ao bom Deus dos maronitas que para socorrê-lo lançara mão mais uma vez dos bons ofícios de Zezinha, arvorada à condição de anjo da guarda.

Dado a enormidade do perigo, a rapariga não se contentara com aparecer-lhe em sonhos como o fizera na ocasião de Aruza; viera em pessoa salvá-lo da desonra.

Zezinha sabia muito e contou com sobras de detalhes as andanças da viúva antes e depois de enterrar o morto e chorar-lhe os chifres. Dando nome aos bois, um ror de afortunados.

A diversos ele conhecia, fácil seria comprovar a veracidade dos enredos se assim o desejasse, mas Fadul já não tinha dúvidas a esclarecer.

Depois, no cabaré, Fuad Karan acrescentara novos dados, referira circunstâncias curiosas, ampliara a lista dos galãs.

Cidadãos os mais diversos se atropelavam na caudalosa crónica da cabocla. Ninguém poderia acusar Jussara de preconceituosa em matéria de homem: desde que vestisse calça e levantasse o pau merecia-lhe atenção e, ocorrendo circunstância propícia, levava-o para a cama.

Fuad Karan, erudito, resumira: Jussara sofre de furor uterino, meu Fadul, não há jeito a dar. Fogo no rabo, confirmava Zezinha, não há macho que apague.

Se os amores da moça Aruza e do bacharel Epitácio do Nascimento dariam para compor narrativa de profundo sentimento e alguma sacanagem conforme se escreveu, o romance dos derriços de Jussara exigiria volume alentado, digno da pena de Bocácio, na opinião abalizada de Fuad Karan, cujo vicio maior era a leitura, seguindo-se as mulheres e o jogo.

Livro chistoso e picante, de sentimentos fáceis e sacanagem grossa, de enganos e desenganos ao qual não faltariam contudo episódios emocionantes como a patética tentativa de suicido de Bebeto Passos, estudante em férias.

Jussara apreciava o sexo masculino em geral mas revelava preferência pelos jovens rapazolas, adorava adolescentes, não dispensando junto a si em permanência, sempre à mão, um pajem bem escovado.

Kissimak! - rugiu Fadul recordando o serelepe, Fuad solidarizou-se com a indignação, subscreveu o xingamento. No seu tempo - dele Fuad, pois também navegara naquele mar de escolhos - o pajem era um molecão taludo e atrevido, petulante caga-sebo.

 Kissimak! Praguejaram juntos.

Jussara Ramos Rabat, personagem secundário na história de
Tocaia Grande onde passa a cavalo e se detém contadas horas - não cabe aqui o relato de suas incontáveis aventuras: moça solteira, senhora casada, viúva em busca de novo marido que se ocupasse da Casa Oriental e do jardim de cornos, ai, pobre de mim!

Jussa Pobre-de-Mim; o furor uterino a consumi-la, fogo no rabo a daná-la, pajem à disposição - por um triz não foi dona Jussara Ramos Abdala.

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