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Richard Dawkins |
Porque Existem
as Pessoas?
É
com esta pergunta que Richard Dawkiins inicia o seu livro “O Gene Egoísta” cujo
argumento é de que nós, e todos os restantes animais, somos máquinas criadas pelos nossos genes sendo que, cada
gene, constitui a unidade fundamental da hereditariedade.
Os milhares de gerações que nos
precederam deixaram como herança o resultado das suas acções e a sua
constituição biológica, às quais devemos a nossa própria existência.
Em cada novo dia que se abre para o
mundo, tudo depende de quem está vivo e do exemplo que transmitirá a quem
nasce.
A nossa história está escrita nos nossos
genes e nas nossas acções. Sobre os primeiros a nossa capacidade de intervenção
é escassa, sobre as segundas é quase total, se formos pessoas livres.
Nunca como neste momento da vida da
humanidade tivemos os meios para fazer da Terra um jardim ou um deserto, para
tornar a nossa vida agradável ou infernal e fazer a história hoje é fazer esta
escolha.
É bom recordar que aquilo que nos torna semelhantes é preponderante
comparativamente com o que nos torna dissemelhantes.
A variedade com que nos apresentamos
em relação à cor da pele, forma do corpo, linguagem e cultura tem apenas a ver
com a capacidade de enfrentarmos a mudança e de nos adaptarmos a ambientes
diferentes e desenvolvermos estilos de vida originais que têm sido a melhor
garantia para o futuro da nossa espécie.
A vida inteligente de um planeta
atinge a maioridade quando, pela primeira vez, compreende a razão da sua
própria existência.
Se criaturas vindas do espaço algum
dia visitarem a Terra, a primeira pergunta que farão, para se aperceberem do
nível da nossa civilização, será: “Eles já descobriram a evolução?”.
Os seres vivos existiram na Terra sem
saberem porquê durante mais de 3 biliões de anos, antes da verdade ocorrer a um
deles.
O seu nome foi Charles Darwin, embora
outros, antes dele, também tenham suspeitado da verdade; mas foi Darwin quem,
pela primeira vez, construiu uma explicação coerente e defensável da razão da
nossa existência.
Devemos a Darwin podermos dar hoje
uma resposta sensata à criança que, pela sua natural curiosidade, nos formule a
pergunta com que R. Dawkins inicia o seu livro.
Já não temos que recorrer à
superstição quando confrontados com os problemas de fundo: Há um sentido para a
vida? Para que existimos? O que é o Homem?
A teoria da evolução está hoje tão sujeita
à dúvida quanto a teoria de que a Terra gira à volta do Sol e as suas
implicações ainda estão para serem completamente compreendidas embora ela toque
todos os aspectos da nossa vivência social como: o amar e o odiar, o lutar e o
cooperar, o doar e o roubar, a nossa ganância e a nossa generosidade.
Muitos autores interpretaram a
evolução como se ela se processasse a favor da espécie, ou do grupo quando, na
verdade, ela procura servir o indivíduo ou o gene. É com este objectivo que a
evolução opera.
Tal como os gangsters de Chicago, os
nossos genes sobreviveram, em alguns casos, durante milhões de anos, num mundo
altamente competitivo e por isso, é natural esperar deles certas qualidades e
uma dessas qualidades, apontada por R. Dawkins, é a do seu egoísmo implacável o
qual, geralmente, originará um comportamento individual egoísta embora, em
circunstâncias especiais, um gene possa atingir melhor os seus próprios fins
egoístas manifestando-se, ao nível do comportamento individual, por um acto de
altruísmo.
Por exemplo, a picada das abelhas
obreiras é um comportamento defensivo muito eficiente contra os ladrões do mel,
mas as abelhas que picam são lutadoras kamikaze porque no acto da picada os
órgãos internos vitais da abelha são arrancados do corpo e ela morre pouco
tempo depois.
A sua missão suicida poderá ter salvo
a reserva de comida da colónia mas ela já não estará presente para colher os
benefícios e, deste ponto de vista, e pelos nossos conceitos, este acto é um
comportamento altruísta.
Mas, por muito que gostássemos de
acreditar no contrário, o amor universal e o bem-estar da espécie como um todo
são conceitos que, infelizmente, não têm sentido do ponto de vista evolutivo.
Se desejarmos construir, e essa
deverá ser sempre a nossa preocupação, uma sociedade na qual os indivíduos
cooperem generosa e desinteressadamente para o bem-estar comum, não poderemos
contar com a ajuda da natureza biológica.
Tentamos ensinar generosidade e
altruísmo exactamente porque nascemos egoístas e por isso, há que compreender o
que pretendem os nossos genes egoístas para tentar frustrar-lhes as suas
intenções.
Convém, no entanto, esclarecer que as
características herdadas geneticamente não são, por definição, fixas e
inalteráveis.
Por outras palavras, os nossos genes podem
programar-nos para sermos egoístas mas nós não somos obrigados a obedecer-lhes
durante toda a vida, simplesmente, essa desobediência, ser-nos-à mais difícil
do que se estivéssemos programados geneticamente para sermos altruístas.
Nota - A nossa biologia pode não nos ajudar mas a inteligência pode salvar -nos levando-nos a perceber que a cooperação e o bem estar comum constituem a salvação da humanidade. O EI (estado Islâmico) e as suas práticas de morte indiscriminadas mostram ao mundo, pela negativa, qual o caminho certo.
Nos dias de hoje, este era um exemplo impensável do caminho para um suicídio colectivo e aprova de que a loucura humana continua a existir e organizada pode tornar-se temível mas é má de mais para poder triunfar.
Não serve a ninguém com o mínimo de legitimidade, está condenada ao fracasso e a fazer vítimas. Em termos civilizacionais é um retrocesso e uma aberração. A humanidade já foi longe de mais para a poder tolerar.
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