sábado, novembro 29, 2014

Tu tá maluco Zé Pedro?
TOCAIA GRANDE
(Jorge Amado)



Episódio Nº 111


















No silêncio, deu um passo em frente, cuspiu no chão:

- Nove homens se borrando de medo.

- Vagabunda nenhuma me chama de medroso... - Ofendeu-se o outro cabra até então calado.

Andou para Bernarda disposto a meter-lhe a mão no pé do ouvido, para lhe ensinar respeito e consideração mas desistiu ao escutar a advertência do velho Gerino:

 - Tu tá maluco, Zé Pedro?

Os jogadores de ronda que haviam suspendido as apostas voltaram aliviados a traçar as cartas sebentas do baralho. O velho abrandou a voz para dirigir-se a Bernarda.
Chefe dos cabras designados para montar guarda ao barracão, não demonstrou ter-se ofendido com a acusação da rapariga: ninguém que o conhecesse poderia acoimá-lo de covarde.

Não se esquecia ademais de que a falastrona era pessoa do capitão Natário: se o cabra tivesse ousado, nem Deus o salvaria.

Gerino considerava-se responsável pelo cacau e também pelos homens às suas ordens.

 - Fazer o que, Bernarda? Me diga que eu não sei. Nós não tem nada a ver com esse embeleco. Nós é pago pra guardar o cacau do Coronel, se eles vier pra cá vão comer fogo, é pra isso que nós ganha. Só pra isso.

 - Mas tão roubando a venda e diz que vão agarrar as mulher a pulso e passar a geral em nós, uma por uma.

 - Nós não tá aqui pra garantir mercadoria de turco nem boceta de mulher-dama. O que é que tu pensa? Que isso aqui é uma cidade? Isso aqui é uma tapera com uma bodega, quatro putas e com nós no barracão do Coronel: é cada um por si e Deus por todos.

Se tu quiser, fica aqui com nós que nada vai assuceder.

Caminhou até junto à porta onde Bernarda estava aflita e
tensa e lhe disse sem rancor:

 - Mas se tu não quiser ficar, se arresolver se matar pelo turco, pode ir. Nós não sai daqui. Se eles vier nós ensina eles com quantos paus se faz uma cangalha. A gente só tem uma vida e uma morte pra gastar.

7

Nem nas gavetas e prateleiras nem nas tábuas grossas do balcão - onde diabo o turco excomungado enfurnara a ourama?

Ali também desmontaram tudo, coisa por coisa, trabalheira cansativa e inútil.

 Há de estar em alguma parte, reafirmara Manezinho impondo-se à pressa dos comparsas: à bebedeira de Janjão desejoso de regalar-se com o fiofó da negra; aos temores de Chico Serra receoso de um ataque de surpresa dos vaqueiros.

Onde diabo? Nos sacos de farinha, de feijão, de milho?

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