Tu tá maluco Zé Pedro? |
TOCAIA GRANDE
(Jorge Amado)
Episódio Nº 111
No silêncio, deu um passo em frente,
cuspiu no chão:
- Nove homens se borrando de medo.
- Vagabunda nenhuma me chama de
medroso... - Ofendeu-se o outro cabra até então calado.
Andou para Bernarda disposto a meter-lhe
a mão no pé do ouvido, para lhe ensinar respeito e consideração mas desistiu ao
escutar a advertência do velho Gerino:
-
Tu tá maluco, Zé Pedro?
Os jogadores de ronda que haviam
suspendido as apostas voltaram aliviados a traçar as cartas sebentas do
baralho. O velho abrandou a voz para dirigir-se a Bernarda.
Chefe dos cabras designados para montar
guarda ao barracão, não demonstrou ter-se ofendido com a acusação da rapariga:
ninguém que o conhecesse poderia acoimá-lo de covarde.
Não se esquecia ademais de que a falastrona
era pessoa do capitão Natário: se o cabra tivesse ousado, nem Deus o salvaria.
Gerino considerava-se responsável pelo cacau
e também pelos homens às suas ordens.
-
Fazer o que, Bernarda? Me diga que eu não sei. Nós não tem nada a ver com esse
embeleco. Nós é pago pra guardar o cacau do Coronel, se eles vier pra cá vão
comer fogo, é pra isso que nós ganha. Só pra isso.
-
Mas tão roubando a venda e diz que vão agarrar as mulher a pulso e passar a
geral em nós, uma por uma.
-
Nós não tá aqui pra garantir
mercadoria de turco nem boceta de mulher-dama. O que é que tu pensa? Que isso aqui é uma cidade? Isso aqui
é uma tapera com uma bodega, quatro putas e com nós no barracão do Coronel: é
cada um por si e Deus por todos.
Se tu qui ser,
fica aqui com nós que nada vai
assuceder.
Caminhou até junto à porta onde Bernarda
estava aflita e
tensa e lhe disse sem rancor:
-
Mas se tu não qui ser ficar, se
arresolver se matar pelo turco, pode ir. Nós não sai daqui .
Se eles vier nós ensina eles com quantos paus se faz uma cangalha. A gente só
tem uma vida e uma morte pra gastar.
7
Nem nas gavetas e prateleiras nem nas
tábuas grossas do balcão - onde diabo o turco excomungado
enfurnara a ourama?
Ali também desmontaram tudo, coisa por
coisa, trabalheira cansativa e inútil.
Há de estar em alguma parte, reafirmara
Manezinho impondo-se à pressa dos comparsas: à bebedeira de Janjão desejoso de
regalar-se com o fiofó da negra; aos temores de Chico Serra receoso de um
ataque de surpresa dos vaqueiros.
Onde diabo? Nos sacos de farinha, de
feijão, de milho?
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