quarta-feira, dezembro 03, 2014

A "Múmia Paralítica"












É uma pena o Presidente que temos e eu estou à vontade para me queixar porque nunca votei neste homem para coisa nenhuma, embora ele se tenha sabido “vender” aos portugueses como o de maior confiança a merecer em quatro vezes estar à frente dos nossos destinos, primeiro como chefe do governo e mais tarde como Presidente da República.

Costuma dizer-se que “o povo é sábio” e talvez isto fosse verdade quando não havia tanta manipulação mas, com ela ou sem ela, pode dizer-se que a insistência na sua escolha reflecte aquilo que somos colectivamente na nossa capacidade de avaliação crítica em resultado de uma profunda e generalizada convicção religiosa que tolheu os espíritos e os manteve agarrados a dogmas difíceis de ultrapassar, sendo certo que a abertura trazida pela “revolução dos cravos” foi mais traumatizante do que esclarecedora e convincente.

Esta nova geração, a dos meus netos, está felizmente fora deste cenário da pressão religiosa e de analfabetismo, mas debate-se com questões de sobrevivência de um estilo de vida que lhes foi prometido e apontado por uma sociedade de consumo que os quer no mercado com poder de compra para que a “máquina” possa continuar a funcionar.

Cavaco Silva teve na sua vida de político uma única e grande preocupação: defender dissimuladamente os seus interesses e os da família, objectivo que estando certo para o cidadão comum não deve ser o guia de um político que conduz os destinos de um país.

Claro que a história o vai julgar naquele distanciamento que inclui o futuro que agora desconhecemos, mas a vida faz-se com o presente e é o “agora” que interessa para desenhar o tal futuro que seja o melhor para o país e não para o senhor Cavaco e sua família.

E olhando agora para a situação em que nos encontramos a sensação que eu tenho, após a eleição do Secretário-Geral do Partido Socialista e a aprovação do Orçamento de Estado para 2015 é que vamos ficar numa espécie de ante-câmara de um novo governo que só chegará lá para o fim do próximo ano, num compasso de espera que faz lembrar o ditado muito conhecido de que “nem o pai morre nem a gente almoça”.

Os tempos dos próximos anos que se aproximam vão exigir uma grande qualidade política e alguns consensos sobre aspectos fundamentais porque estamos confrontados com uma realidade financeira asfixiante numa crise económica nacional e europeia que representam, no todo, o maior desafio que já vivemos ao nível da nação que somos e do espaço europeu que é também o nosso.

Seria importante que esta ante-câmara em que o país vai entrar em 2015, livre do Ricardo Salgado que era o “dono disto tudo” e com o fenómeno da corrupção em grande contenção – os tempos que correm não são bons para ela – fosse diminuída com eleições legislativas mais cedo.

Cavaco Silva já disse que o governo irá até ao fim do prazo porque ele não faz avaliações políticas para além daquelas que são as suas “almofadas de conforto”, como agora se diz, e todos nós temos já obrigação de o conhecer suficientemente para sabermos que é assim.

Sem conhecer o resultado das próximas eleições iremos viver de conjecturas que serão uma autêntica perda de tempo com uma política de “bate-papo” que se vai basear nos ses. Se António Costa ganhar... se não tiver maioria absoluta... se os partidos da coligação ganharem com maioria... sem maioria... enfim, irá haver ensaios para todos os gostos.

Entretanto, o Sr. do Palácio de Belém, no seu papel de múmia paralítica, assistirá com o seu ar seráfico, próprio das múmias, que o tem acompanhado e com o qual se tem dado muito bem, aguardando o seu momento de passagem a uma reforma dourada que se aproxima a passos rápidos.

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