É a vida...
“Mais Além…”
Todas
as religiões dão resposta à questão do sentido da vida e da história e oferecem
– e esse é o seu principal atractivo – a certeza de uma realidade “mais além”
da vida que conhecemos, de uma vida que transcende a morte. No Judaísmo
clássico essa realidade chama-se “ressurreição”, enquanto que no Cristianismo
fala-se de “vida eterna” e no Islamismo “paraíso”.
A Última Fronteira
Na cultura de muitos povos não
cristãos a morte é recebida com uma naturalidade que o Cristianismo esqueceu.
Os egípcios tinham uma visão formosa da morte: morrer era chegar à outra
margem. Nessa viagem o “pássaro alma” elevava-se na direcção do sol perpetuando
a sua existência na imagem do deus Osíris.
Em alguns povos índios
norte-americanos, não só se aguardava serenamente a morte como também se saía
ao seu encontro. Quando as pessoas sentiam no seu corpo que a morte estava a
chegar, despediam-se dos familiares e amigos, afastavam-se do acampamento e
sentavam-se sós à espera da morte, invocando-a e assim, antes que a morte
física chegasse, já eles tinham disposto o seu espírito, dizendo adeus,
morrendo para tudo o que era a sua vida.
Na cultura cristã, tão influenciada
pela filosofia ocidental, centrada no “eu” o medo da morte é lógico, porque na
morte o nosso “eu” se dissolverá e nós não conseguimos imaginar uma
continuidade da nossa vida sem uma continuidade do nosso “eu”.
O atractivo das religiões está
precisamente no facto de elas prometerem a solução no futuro e essa solução no
futuro inclui a permanência do “eu”. Por outro lado, ao ter-se separado da
Natureza o ser humano, ao fazer-se uma dicotomia tão profunda entre o corpo e o
espírito, a cultura cristã rodeou a morte de negatividade e até de terror.
Uma perspectiva alternativa,
verdadeiramente cristã, deveria fazer-nos ver a morte como uma fase indispensável,
natural, do processo da vida, uma meta presente em todos os processos vitais.
A morte é um sinal de que a Natureza
domina a vida individual e quando o ser humano não se sente ligado à mãe
Natureza ou sente-se superior a ela, com direito de domínio, receberá a morte
como um destino imposto de fora, como algo triste, mais que triste, tétrico.
Os dogmas católicos da Ascensão de
Jesus aos céus e a Assunção de Maria, sua mãe, a esses mesmos céus, tentam equi librar a arreigada ideia católica do desprezo
pelo corpo, estabelecendo um privilégio especialíssimo para, pelo menos, dois
corpos humanos.
Assunção: Um Dogma de Fé
A tradição de um Deus “acima”, habitando no céu longínquo, é central na doutrina oficial católica. Em Novembro de 1950, Pio XII, falando “ex-cátedra”, na sequência da doutrina papal do século anterior, que era falar infalivelmente – proclamou o dogma da Assunção de Maria “ao céu” com estas categóricas palavras:
- “Declaramos, promulgamos, e definimos que é um dogma
divinamente revelado que a Imaculada Mãe de Deus, Maria Sempre Virgem, ao
terminar a sua vida terrena foi levada à glória celestial em corpo e alma.
Portanto, se algum se atreve (Deus não permite) a negar voluntariamente ou a
duvidar do que foi definido por nós, será definitivamente afastado da fé divina católica”.
NOTA
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