Também eu vesti uma farda, lutei num exército e desfilei em paradas mas se hoje disser em público que combati em África ou que lá perdi uma perna quando uma mina rebentou debaixo do meu Unimog, ou de lá vim traumatizado, ninguém olha para mim com respeito, admiração ou reconhecimento e muito menos me faz a continência.
Isto vi eu num espectáculo público nos EUA com um
jovem soldado americano que tinha estado no Afeganistão e se apresentava em
palco para cantar perante mais de mil pessoas.
Parece que afinal o povo americano sabe distinguir a
presença de um jovem seu no Afeganistão numa missão de paz perigosa daqueles
outros que sem culpa, há anos, faziam uma guerra injusta no Viet Nam, injusta e
inútil tal como a nossa em África.
Agora o meu país já não é avaliado pelo que os
portugueses fizeram ao longo da sua história, passada e muito menos recente.
Não, nos tempos que correm, somos avaliados num
ranking, temos uma marca, a Marca Portugal que, pelos vistos nada tem a ver com
os portugueses da minha geração.
O melhor mesmo é esquecer ou assobiar para o lado
relativamente àqueles 13 anos durante os quais, destacamentos militares, uns
atrás dos outros, seguiram, primeiro para Angola, depois Guiné e Moçambique.
De um deles desembarquei eu, no Cais da Rocha Conde de
Óbidos, do paquete Vera Cruz, vão fazer no próximo mês de Março, 50 anos.
Comissão feita, dever cumprido.
Meio século depois o melhor é mesmo não falar nisso
para não desenterrar coisas desagradáveis que podem estragar algum negócio em curso
da filha do Presidente de Angola, José Eduardo dos Santos, que ao tempo em que
eu combatia nas matas da terra dele, fazia na antiga União Soviética, a sua
formação no Instituto de Petróleo e Gás de Baku, prevendo já que essas riquezas
lhe iriam cair nas mãos.
Há mesmo quem insinue, os nossos vizinhos espanhóis, aqui ao lado, sempre prontos para a alfinetada, que
se está a assistir a um reverso da história. Ontem colonizámos nós, hoje
colonizam eles. Uma espécie de vira do Minho, em que “agora viro eu e depois viras
tu”.
A vida foi o que foi, para mim está quase passada, o
meu país como sempre, ao longo da sua história, foi vítima de si próprio, ou
melhor, dos erros dos seus dirigentes políticos.
Destes que estão lá agora, Passos Coelho/Paulo Portas,
dupla famosa pelas suas concepções neo-liberais, o que mais me irrita ou melhor,
entristece, é a alegria e a convicção com que assistem e dão corpo a tudo isto
que nos está a acontecer.
Para eles, não é uma fatalidade é uma finalidade.
Quando vendem uma empresa pública por ordem da troyka não lamentam, cantam
vitória mesmo quando o dinheiro se perde na voragem da Despesa Pública sem que
vejamos os benefícios. É essa a sua política.
Eles não dizem aos portugueses: “fazemos isto porque
somos obrigados a fazer, não temos outra alternativa”. Não, esta é a sua
política, um Estado despojado de tudo: Correios, Águas, Energia, TAP, etc...
tudo.
O Estado é uma cambada de corruptos e de
incompetentes, não sabe gerir nada, preferível mesmo é entregar tudo aos
privados onde proliferem as pessoas aptas e honestas. Não vêm o que se passa
com as empresas Públicas dos Transportes?...
Finalmente, um governo do meu país, teve a coragem de nos
“chamar” aqui lo que somos:
incapazes, incompetentes, desonestos, aproveitadores de cargos de cargos
públicos... venham os chineses, os angolanos, quem nos colonize, quem faça aqui lo que não sabemos fazer.
Devemos estar gratos à troyka por nos obrigar a fazer
o que entendemos que deve ser feito...
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