Ele sente-se um revolucionário |
Alexis Tsipras
– O Revolucionário
Tenho lido e ouvido descrições do que é, neste momento, a situação dos gregos. Dramática, a roçar os limites da sobrevivência em centenas de milhar de casos com a agravante de que muitas dessas pessoas não têm na sua vida experiência de sem pobres.
Vêm da classe média, são instruídas, tinham um emprego,
normalmente nos Serviços e caíram, progressivamente, numa situação de total
desamparo, sobrevivendo da caridade social.
Não têm dinheiro para nada, andam a pé, comem uma refeição por dia
numa instituição de apoio social que ontem servia quarenta e tal almoços e hoje
quatrocentos e muitos de pior qualidade que os outros.
Na casa em que vivem, que é delas e onde se mantêm porque,
felizmente, uma lei não as deixa penhorar, já não têm luz eléctrica cortada há
muito por falta de pagamento. Substitui-a uma vela comprada com a ajuda de
alguns amigos dos tempos em que tinham emprego.
Nas suas vidas não há nada, já não são novos, falta-lhes
experiencia na pobreza, estímulos para lutar, em boa verdade não sabem, a verdadeira
vontade é deixarem-se morrer.
As pessoas à volta são como fantasmas, ou serão elas? - cinzentas,
indiferentes, irreais. A sociedade faliu, a família ignora-as porque também não
as pode ajudar, nas suas dificuldades cresce o egoísmo.
No passado, o seu povo contribuiu com a maior das dádivas para a
humanidade: o pensamento científico e a democracia e elas sabem-no e por isso
sentem orgulho, por isso mais lhes dói a situação em que se encontram.
Alexis Tsipras chega ao poder e sente a raiva escondida pelas
humilhações de todos aqueles, que sendo gregos como ele, roubaram e enganaram
os compatriotas colaborando com os estrangeiros em actos de pura espoliação. Os
gregos das elites, os que usam gravata, a mesma gravata que ele recusou pôr no acto da posse...
O país está como que a saque, os governantes que eles substituíram
até os sabonetes das casas de banho levaram...
Ele é engenheiro mas, mesmo analfabeto que fosse, sabe que uma impossibilidade elementar da vida em sociedade é de que não se pode dar o que não se tem,
distribuir uma riqueza que não existe, que não é produzida em quantidade
suficiente, mas olha à sua volta e não consegue resistir aos concidadãos maltratados,
de mão estendida para ele, uma réstia de esperança...
Sente-se credor da Europa, da Alemanha, do mundo, sente-se
revoltado... sente-se revolucionário.
A Europa criou no seu seio um grave problema. Ela própria é um problema.
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