Quando um país como a Alemanha consegue vender metade do que produz e dessa metade, dois terços é para a Europa, não se pode dizer que não esteja numa situação confortável.
Se acrescentarmos a isto o facto de ser ela o
verdadeiro reduto de poder na Europa estribada em Tratados e Acordos concebidos
e feitos à medida dos seus interesses, é muito difícil pensar que, para além de
pequenas cedências, alguma coisa de substancial em termos de mudanças se
consiga obter nestas negociações dos gregos.
Num mundo globalizado de grandes espaços parece ser
consensual que uma Europa unida à volta do Euro representa uma vantagem para os
países que fazem parte dela.
Todos parecem ter entendido isto porque, para além dos
seis países que inicialmente conceberam o projecto da União, com preocupações
viradas principalmente para a paz, sejam hoje 28 os Estados que a compõem, 19 na zona Euro, e todos se
foram juntando voluntariamente a pedido, em alargamentos sucessivos,
constituindo agora um mercado de 320 milhões de pessoas.
A Alemanha é sem dúvida o motor que comanda esta
enorme comunidade servida por realidades muito distintas do ponto de vista das
suas economias, e não só, que foram pensadas como complementares umas das
outras em função das suas próprias vocações.
Alguns especialistas chamaram a atenção para os riscos
e inconvenientes deste processo mas ele apresentou-se como aliciante com
vantagens evidentes de curto prazo impossíveis de não ver como uma dinâmica de
enriquecimento que acabava por beneficiar todos.
Entre nós, foram esses os bons tempos dos governos de
Cavaco Silva quando o dinheiro entrava no país, vindo de Bruxelas á razão de 1
milhão de euros por dia.
A Grécia foi puxada para esse mundo de maravilhas sem
cumprir critérios, com contas aldrabadas mas a União não podia passar sem ela
por razões históricas, culturais, políticas e estratégicas.
A poeira foi, entretanto, assentando e quando em 2008
se deu a falência do Banco Lemon Brother nos EUA e arrastou em efeito dominó os
bancos europeus, percebeu-se que o mundo financeiro era um mundo falso e que
grande parte dele não estava ao serviço da economia mas da grande especulação.
Funcionavam como casinos onde nada se produz mas onde
se ganham e perdem fortunas. Tudo possível com a conivência silenciosa dos políticos
que não regularam a actividade e protegeram os cidadãos, como era a sua obrigação.
Das consequências desse enorme desastre o projecto
europeu não conseguiu fugir e em última análise foi a economia, as empresas e os
trabalhadores que sofreram as consequências.
A Alemanha é um país de gente séria menos dada à
especulação e corrupção que a maioria dos restantes países do Sul da Europa.
É uma questão
cultural e religiosa que começou com Lutero quando este se insurgiu contra o
Papa de Roma a propósito da venda das indulgências para arranjar dinheiro para
acabar as obras da Igreja de S. Pedro.
De resto, a doutrina católica, com a remissão dos
pecados em que tudo se pode “lavar” com as confissões e comunhões favorece
aqueles que erram mas que logo de seguida podem ser perdoados pelo
arrependimento.
Os luteranos entendem que os que erram têm de sofrer
as consequências sem se poderem furtar a elas de formas subtis e engenhosas... e tudo isto ajudou a uma determinada mentalidade.
Mas os alemães defendem ferozmente os seus interesses,
têm um empenho especial na persecução dos seus objectivos e eu espero que não
seja até à morte... dos outros e deles próprios porque o barco em que estamos é
o mesmo.
A Alemanha está debaixo dos holofotes dos cidadãos europeus,
dos que votam, dos que elegem o Syriza, o Aurora Dourada, amanhã o Podemos, a Srª Le Pen,
como também elegeram os partidos que elegeram a Srª Merkel e há duas gerações
atrás, em contexto social diferente, elegeram Adolfo Hitler.
Os eleitores dos partidos do centro democrático que apoiam os actuais governos na Europa podem perder a confiança no projecto europeu e migrarem para os extremos. Esta pode ser uma consequência, a mais perigosa, da austeridade, do desemprego, do esboroar do estado social como está a acontecer, mais fortemente na Grécia com a crise humanitária que se vive.
Os eleitores dos partidos do centro democrático que apoiam os actuais governos na Europa podem perder a confiança no projecto europeu e migrarem para os extremos. Esta pode ser uma consequência, a mais perigosa, da austeridade, do desemprego, do esboroar do estado social como está a acontecer, mais fortemente na Grécia com a crise humanitária que se vive.
Há quem veja na actual política da Alemanha a 3ª
tentativa em um século para mandar na Europa. A mim, isso não me repugna, parece-me até inevitável. Eles têm vocação e força para mandar desde que... mandar não
seja dominar e o façam ouvindo os restantes parceiros europeus e em democracia.
É tudo uma questão de equi líbrio
e bom senso. Esticar demasiado a corda dos sacrifícios dos outros, para além de não
ser sensato é perigoso. Este é o meu grande medo.
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