sexta-feira, fevereiro 06, 2015

320 milhões de consumidores...
A Europa
















Quando um país como a Alemanha consegue vender metade do que produz e dessa metade, dois terços é para a Europa, não se pode dizer que não esteja numa situação confortável.

Se acrescentarmos a isto o facto de ser ela o verdadeiro reduto de poder na Europa estribada em Tratados e Acordos concebidos e feitos à medida dos seus interesses, é muito difícil pensar que, para além de pequenas cedências, alguma coisa de substancial em termos de mudanças se consiga obter nestas negociações dos gregos.

Num mundo globalizado de grandes espaços parece ser consensual que uma Europa unida à volta do Euro representa uma vantagem para os países que fazem parte dela.

Todos parecem ter entendido isto porque, para além dos seis países que inicialmente conceberam o projecto da União, com preocupações viradas principalmente para a paz, sejam hoje 28 os Estados que a compõem, 19 na zona Euro, e todos se foram juntando voluntariamente a pedido, em alargamentos sucessivos, constituindo agora um mercado de 320 milhões de pessoas.

A Alemanha é sem dúvida o motor que comanda esta enorme comunidade servida por realidades muito distintas do ponto de vista das suas economias, e não só, que foram pensadas como complementares umas das outras em função das suas próprias vocações.

Alguns especialistas chamaram a atenção para os riscos e inconvenientes deste processo mas ele apresentou-se como aliciante com vantagens evidentes de curto prazo impossíveis de não ver como uma dinâmica de enriquecimento que acabava por beneficiar todos.

Entre nós, foram esses os bons tempos dos governos de Cavaco Silva quando o dinheiro entrava no país, vindo de Bruxelas á razão de 1 milhão de euros por dia.

A Grécia foi puxada para esse mundo de maravilhas sem cumprir critérios, com contas aldrabadas mas a União não podia passar sem ela por razões históricas, culturais, políticas e estratégicas.

A poeira foi, entretanto, assentando e quando em 2008 se deu a falência do Banco Lemon Brother nos EUA e arrastou em efeito dominó os bancos europeus, percebeu-se que o mundo financeiro era um mundo falso e que grande parte dele não estava ao serviço da economia mas da grande especulação.

Funcionavam como casinos onde nada se produz mas onde se ganham e perdem fortunas. Tudo possível com a conivência silenciosa dos políticos que não regularam a actividade e protegeram os cidadãos, como era a sua obrigação.

Das consequências desse enorme desastre o projecto europeu não conseguiu fugir e em última análise foi a economia, as empresas e os trabalhadores que sofreram as consequências.

A Alemanha é um país de gente séria menos dada à especulação e corrupção que a maioria dos restantes países do Sul da Europa.

É uma questão cultural e religiosa que começou com Lutero quando este se insurgiu contra o Papa de Roma a propósito da venda das indulgências para arranjar dinheiro para acabar as obras da Igreja de S. Pedro.

De resto, a doutrina católica, com a remissão dos pecados em que tudo se pode “lavar” com as confissões e comunhões favorece aqueles que erram mas que logo de seguida podem ser perdoados pelo arrependimento.

Os luteranos entendem que os que erram têm de sofrer as consequências sem se poderem furtar a elas de formas subtis e engenhosas... e tudo isto ajudou a uma determinada mentalidade.

Mas os alemães defendem ferozmente os seus interesses, têm um empenho especial na persecução dos seus objectivos e eu espero que não seja até à morte... dos outros e deles próprios porque o barco em que estamos é o mesmo.

A Alemanha está debaixo dos holofotes dos cidadãos europeus, dos que votam, dos que elegem o Syriza,  o Aurora Dourada, amanhã o Podemos, a Srª Le Pen, como também elegeram os partidos que elegeram a Srª Merkel e há duas gerações atrás, em contexto social diferente, elegeram Adolfo  Hitler.

Os eleitores dos partidos do centro democrático que apoiam os actuais governos na Europa podem perder a confiança no projecto europeu e migrarem para os extremos. Esta pode ser uma consequência, a mais perigosa, da austeridade, do desemprego, do esboroar do estado social como está a acontecer, mais fortemente na Grécia com a crise humanitária que se vive.

Há quem veja na actual política da Alemanha a 3ª tentativa em um século para mandar na Europa. A mim, isso não me repugna, parece-me até inevitável. Eles têm vocação e força para mandar desde que... mandar não seja dominar e o façam ouvindo os restantes parceiros europeus e em democracia.

É tudo uma questão de equilíbrio e bom senso. Esticar demasiado a corda dos sacrifícios dos outros, para além de não ser sensato é perigoso. Este é o meu grande medo.

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