Austeridade |
Austeridade
Parece óbvio que quando se gastou demais, para além dos rendimentos, e houve que recorrer a empréstimos a juros cada vez mais altos, até ao insuportável, depois, o que aí vem, parece óbvio, repito, é a austeridade.
Parece... porque há correntes que dizem que não, baseadas
nos resultados da austeridade aplicada em Portugal e mais ainda na Grécia.
A austeridade agrava a situação porque mina a confiança
das pessoas, faz diminuir o consumo que por sua vez, afecta a economia onde as
empresas, umas fecham, outras cortam com o pessoal, os salários baixam, o Estado
despede, corta nas despesas, muitas delas de carácter social o que dá lugar a
tensões e a situação torna-se num círculo vicioso. Quanto mais austeridade
maior a crise e por aí fora...
Mas então o que é óbvio não é verdade? – Como pode ser?
Para já, parece não ser correcto estabelecer paralelismo
entre o que se passa no seio de uma família e no Estado, o conjunto de todas as
famílias.
Se o rendimento de uma família normal começa a ser
insuficiente para as despesas do agregado e ela se vê obrigada a contrair empréstimos
e as despesas ficam ainda mais agravadas com os juros, ela terá que adoptar um
plano de austeridade.
Suponhamos que essa austeridade passa por um corte cego em
todas as despesas colocando em pé de igualdade a alimentação com outras
despesas, todas cortadas em 50%, por exemplo.
O chefe da família, que é o único que produz rendimentos –
é a economia – ressente-se dos cortes na alimentação, enfraquece e falta ao
trabalho e no fim do mês recebe menos ordenado. Em consequência, a situação
degrada-se ainda mais.
Numa primeira conclusão, os cortes não podem ser cegos,
feitos a eito, transversais. Devem ser selectivos, inteligentes, não perdendo de vista que a capacidade
de trabalho do chefe de família deve ser preservada.
Dá para entender, não é verdade?
Mas se a urgência do dinheiro e o seu montante são mesmo muito
grandes o que não se compadece com cortes selectivos?
- Há que fazer funcionar o factor tempo sem esquecer nunca
que aqui lo que é verdadeiramente
importante é preservar a saúde do chefe da família, aquele que produz a
riqueza.
Vejam agora isto à escada de um país, de um conjunto de países
como é a Comunidade Europeia, a actuarem num mundo de economia global em que se
pode produzir de tudo em qualquer parte do planeta com centros de especulação
financeira sempre à espera da oportunidade...
Tem que se lhe diga esta coisa da austeridade. Há grupos
de pessoas, especialistas, a estudá-la mas parece que inutilmente porque, na prática, o que se
faz é decidido pelos centros de interesse mais poderosos numa perspectiva de
curto prazo porque, com raras excepções, é sempre assim que acontece.
Hoje, as pressões para aqueles países que têm dinheiro o
gastarem e investirem para que os outros, os que não o têm, possam beneficiar é
enorme.
Mas a linha vai esticar até ao limite da ruptura que
acontecerá com a alteração ou ameaça de alterações de mudanças políticas
eleitorais profundas que, em democracia, substituem as revoluções e elas, as
eleições, vêm aí e nós estamos todos a aprender porque certezas ninguém as tem.
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