sexta-feira, fevereiro 20, 2015

Sorri ...  de quê?
Maria Luís













A nossa Ministra das Finanças, Maria Luís, teve ontem o seu momento de glória, à direita da cadeira de rodas de Shauble, apresentada por este como a representante de um país que foi um caso de sucesso na aplicação do programa de austeridade da responsabilidade da Alemanha.

Shauble ganhou. A sua política de austeridade imposta à Europa para a meter na ordem do equilíbrio dos Orçamentos foi um sucesso. A seu lado, silenciosos, todos os países vítimas dessa austeridade e um deles, Portugal, não se limita ao silêncio cúmplice, está presente com a sua Ministra das Finanças para se afirmar como uma das heroínas desse sucesso.

A destoar, apenas a Grécia mal comportada que insiste que a política de austeridade que lhe foi imposta, destruiu a sua economia, deu cabo da classe média e arrastou milhares de gregos para a miséria.

Maria Luís sorri, disfarçando a vaidade que lhe vai por dentro, ela que era apenas uma desconhecida Secretária de Estado do todo-poderoso Ministro Gaspar, esse sim, credenciado pela Europa como detentor do segredo do êxito da austeridade.

Falhou, foi de novo para as Instâncias Europeias deixando atrás de si uma carta a reconhecer que tinha falhado.

Avançou Maria Luís para o lugar pela simples razão que era da confiança de Passos Coelho de quem tinha sido professora e, por outro lado, estava por dentro das “contas” até porque já lá estava...

Três anos de Troyka foram ontem coroados como a chave do sucesso para a crise afirmada publicamente nas televisões da Europa pelo alemão Shauble com um país a seu lado para comprovar que ele estava a falar verdade.

Em Portugal, muitos portugueses que não estão esquecidos das humilhações que representaram os funcionários da Troyka, sentem-se envergonhados com aquela demonstração de vassalagem.

Era a dignidade de um povo com oito séculos de existência que estava em causa. Um país tutelado, com perda de soberania, que ali estava representado por uma senhora que sorria, orgulhosa, para o seu senhor.

O povo deste país sempre fez sacrifícios, a sua vida ao longo dos tempos, por erros crassos dos seus governantes, foi sempre aquilo que a sua história mostra: santos, heróis, aventureiros e um povo corajoso que sempre pagou o preço de todos os disparates dispersando-se pelo mundo e criando uma diáspora como não deve haver outra.

Mais uma vez, chegados como foi, a outra banca rota, sem dinheiro para pagar o funcionamento do Estado e sem ninguém que nos quisesse emprestar, entregamo-nos às cegas nas mãos dos credores com a surpresa de um novo governo, o do Passos Coelho, cuja ideologia era a dos próprios credores, mais ainda, tudo o que eles nos queriam fazer ainda era pouco... ajudou-nos o Tribunal Constitucional.

É sempre possível, sem grandes conhecimentos ou rasgos de imaginação, equilibrar as contas públicas de um país. Basta que desprezemos os custos sociais.

Salazar, em 1929, perante a bagunça que ia nas finanças conseguiu-o facilmente: aumentou os impostos, cortou nas despesas e montou a PIDE para o segurar no poder e os portugueses de então mergulharam na paz e tranquilidade do silêncio e da ignorância.

No Portugal da Maria Luís, que ela apresenta como um caso de sucesso, temos 598.581 desempregados inscritos nos Centros de emprego, realidade muitos mais, 200.000 fugidos dos seu país, aconselhados a ir embora pelo Chefe do Governo, uma geração dos 60/70 anos que funciona, a custo, como “almofada social” para filhos e netos e um estado social que na Saúde, Educação, Justiça rebenta pelas costuras... e uma economia a crescer menos.

Maria Luís, afinal, sorri... de quê?

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