A fidalga não era mais cabaço... |
TOCAIA GRANDE
(Jorge Amado)
Epidódio Nº 208
Tocaia Grande não passava de um ponto de
pernoite de tropeiros quando para ali ele viera, contratado para construir, em
regime de empreitada e de sociedade com Lupiscínio, a casa de madeira do Turco
Fadul Abdala que resolvera aposentar a mala de mascate.
Tendo se dado bem, ficara em definitivo,
gostava do lugar. Detendo-se em constantes temporadas nas fazendas próximas, contratado
para levantar barcaças, cochos e estufas, deixara crescer bigode e barba, podia
passar por gringo se qui sesse,
bastava engrolar a língua.
Bastião demorara-se na Fazenda Godinho,
mestre-deobras à frente da reforma da casa-grande, e por desfastio passara nos
peitos dona Maria Beatriz: a fidalga não era mais cabaço, o primo rico colhera-o
também por desfastio.
Não fosse assim e a prima pobre, já
trintona, ostentando um buço respeitável, sobraria intacta para os vermes.
Enrabichada, a dona qui s abandonar a cama e a comida que os primos lhe
forneciam por caridade - em troca ela se ocupava na arrumação da casa,
fiscalizava o trabalho das criadas e cuidava dos meninos - para ir viver com
Bastião sem exigir sequer papel passado, nem dar satisfação aos preconceitos, à
jactância, às merdices dos Morgados e Godinhos.
Bastião da Rosa desconversou, tirou o
corpo fora, não desejava apodrecer numa encruzilhada, vítima de tocaia, por
causa de mulher.
Atravessara o rio em companhia de Guido,
atendendo convite do velho Ambrósio e de José dos Santos para discutir sobre a
construção de uma casa de farinha: não reconheceu Diva ao encontrá-la
cavoucando a terra, enxada em punho.
Pensou que se tratasse de uma das filhas
de José dos Santos. Eram três, valendo cada uma delas por um homem disposto no
trabalho; duas ainda bem modernas e uma mais idosa, cega de um olho, Ricardina.
Nem por isso deixava de encontrar quem a
qui sesse: havia sido vista aos
trancos e barrancos com Dodô Peroba, um tipo meio pancada que viera parar
naquelas bandas ninguém sabe como nem por quê. Somente pelos passarinhos não
podia ser.
Encomendara uma cadeira de barbeiro a
Lupiscínio, no fiado, para pagar quando pudesse: dedicava-se a cortar cabelo e
a fazer barba. Segundo o capitão Natário da Fonseca, que se tomara seu freguês,
a cadeira de barbeiro de Dodô Peroba era uma prova a mais de evidência
alvissareira: Tocaia Grande ganhava foros de povoação adiantada.
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