E o luxo da casinha para as necessidades. |
TOCAIA GRANDE
(Jorge Amado)
Episódio Nº 207
Depois que a cerimónia terminou, a cadela e o
cachorro ficaram engatados um ao outro; Nando qui s
jogar água em cima deles para desatar o nó mas Castor não consentiu: deixe que
do resto a natureza se encarrega.
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Pode-se afirmar mal comparando que o
mesmo acontecera,
idêntico qui proquó,
com o ferreiro Castor Abduim da Assunção e a sergipana Diva, ao menos no que se
refere à maneira como ele a viu e ao modo como a tratou durante um ror de
meses, mais de um semestre, e da sua surpresa quando, num dia igual aos outros,
de súbito se deu conta da mudança.
Surpresa é pouco dizer para tamanho
impacto: uma revelação.
Um dia igual aos outros para o povo do lugar, não para o calçador de burros,
siderado. Tampouco para a moça, esqui va
e impetuosa que nem a cadela Oferecida ao entrar em cio e sangrar pelos lábios
inchados da vagina.
Essas e outras coisas singulares que nos reserva
a vida, enigmas, prodígios, maravilhas - a natureza se encarrega de explicar e
resolver. Assim ensinara o próprio Castor Abduim ao apressado Nando: não custa
repetir conceito tão provecto e sensato.
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Todavia quem primeiro se deu conta da
transformação de Diva foi Bastião da Rosa, pedreiro
afreguesado, cidadão de boa aparência, branco de olhos azuis, peça rara nas
paragens, de alta cotação junto às mulheres, xodó disputado entre as raparigas.
Das casas, ainda contadas, de tijolo e
telha, erguidas no Caminho dos Burros com materiais da olaria de Merência e Zé Luiz,
a de Bastião da Rosa - José Sebastião da Rosa - era de longe a mais vistosa e
confortável, o que se explica facilmente: trabalhando para si próprio,
caprichara na solidez dos alicerces e na perfeição do acabamento.
Paredes azuis, janelas cor-de-rosa com
parapeitos de madeira, calha por onde correr a água da chuva. E o luxo da
casinha para as necessidades, no qui ntal;
um buraco profundo e em cima dele uma caixa de madeira para nela o padecente se
sentar. Como nas casas de Taquaras e de Itabuna.
A primeira Latrina de Tocaia Grande,
conforto logo imitado por Castor e por Fadul. Coubera a Fadul porém a
iniciativa de fazer cavar uma cacimba atrás do armazém, antes mesmo do grande poço
que servia ao curral e aos tropeiros, benfeitoria do coronel Robustiano de
Araújo.
Casa grande demais para um homem
solteiro, murmurou-se em
Tocaia Grande que Bastião da Rosa pretendia se casar,
constituir família, correram boatos a propósito de noiva contratada em Itabuna,
cidade de onde ele procedia. Lá deixara fama de rapaz namorador, incansável
pé-de-valsa, destroçara corações de moças casadouras.
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