O Entrevistado |
A Entrevista
A sua candidatura a Presidente da República é
anunciada num dia e no seguinte surge a entrevista, publicada no Diário de Notícias,
que lhe é feita pela jornalista, afecta ao PS, Silvina Fresh.
Henrique Neto não é um candidato qualquer. Com quase
80 anos de vida o seu passado é inteiramente conhecido e notório porque a sua
voz discordante sempre se fez ouvir inclusive por se apresentar sempre nos
Congressos do Partido Socialista com moções controversas.
Começou a vida por baixo, a sua família sempre esteve
ligada à indústria vidreira e foi co-fundador da empresa Iberomoldes, uma das
mais importantes do mundo em produtos de moldes de plástico.
Entrou na política e foi parlamentar do PS entre 1990/95 mas a sua voz foi sempre crítica, não alinhada. Para isso ele dá uma
explicação que eu compreendo perfeitamente e partilho.
Quando vejo um jogo de futebol em que entra o meu
Sporting estou sempre mais atento aos erros da minha equi pa
do que aos do adversário.
Como ele diz: “Devemos ser mais exigentes com os
nossos filhos do que com os filhos dos outros”.
Esta frase dita por um político significa que
dificilmente ele poderia ter futuro dentro do PS onde, como em qualquer outro
grande partido político, a “regra omissa” é esconder estrategicamente os nossos
erros e apontar os erros dos outros.
Henrique Neto pretendeu ser uma espécie de “regenerador”
da vida interna do partido mas não resistiu à disciplina imposta pela defesa
dos interesses do grupo que devendo ser, naturalmente, de natureza política, essência
dos partidos, passam a ser a breve trecho, de carácter pessoal, de um grupo de
pessoas que unem esforços, em grande parte, para se manterem no poder e desfrutar
das benesses e prestígio que ele oferece.
A luta para se conseguir alcançar o topo da vida
empresarial é muito mais solitária e competitiva em que as alianças não são
propriamente compadrios. A competitividade entre as empresas é feroz, muitas
vezes de vida para umas e de morte para outras e a vitória e o sucesso quantas vezes efémero e fugaz.
Não foi o caso da Ibermoldes construída e assente em
bases sólidas e duradoiras por Henrique Neto.
Ele explica porque divergiu logo de Mário Soares
quando ele chegou do exílio. Neto pretendia uma união de forças de esquerda e
Soares foi fazer um partido só para ele, o Socialista.
Mais tarde, afastou-se dos “foguetes” da nossa entrada
no Euro porque em vez de festejarmos deveríamos estar de dentes cerrados numa
união de esforços numa ligação ao mundo a que historicamente sempre
pertencemos.
Estes dois casos dizem muito sobre o carácter de
Henrique Neto que explicam por um lado, o seu sucesso na vida empresarial e os
reveses na vida político-partidária, pelo o outro.
O projecto político ligado ao euro está em curso, até à
data com muitas razões de queixa, mas o processo não está encerrado.
Em política, as escolhas são sempre as mais difíceis a
tal ponto que só podem ser julgadas devidamente pela história mas uma coisa tem
de ser dita em abono da verdade, relativamente à construção da Comunidade
Europeia servida pelo euro: ele pretendia servir o objectivo da paz entre países
historicamente sempre em conflitos terríveis uns com os outros.
Esta finalidade é mais que louvável e ninguém, de boa
fé, lhe pode negar o mérito. Se não o vier a conseguir por questões de
instabilidade social provocada pelo egoísmo e falta de visão política dos países
mais importantes que determinam os destinos da Europa, os europeus terão
perdido uma oportunidade que dificilmente se voltará a repetir.
Gosto da personalidade frontal e honesta de Henrique
Neto muito pouco comum aos homens e mulheres da classe política partidária
portuguesa e tão pouco por eles apreciadas como se percebe pelas reacções à sua
candidatura.
Faz-me lembrar um pouco, por analogia, o salmão que
luta contra a corrente para poder chegar ao seu destino. Alguns conseguem-no,
outros são apanhados pelos ursos que os esperam esfomeados nas margens do rio. Henrique
Neto não lhes vai escapar...
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